tempos atrás, linda stone criou a expressão atenção parcial contínua [CPA] para descrever o processo de estarmos, o tempo inteiro, dedicando parte de nossa atenção a um monte de coisas. isso não é o mesmo que fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, por sinal; veja a diferença neste link.
isso não começou a acontecer por causa da internet, mas parece ser um comportamento essencial dos humanos e outros animais. pelo menos dos que sobreviveram, como espécie, aos seus predadores. se todas as zebras se concentrassem apenas no capim, nunca veriam o leão [a leoa] chegando e o resultado seria sempre fatal. idem para os humanos primordiais, caçando na floresta: um olho na caça, o outro na cobra, no escorpião, onça, etc.
há quem pense, por outro lado, que a quantidade e intensidade de atenção parcial contínua que estamos dando à periferia dos nossos interesses, especialmente aos fluxos de informação mediados pela rede [e, mais ainda, pela rede móvel] está criando um novo tipo de síndrome [!], a estupidez parcial contínua [ou CPS]. ao nos concentramos tanto no virtual-digital-móvel, estaríamos perdemos o senso para o mundo concreto que nos rodeia e, quase sempre, entrando em conflito com [partes d]ele. será?
exemplos não faltam: não lembramos mais de números de telefones [porque temos agendas nos celulares], não lembramos das senhas dos cartões [porque temos muitos e não anotamos na agenda…], colidimos com postes enquanto enviamos SMS, a ponto de londres estar experimentando acolchoar postes pra evitar que as pessoas se machuquem…
e isso sem falar de coisas muito mais sérias, dos “reply all” que causam confusões monumentais em grupos e empresas, até gente que morre e atropela e mata outros porque está usando o celular para enviar mensagens [ou colado no GPS] enquanto dirige.
o limite, até agora, parece ter sido estabelecido no começo de 2009 por um motorista de caminhão que matou uma família de seis pessoas na M6 inglesa: as evidências são de que ele estava usando um laptop e fazia pelo menos um minuto que prestava atenção parcial contínua, só que à estrada. o acidente chocou o país e pode ter sido um alarme para evitar situações ainda mais graves.
não custa nada lembrar que em breve teremos internet e celulares em todos os aviões mesmo aqui no brasil; espera-se que os pilotos, pelo menos, estejam prestando atenção –contínua- às coisas certas…