começou hoje, em cingapura, a robocup 2010, a edição deste ano do torneio mundial de futebol de robôs cujo objetivo [até 2050] é criar um time humanóide autônomo capaz de bater os campeões humanos. o blog já falou do assunto neste link e este texto é a continuação de nossa entrevista com marco simões, da UNEB, que está liderando em cingapura o time da UNEB [ele e mais adailton junior, bruno silva, juliana reichow, fagner pimentel, adriano veiga, josé grimaldo filho e josemar souza].
marco “virou” correspondente do blog na principal competição robótica mundial e está abaixo, lá pela ásia, segurando um dos robôs da classe MR, ou mixed reality, do time baiano.
a seguir, a continuação de nossa conversa.
meira: a "meta 2050", de um time de robôs humanóides ganhar da seleção humana campeã do mundo de então, deve ser levada a sério? que consequências colaterais ela poderá ter, daqui até lá, para robôs usados em "home care", saúde, fábricas, trânsito?…
marco simões: Eu penso que deve ser levada a sério. Na verdade já é levada a sério pelos milhares de pesquisadores e estudantes que fazem a RoboCup. Se será cumprida ou não, dentro do prazo ou não aí é difícil prever.
Eu costumo comparar esta situação com a do desafio do Xadrez considerado no século anterior como grande desafio para a inteligência artificial [IA]. No início da segunda metade do séc. XX, quando foi cogitada a possibilidade de um computador vencer um humano campeão do mundo de xadrez, certamente a maior parte das pessoas não levou esta possibilidade a sério, principalmente dadas as capacidades computacionais daquela época.
Talvez se considerarmos o mesmo hoje para o futebol de robôs, o fato se repita. Dada a situação atual, parece ainda bem distante a possibilidade da meta da RoboCup ser realizada. Se olharmos os jogos dos robôs entre si, embora possamos ver já algumas jogadas surpreendentes, não conseguimos imaginar ainda estes robôs atuais vencendo humanos, ainda que sejam apenas pernas-de-pau.
Mas quem acompanha durante alguns anos a RoboCup sabe que a evolução tem acontecido de forma considerável e que não é impossível que a meta seja atingida, mesmo que demore mais tempo do que o previsto. Mas o melhor é que, mesmo se a meta não for atingida, os benefícios para a humanidade virão de qualquer forma.
As pesquisas testadas no ambiente RoboCup irão gerar resultados que servirão para outros robôs autônomos. Por exemplo, na automação doméstica poderemos ter robôs capazes de limpar uma casa, lavar louças, roupas, arrumar, servir, cozinhar, etc. Poderemos ter os sonhados veículos autônomos, robôs capazes de executar tarefas de alta periculosidade, minimizando riscos à vida humana, dentre outras aplicações.
Todas estas aplicações podem ser fortemente beneficiadas pelos resultados das pesquisas testadas e validadas no ambiente da RoboCup, mesmo que aquela meta de 2050 não seja atingida.
SM: destas competências, quais estão presentes no desafio da robocup?
MS: A autonomia talvez seja uma das principais competências desenvolvidas na RoboCup. Um robô autônomo é capaz de tomar decisões visando atingir algum objetivo. Um robô autônomo não tem comportamento determinístico, ou seja, não repete um algoritmo conhecido e previsível como na computação convencional. Ele é programado para criar soluções para um determinado problema dado.
Para isto, utiliza métodos não determinnísticos da IA. No futebol de robôs, nunca os designers de um time poderão prever com certeza qual será o comportamento do adversário e, por isto, soluções determinísticas não têm boas chances de funcionar. Lidar com o imprevisível é o desafio tanto no futebol de robôs, quanto nas aplicações reais citadas.
Outra habilidade muito relevante é a coordenação entre equipes. No caso do futebol de robôs, como em várias aplicações reais, o problema é complexo demais para ser resolvido por um robôs apenas. Pode ser necessário uma equipe de robôs que, apesar de ter perecepções diferentes do ambiente em que estão inseridos e canais de comunicação limitados, devem agir de forma coordenada para atingir os objetivos coletivos da equipe. Esta área denominada sistemas multiagentes é um foco importante de desennvolvimento proporcionado pelo desafio RoboCup.
Mais recentemente, algumas modalidades da RoboCup como RoboCup@Home passaram a tratar de questões como interação humano-computador, especialmente a capacidade dos robôs em obter informações dos humanos através de um diálogo, como obedecer da melhor forma possível comandos de voz dados pelos humanos.
As habilidades de controle de articulações precisas e potentes o suficiente para executar os movimentos com maior perfeição são um desafio presente também na RoboCup. Em algumas situações, robôs precisam ter força para chutar uma bola, correr na maior velocidade possível, etc. Em outras, precisam ter movimentos precisos para fazer um drible, servir uma taça de vinho, ou estacionar um veículo.
Este balanceamento do controle bem como o desenvolvimento e novas articulações que permitam a execução destes e outros movimentos é uma contribuição relevante das pesquisas que compõem a iniciativa RoboCup.
amanhã tem mais. hoje é o dia de setup em cingapura, times reconhecendo o “gramado”… etc [clique na imagem abaixo para ver os detalhes]. assim que a coisa começar, a gente fala por aqui…