SILVIO MEIRA

o software [meio bêbado?] dos bafômetros

quando se trata de motoristas alcoolizados, o brasil tem uma das mais radicais legislações do planeta. em algumas cidades, como recife, verdadeiros cercos noturnos estão sendo realizados, à cata de qualquer um que tenha bebido uma taça de vinho que seja. e não deve ser para menos: as dezenas de milhares de mortes por ano, no trânsito brasileiro, têm muito a ver com pé na tábua e álcool no sangue.

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descontadas todas as desculpas, inclusive as de quem acha que meia garrafa de vinho nem se leva em conta como álcool, na prática, no chile, argentina, frança e itália, e nem por isso, por lá, morre tanta gente no trânsito… o caso brasileiro talvez seja grave o suficiente pra gente radicalizar e depois, quem sabe, voltar atrás.

bem no centro da guerra contra o álcool na direção estão os bafômetros, aqueles instrumentros “de precisão” capazes de medir o teor de álcool no seu sangue em duas casas decimais. mesmo?

pois bem. um número de casos, nos estados unidos, está pondo em séria dúvida a capacidade dos breathalyzers [como são chamados os bafômetros por lá] realmente decidirem quem passou da conta ou não. no caso de uma das marcas de bafômetros, a dräger, uma revisão sistemática do software usado no aparelho detectou falhas que podem por em sério risco a validade dos diagnósticos do mesmo. segundo especialistas independentes, o software do bafômetro modelo 7110 da dräger… [shows ample evidence of incomplete design, incomplete verification of design, and incomplete “white box” and “black box” testing]… tem claras evidências de incompletude de projeto, verificação de projeto e de incompletude de testes. o bafômetro 7110 da dräger teria mais de dez falhas que comprometeriam, de forma radical, o resultado das análises feitas com o equipamento.

a dräger pode acabar tendo que devolver US$7M que o estado de new jersey gastou em seus bafômetros, e o estado pode ter que compensar em muitos milhões a mais as pessoas que condenou a penas diversas, baseado em evidências produzidas [literalmente] pelo bafômetro. isso se o judiciário de lá levar em conta as análises de software que ele mesmo solicitou.

e não é o caso de um único fabricante ter problemas: em minnesota, a CMI está toda enrolada com seu modelo intoxilyzer 5000 en, cujo software não quer submeter a uma análise independente para certificar se a coisa funciona como deveria e, se não, em que condições dá pau.

resumo? este é um caso bastante claro em que membros da sociedade podem incorrer em graves penalidades decididas, na prática, por um programa de computador. no brasil, se o bafômetro do policial à sua frente mostrar mais de 0,2g/l de álcool no sangue, você está em dificuldades. se a discussão que está rolando nos EUA tiver fundamento, deveríamos exigir uma verificação ampla, pública e transparente, ou de ampla aceitação pública, da funcionalidade e qualidade do software que é, de fato, o bafômetro, para melhorar as garantias de que não estamos sendo analisados por software defeituoso.

e isso é só parte do problema: hoje, é o software do bafômetro. amanhã, pode ser software em muitas outras coisas, tomando decisões sobre se você pode ou não trabalhar, ir ao parque, à escola, votar, procriar e por aí vai. eu e vocês todos vivemos em um mundo cada vez mais instrumentado por software; mas não é por isso que devemos, todos e pura e simplesmente, nos render a ele como se fosse um novo deus todo-poderoso. pois não é. e não deveria chegar a ser, nunca.

falando nisso, quais são as marcas dos bafômetros sendo utilizados no brasil e por quais testes, verificações e validações amplas, gerais e irrestritas eles passaram, em que condições? quantos dräger e CMI [além de outros com os mesmo tipos de problemas] estão nas ruas, por aqui?…

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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