Um ditado popular entre quem estuda comportamentos na internet é que 1% contribui com alguma coisa, 90% [de quem chega a ter acesso] só lê [se tanto] o que se escreveu e 9% se engaja e participa do processo de criação de forma mais efetiva, comentando. serve pra vídeo, fotos, áudio… seria uma espécie de regra de pareto [80% de tudo, num mercado, é gerado por 20% de seus agentes] da rede. só que mais radical: 99% do conteúdo da rede é criado por 1% dos usuários… e os 9% que comentam, via de regra, não têm nada a dizer. ou estão tirando onda.
parece um exagero, mas a história deste blog [por exemplo] mostra que, quando a página central do terra publica um link pra cá [o que eu espero que não seja o caso neste post!…], a trilha de comentários sempre acaba em algum tipo de disputa que nada tem a ver com o texto… que a vasta maioria dos comentaristas sequer leu. de forma [talvez] um pouco exagerada, este link ilustra o problema, categorizando trolls que aparecem em textos sobre mudanças climáticas nos EUA. alguns deles são bem piores do que as mudanças em si [se vierem a ocorrer da pior forma…].
levando o assunto bem mais a sério, popular science, um dos mais antigos meios de popularização da ciência [141 anos “no ar”] resolveu matar os comentários de uma vez por todas. a razão?… Comments can be bad for science. That's why, here at PopularScience.com, we're shutting them off [comentários podem fazer mal à ciência; esta é a razão pela qual popular science os está silenciando].
a revista diz que uma guerra, politicamente motivada, abalou o consenso popular sobre uma grande variedade de tópicos validados cientificamente, no grito. quase tudo, de mudanças climáticas à evolução, está de volta ao terreno das hipóteses, e certezas científicas [verificadas, validadas…] voltam a ser objeto de debate na TV. ainda segundo a revista, como os comentários, nos sites e blogs, tendem a ser uma reflexão grotesca da mídia clássica e sua cultura, ocorre um processo de diminuir a importância da ciência, nos comentários de seu site, com o que os editores não podem concordar. daí o fim dos comentários. fim.
e a decisão tem fundamento científico, como mostra este paper sobre a falta de civilidade na retórica online e seus efeitos na polarização de percepções sobre dados e fatos científicos. aqui no brasil, aliás, várias clássicas de óticas esquisitas, de ignorância pura e simples a partidarismo cego [e não visão de mundo, opção de vida, filosofia ou política] contaminam a percepção e expressão online a ponto de tornar inviável uma ampla classe de debates na rede.
este blog [não sei se todos que passam aqui sabem] é escrito por um cientista [que é o deste link]. e este cientista sabe deste efeito há muito tempo. e também sabe, como o pessoal da popular science, que não adianta “batalhar” trolls que têm todo o tempo do mundo pra detonar textos e outros comentaristas. ao invés, a política, aqui, sempre foi de não se envolver e deixar que os próprios leitores descobrissem os trolls e os deixassem pra lá. funciona, só vez por outra que não, pelo menos aqui no blog… até porque o estilo é deliberadamente esquisito e quem não consegue ler do jeito que a gente escreve geralmente vaza antes de chegar nos comentários…
e vai continuar assim, liberdade geral: mesmo com o caos, vez por outra, aqui e ali, é bem melhor do que fechar os comentários pra todos e voltar quase ao tempo das cartas à redação dos jornais de gutenberg… aí não dá mesmo. um dia, lá no futuro, quando todos tivermos o mínimo de educação e cultura, haverá debates como os que esperamos que estivessem havendo hoje. é questão de tempo. o futuro nunca se engana…