nunca se vendeu tantos PCs legais no brasil. a indústria “cinza”, como eram conhecidas as montadoras informais, que trabalhavam com placas e cpus “importadas” do paraguai e software pirata vindo da internet [e copiado das matrizes dos fabricantes] está reduzida à sua expressão mínima, resultado da queda dos juros e de políticas federais que levaram, às lojas, PCs completos e legais a menos de mil reais e em muitas prestações mensais. se o primeiro semestre sinalizar o ano, a indústria venderá perto de 12 milhões de PCs em 2008, um crescimento de 17% em relação a 2007. números chineses em pelo menos uma parte da economia brasileira, sinal de que estamos mesmo, pela via do próprio bolso, nos informatizando. legal.
ao mesmo tempo, a BSA [business software alliance] entidade que reúne os grandes fabricantes mundiais de software, dá conta de que a pirataria de software está caindo por aqui, cerca de cinco pontos percentuais nos últimos dois anos. isso dá uma estimativa de 59% de software não licenciado rodando no país, causando um prejuízo de US$1.61B aos seus donos. ao mesmo tempo, um estudo comparativo entre o preço das licenças de software no brasil e nos eua [onde a pirataria afeta 20% dos programas, menor taxa do planeta] mostra que os brasileiros têm razões bastante objetivas para piratear software.
usando os preços de software da microsoft, no brasil e nos eua, em relação ao PIB per capita, gustavo duarte mostra que uma suite de software de negócios, aqui, custa quase vinte vezes mais do que nos estados unidos, enquanto a suite para casa custa quinze vezes mais. pirataria vira, neste caso, aritmética pura. para as diferenças de preços, as razões são muitas, da menor escala do mercado e maiores custos de distribuição à fúria arrecadatória que caracteriza o fisco nacional. o usuário, neste caso, deixa de ser contribuinte, em muitos casos por instinto de sobrevivência: se o preço fosse razoável, a loja da esquina até que pensaria em comprar software legal pra tudo o que faz. pela hora da morte, nem pensar. até porque, como o lojista sabe, a fiscalização dificilmente vai chegar lá.
já passou da hora de se tentar diminuir a pirataria de software jogando a batata quente na mão dos usuários. mesmo em países ricos e educados como a inglaterra, estudos mostram que o público consumidor define o que acha o preço justo para bens e serviços digitais… e tudo que foge da norma é objeto de muita pirataria. o que significa que a indústria de software tem que começar a tratar seriamente o problema da pirataria, por aqui, também a partir do ponto de vista -e de custo, e bolso- da redução do valor das licenças e, depois, do modelo de negócios.
e isso é pra já, enquanto ainda há licenças e receitas recorrentes a partir delas. porque a indústria de software como licença está sendo rapidamente [ainda bem] substituida pela de software sob demanda e como serviço… e esta mudança parece ser inexorável. não está muito longe o dia em que o único software no seu e no meu lado da internet vai ser um browser, dentro do qual vamos rodar tudo o que queremos [veja, por exemplo, youOs]. até lá, e enquanto os custos não caírem pra perto do poder aquisitivo real do público, as tentativas de acabar com a pirataria vão ser muito menos eficazes do que seria uma revisão das bases de negócio e custo do software para seus usuários… muitos dos quais, pelo menos por enquanto, não têm a menor intenção de se tornar consumidores.