SILVIO MEIRA

o sistema eleitoral…

…e o resultado das eleições, até agora.

muito já se disse, aqui no blog, sobre o sistema eleitoral brasileiro, sua urna eletrônica e suas potenciais falhas de segurança. pra ver os últimos dois textos sobre o assunto, clique aqui [sobre o que aconteceu em alagoas nas eleições de 2006] e aqui [pra ler porque a OAB nacional não assinou, digitalmente, o software das eleições 2010].

olhando para os números, as eleições brasileiras são um sucesso de público: em menos de um dia e meio, segundo o TSE, 111.193.747 eleitores compareceram a exatas 400.001 seções, clicaram [se o eleitor não errou nada e votou em tudo o que tinha direito] umas 25 vezes por eleitor… o que levou a mais de dois bilhões e meio de dígitos capturados no processo eleitoral, e isso tudo foi totalmente apurado até 24 horas depois do fim da eleição.

eficiência é isso aí. já eficácia é o que vimos discutindo aqui há tempos. eficiência é fazer rápido; disso não temos dúvida, o TSE faz e fez na eleição 2010 até aqui. já eficácia é resolver o problema certo, da melhor forma possível… e é aí que tem estado a diferença entre os defensores do voto seguro e o TSE.

até aqui, que eu saiba, não paira nenhuma suspeita sobre o resultado das eleições em lugar algum. pelo menos em termos de suspeitas públicas. há sinais, aqui e ali, de manipulação de informação [como pesquisas infladas, com os suspeitos usuais], mas isso é externo ao processo de votação e apuração, apesar de estar regulado pela lei eleitoral. a urna e o sistema, segura ou insegura, nada têm a ver com isso. pelo menos à primeira vista.

tudo bem que um candidato poderia inflar seu nome nas pesquisas como ponto de partida para fraudar o sistema e fazer com que o “resultado das urnas” representasse o resultado das pesquisas. uns diriam que isso é muita teoria da conspiração para uma eleição só… e outros que não só é possível e provável mas que, caso aconteça, o tipo de sistema que temos [completamente fechado pelo TSE e impossível de ser verificado ou auditado externamente…] não possibilitaria que tal tipo de arranjo fosse apontado por fiscais independentes.

em são paulo, para dar uma ideia, a fiscal escalada por um partido para acompanhar a apuração [no TRE] ficou restrita a ver o que todos nós, sem credencial partidária, vimos: os resultados parciais sendo publicados, incrementalmente, na página da justiça eleitoral. o caso foi relatado à OAB paulista e se soma às dezenas que, na tentativa de escrutinar os escrutinadores, ficaram a ver votos –ou números que parecem muito com votos- pela rede.

mesmo que ninguém tenha –pelo menos que eu saiba- nada a levantar contra a lisura dos resultados das eleições 2010 até agora, resta a certeza de que, sem auditoria independente do processo e resultado eleitorais, não dá para ter certeza de que todos os votos dos eleitores foram contabilizados como digitados nas urnas. à comprovada eficiência do TSE, falta agregar um certificado de aprovada eficácia, o que só será possível quando se tiver muito mais transparência no processo do que temos hoje.

temos eleições a cada dois anos, numa espécie de corre-corre eleitoral onde sempre se poderá arguir que não é possível mudar o sistema porque não há tempo hábil. mas o sistema já foi mudado, mais de uma vez. e pode ser mudado de novo. até porque pode ser mudado de forma paulatina, escolhendo-se colégios eleitorais menores, a partir dos quais se prototipasse um sistema de votação aberto [taí um bom uso para as práticas de free/libre/open source software development…], validado, verificado, certificado e independentemente auditável.

nas palavras de uma autoridade no assunto, talvez isso só aconteça quando uma inevitável catástrofe eleitoral forçar o TSE a rever suas infundadas certezas de que o sistema é completamente eficaz e impossível de ser fraudado. por um lado, ainda bem que ainda não foi desta vez que isso aconteceu. mas há quem diga que, à medida que cada vez mais gente, dentro e fora do sistema, entende como ele funciona e quão frágil é o sistema de auditoria externa, mais razoável é supor que estamos nos aproximando daquela tal catástrofe que vai nos levar a revisar todo o sistema, de forma muito ampla e estrutural.

eu continuo achando –sem ter nenhuma preferência tecnológica por este ou aquele modelo- que nós não precisaríamos passar por isso. é só tratar o problema com uma boa dose de bom senso, construir uma comunidade de pessoas genuinamente interessadas ao redor de um processo livre e aberto para tratar o problema do sistema eleitoral que teremos, em pouco tempo, a eficácia [auditada e verificada] que já deveriamos ter associado à eficiência que, sabidamente, já temos.

Outros posts

smartX: as oportunidades e os riscos [4]

o gráfico a seguir [de gubbi, et al., em Internet of Things (IoT): A vision, architectural elements, and future directions] propõe uma linha do tempo

reflexos da crise: small PCs

por mais que se queira imaginar que não há um refluxo na economia mundial, a confiança decrescente dos consumidores americanos tem reflexos globais. na computex,

sustentabilidade: brasil à frente?

Uma pesquisa global da cone communications, que leva em conta dados do brasil, mostra que nossos consumidores são os que mais acreditam que suas ações

Das nuvens, também chovem dados

Há uns meses, falamos de Três Leis da Era Digital, inspiradas nos princípios de Asimov para a Robótica. As Leis eram… 1ª: Deve-se proteger os

Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

contato@tds.company

Rua da Guia, 217, Porto Digital Recife.

tds.company
somos um negócio de levar negócios para o futuro, nosso objetivo é apoiar a transformação de negócios nascentes e legados nas jornadas de transição entre o presente analógico e o futuro digital.

strateegia
é uma plataforma colaborativa de estratégia digital para adaptação, evolução e transformação de negócios analógicos em plataformas e ecossistemas digitais, desenvolvido ao longo de mais de uma década de experiência no mercado e muitas na academia.