Em 1987, stephen roach olhava para os dados sobre produtividade na economia americana e não conseguia encontrar uma relação entre o investimento em TICs e o aumento da performance dos trabalhadores que faziam uso de computadores nos escritórios. quase ao mesmo tempo, robert solow dizia que… you can see the computer age everywhere but in the productivity statistics… era possível ver a era da computação em todo canto, menos nas estatísticas de produtividade. um bom resumo da discussão da época, sobre o tema, está neste link.
computadores e TICs não foram um conjunto de inovações de fácil absorção pelas empresas. pra saber por que, imagine que você mesmo compra um PC, leva a coisa pra casa e liga na tomada. claro que não acontece nada, além do gasto de energia e geração de calor e ruído. é preciso instalar software, aprender a usar, desenvolver software de propósito específico [no caso das empresas], conectar à internet, ver quem mais está usando ou fazendo alguma coisa que lhe interessa e se ligar a eles… ou seja, há uma longa curva de aprendizado, combinada com investimento, antes que haja algum efeito real do PC na sua vida. ou da empresa. se houver.
ainda por cima, lá no começo das TICs nas empresas, e durante muito tempo, foi um compra-e-joga-fora que só vendo. as plataformas eram silos e havia dezenas de fábricas de computadores “empresariais” no mercado, de norueguesas [sim!] a inglesas, francesas, alemãs, brasileiras [também!] e, claro, americanas. cada um com suas peculiaridades e absolutamente incompatível com qualquer outro.
era um samba do bit doido: computadores da IBM só rodavam software IBM, da UNIVAC só o dela, e isso era verdade para cada uma. as empresas –literalmente- ficavam presas a um fabricante, suas especificidades e custos. altíssimos, por sinal. era uma época em que a dinâmica da economia [sistema financeiro, por exemplo] não podia mais prescindir do processamento de dados em muito larga escala, mas ainda não havia infraestrutura para tal. só pra dar uma ideia, fitas magnéticas com dados dos cheques depositados em recife iam para são paulo [por avião, todo dia], eram processadas lá e listagens com o novo estado de coisas, para todas agências, mandadas de volta, também de avião. imagine os custos. vi muita agência de banco praticamente parada porque “as listagens ainda não haviam chegado”…
o “paradoxo” de roach-solow parece que foi resolvido há tempos [ou não]: o investimento em TICs tem uma correlação com o aumento da produtividade das empresas, com a competitividade das economias e, mais recentemente e por um variado número de razões, torna pessoas mais eficazes e eficientes em um número de áreas [inclusive considerando, nas empresas, o tempo “gasto” em redes sociais].
mude o cenário para educação nos últimos 30 anos: neste período, o setor público e a iniciativa privada investiram muito dinheiro em TICs para ensino. mas onde é que estão as evidências de retorno deste investimento? os dados que nos dariam as evidências sobre melhoria dos processos de aprendizado, produtividade sistêmica [professores, administração…], sobre os resultados dos alunos… são escassos, isso quando existem em qualquer formato e quantidade. quase sempre, inexistem.
em alguns casos, como a OjE, um ambiente de redes e jogos para aprendizado, é possível mostrar uma correlação entre a participação e performance nos desafios e a melhoria dos resultados nas avaliações educacionais clássicas. e dados, lá, são coletados como parte do processo de forma sistemática. isso deve ser verdade em outros casos e ambientes, apesar de não haver muitos dados sobre o problema até agora. precisamos de mais medidas e dados, para muito mais casos, em muito mais lugares e ambientes, nos múltipos níveis de educação, para descobrir o que está acontecendo em função do que investimos e refletir sobre o que ainda precisa ser feito, como, quando, com quem, a que custo e para que.
a pergunta da hora é… será que estamos perto de resolver, agora, o paradoxo da produtividade de TICs na educação? se sim, quais são as evidências em escala? se não, o que falta fazer, quanto vai custar em tempo, mudanças, esforço e recursos? porque, até aqui, dá pra dizer que… é possível ver a era da computação em todo o sistema educacional, menos nas estatísticas de produtividade.
nas empresas, não foi fácil criar as pontes entre investimentos e resultado. escolas não são ambientes mais fáceis do que empresas, muito pelo contrário. a dinâmica empresarial permite muito mais objetividade do que o ambiente escolar e não vai ser fácil descobrir o que TICs estão fazendo por educação –de verdade- em lugar algum. qualquer um descobre, rápido, que os alunos estão muito mais dispostos a ver os vídeos da khan academy do que ficar hora após hora na sala de aula. até aí, nenhuma novidade. com tudo de mais interessante que existe fora da escola hoje, eu mesmo jamais frequentaria uma sala de aula de novo. só à força, amarrado…
mas, imaginando que o “software” da khan academy é, para a revolução de TICs no ensino, equivalente ao software que os computadores das empresas rodavam na década de 70… o que é mesmo que precisamos fazer, com TICs nas escolas –e fora, antes e depois delas-, para que o sistema educacional resolva o problema de nossos tempos, que é habilitar as pessoas a aprender, desaprender e reaprender, continuamente, a vida inteira?…