warren buffet, aquele que tem um toque de midas para investimentos, já foi um grande fã da indústria da notícia e botou seu dinheiro [e de seus investidores] em jornais. mas isso foi há muito tempo. recentemente, o oráculo de omaha disse que não investiria em nenhum jornal, sejá lá a que preço fosse. pra ter uma ideia do contexto de tal declaração, veja o gráfico abaixo, do SAI.
o emprego, nos jornais americanos, regrediu meio século, para menos da metade do seu auge na década de 80. o gráfico acima mostra dados de ninguém menos que o BLS, o bureau of labor statistics, responsável oficial pelos números de emprego nos estados unidos.
no brasil, estamos pra reviver o diploma obrigatório para o emprego [não necessariamente o trabalho] de jornalista. imagina-se que haverá muitos concursos e vagas na mídia oficial, porque o mercado do que se costumava chamar de mídia, especialmente jornais, não parece lá estas coisas.
para se ter uma idéia do futuro do jornalismo, e descartando a possibilidade de patrocínio, as contas do marketWatch apontam para uma renda média de US$0.02 por pageview, dos quais se acredita que 25% seja overhead. sem levar em conta os custos de infraestrutura para disseminação e conectividade, um jornalista que espere ter uma renda de US$40K por ano teria que ter 11.000 pageviews por dia de trabalho [ao redor de 250 por ano].
a conta não fecha nem em jornais de renome mundial como o new york times, segundo o marketWatch: o NYT teve 145M pageviews em novembro, o que dá menos de 4.000 pageviews por dia para cada um de seus 1.250 jornalistas. nos EUA, US$40K não é um grande salário; mesmo assim, se nem o pessoal do NYT chega perto de 11.000 pageviews por dia, lá, imagine aqui, onde nem banda pra isso temos, ainda.
no longo prazo, a menos que alguma coisa muito diferente esteja para acontecer, vai valer o princípio de pareto, a conhecida lei dos 80-20: 20% dos noticiários em rede terão 80% da disseminação e conectividade e 20% dos textos terão 80% dos pageviews. o resto irá para a lata de lixo da história, será escrito de graça, terá patrocínio de alguma forma… mas deverá estar fora do centro da economia da rede.
o que não significa que não será feito: um grande número de boas [e independentes] fontes de informação começa a ser financiado por grupos de interesse que querem ver certos pontos de vista debatidos abertamente. este é o caso de www.oeco.com.br, talvez o melhor conteúdo ambiental brasileiro, inicialmente patrocinado pela fundação avina e hoje pela fundação hewlett.
mas oEco não é um jornal, nem quer ser; tampouco é mídia oficial, nem cobra diploma de jornalista pra quem colabora com o site. oEco está situado depois da crise da imprensa escrita, falada e televisada. e pode ser um dos bons laboratórios pra se entender o futuro dos noticiários brasileiros.
pra fechar o ano, um jornal muito antigo: abaixo, o facsimile da primeira página do primeiro diário de pernambuco, de 1825, primeiro jornal da américa do sul e ainda imprimindo, diariamente, na assaz populosa cidade do recife. clique na imagem para vê-la em alta definição; vale a pena. e note que, lá no começo, se tratava de um “diario de annuncios”… exatamente o que vem sendo transferido, dia após dia, para a internet.