esta semana aconteceu em paris o e-G8, encontro da galera que acha que manda no mundo pra discutir -na opinião de muitos, minha inclusive- como mandar na internet. sarkozy bateu o centro dizendo que "a internet era um território virgem, a ser conquistado"… e @jpbarlow, um dos fundadores da EFF, detonou de cara, no twitter: "e eu estou aqui justamente para impedir que isso aconteça". e depois foi dizer isso e muito mais em um painel sobre propriedade intelectual na rede. @lessig talvez tenha ido ainda mais longe, dizendo que "o futuro não foi convidado" para o e-G8. que aí se tornava uma reunião dos donos do mundo para continuar dominando o mundo.
em qual destes contextos [sarkozy+… ou barlow+…] o brasil seria, como o blog apontou no último texto, um e-leader global? tomara que estejamos lutando pelo cenário onde a rede está mais sendo construída, de forma paulatina, iterativa e experimental, do que sendo regulada, de forma quase sempre truculenta e burra, por desejos como o do presidente da frança que, neste tema em particular, tem seguidores a rodo ao sul do equador.
mas não adianta só torcer. tem que fazer o dever de casa. que tal a gente dar uma olhada nos dados que a mcKinsey apresentou no primeiro dia do eG8 [e que eu comento em áudio, na CBN, neste link]?
pra começar, o brasil foi incluído no estudo, o que é raro. a mcK considerou os BRIC [brasil, rússia, índia e china] e nove outros países. na soma destas economias, a internet já responde por 3.4% do PIB, como mostra a figura abaixo.
como o mundo está atrasado em relação aos principais países, estima-se que a contribuição da internet ao PIB global seja de 2.9%. entre 2004 e 2009, a internet respondeu por 21% do crescimento do PIB do dos países onde a rede já está bem estabelecida…
…e, nos países que estão atrasados, como nós, a contribuição foi evidentemente menor…
…e no nosso particular caso, a rede representou meros 2% do crescimento do PIB na meia década entre 2004 e 2009.
por que? ora, veja o gráfico abaixo…
…não é o que se espera de um candidato a e-leader global, não é? neste conjunto de países, somos penúltimos em capital financeiro e ambiente de negócios e os piores em capital humano e infraestrutura.
e aí fazemos o que? desistimos? não. precisamos entender que estamos diante de uma grande oportunidade e que, se acertarmos o passo, podemos usar a rede para muito mais do que conectar pessoas. porque o efeito colateral disso, se olharmos para o futuro, é um ecossistema muito mais rico para todos, de governo a indivíduos, passando por empresas e instituições de todos os tipos. mas a mudança é de grande porte: veja de onde vem a renda, na economia da rede, olhando para a economia dos países considerados…
…no brasil, rússia e itália, 100% das 250 maiores empresas consideradas no estudo [que neste ponto é discutível…] são de telecom. nada de hardware, internet ou software e serviços. china e coréia detonam em hardware e estados unidos e índia em software. nós, em telecom. neste setor, qual é a capacidade de geração de novos negócios inovadores de crescimento empreendedor? perto de zero: em telecom, tanto quanto em toda a economia de rede do brasil, não há qualquer empresa brasileira de classe mundial ou alcance global.
por que é que a gente deveria mexer neste cenário? olhe a imagem abaixo…
…que nos diz que países que têm um ecossistema de fornecedores de internet de classe global têm uma contribuição da internet ao PIB local muito maior do que os que são meros consumidores. óbvio, não é? sim… e para quem participa das discussões sobre o assunto, no brasil, é óbvio desde 1991, por ali, uns vinte anos atrás, quando o brasil começou a pensar nisso.
a diferença entre nós e os indianos [aqui, o PIB de internet é 1.5% do total; lá, 3.2%…] é que eles fizeram algumas coisas e se tornaram uma potência global de software. nós, não.
ainda dá tempo, você perguntaria? sim, dá. a dinâmica de inovação na rede é tão rápida que a gente sempre vai estar atrasado –e muito- se tentar seguir alguma tendência "atual", como muita gente aqui está sempre fazendo. uma delas, já se disse aqui no blog, é criar "mais um site de compras coletivas" para competir com os quinhentos ou mais que já estão por aí.
mas há esperança. mesmo quando os grandes temas nacionais da área são a fábrica da foxconn, a licitação 2/2010 do PNBL, de infraestrutura para a "bandinha" do brasil, para a qual uma "avaliação conservadora" do TCU diz que o "sobrepreço" foi de R$53,6 MILHÕES e quando há uma proposta que parece com uma reserva de mercado para fornecimento ao setor de telecom [no blog, neste link] sendo discutida lá na anatel, ainda há esperança.
aqui, a esperança é a última que morre. não deve ser à toa que a JWT temperou sua esperança no brasil como e-leader mundial com uma imagem do cristo redentor…