Este texto explora a dinâmica histórica das sociedades humanas por meio da metáfora da sanfona, um instrumento cuja oscilação entre expansão e contração reflete os ciclos de abertura democrática e fechamento autoritário que marcam a trajetória da civilização. Ao longo de milênios, desde as primeiras civilizações até o século XXI, observa-se um padrão recorrente: períodos de liberdade, diversidade e inovação (“ar” que enche o fole) são seguidos por crises que desencadeiam repressões violentas, concentração de poder e retrocessos (“esvaziamento” abrupto do fole).
A análise nos leva ao que parece serem três leis fundamentais:
- Lei da Inércia Social: crises agudas levam à busca por soluções autoritárias simplistas, mesmo em sociedades aparentemente estáveis;
- Lei do Escapismo Coletivo: o medo coletivo gera narrativas de culpa contra minorias ou dissidentes, alimentando intolerância e violência;
- Lei da Retroalimentação Autoritária: regimes repressivos se auto-reforçam, corroendo instituições e dificultando a retomada da democracia.
Através de exemplos históricos — da Roma republicana aos totalitarismos do século XX, passando pelas tensões contemporâneas da globalização —, o texto demonstra como essas leis operam em escalas locais e globais. No século XXI, a aceleração tecnológica e a interconexão exacerbam as pressões, tornando as crises mais sincrônicas e imprevisíveis. O caso brasileiro, detalhado no apêndice, ilustra como captura institucional, milícias e fundamentalismos religiosos reproduzem a dinâmica da sanfona, alternando entre promessas de inclusão e explosões de autoritarismo.
O artigo conclui que, embora os ciclos sociais sejam estruturais, sua intensidade pode ser mitigada por reformas institucionais, educação crítica e por mecanismos de participação que transformem crises em oportunidades de metamorfose social. A sanfona, afinal, não precisa tocar apenas melodias de colapso: consciência histórica e ação coletiva tornam possível recompor sua partitura para harmonizar liberdade, justiça e resiliência.
Palavras-chave: ciclos históricos, autoritarismo, democracia, liberdades, repressão, complexidade social, Brasil.
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