pizza: imprima a sua!…

olha só o título do artigo científico: Hydrocolloid Printing: A Novel Platform for Customized Food Production, de cohen et al., todos da universidade de cornell, nos EUA. o nome diz a que vem: uma plataforma para produção customizada de comida. na prática, uma impressora de comida, que usa tintas comestíveis para simular sabores e texturas.

por que você usaria isso? primeiro, porque [no longo prazo] vai dar pra imprimir muita coisa que parece com comida real. se você não tiver muito jeito com as panelas, é capaz de qualquer coisa impressa nesta sua nova impressora ficar [muito] melhor do que o que você tentaria no fogão. depois, porque é só fazer o download da receita e mandar imprimir: comida como serviço. você não pede a comida o restaurante e ela chega na sua casa de moto: a receita vem pela rede e é impressa, quentinha e sob demanda, na sua casa.

por último, estas coisas vão começar a ficar baratas o suficiente para se tornarem realidade nas cozinhas, sem que o dono precise ser um milionário fanático por curiosidades tecnológicas. a curto prazo, estamos falando de menos de R$2000 por impressora. danado, como é o caso das impressoras normais, vai ser [será?] o preço da tinta. se for alguma coisa com açafrão, então…

abaixo, uma pequena obra prima da mais nova impressora de cornell: um bolo que mostra as iniciais [da sua amada?] quando é cortado.

3d-printer-bread,L-G-309220-13

 

pense nas possibilidades. em tese, dá pra desenhar [literalmente] qualquer comida [quase literalmente] e imprimi-la em qualquer formato, sabor, cor, textura… descortinando um mundo absolutamente novo de experiências culinárias e gustativas.

3-d printer, cornell, cornell creative machines lab, printing food, stochastic printing, French Culinary Institute, food

a manufatura digital direta [ou fabricação de formas livres sólidas] é resultado de um conjunto de técnicas, métodos e processos que vem sendo aperfeiçoado desde os anos 80 e que vai levar a uma nova cultura e espaço de construção de todo tipo de objeto, tornando cada sala ou garagem numa fábrica em potencial. e cada cozinha, pelo visto, numa miríade de espaços culinários.

todos os objetos da imagem abaixo foram criados por uma “impressora 3D” e você pode descobrir muito mais sobre eles e o que está por trás deles e do futuro deste tipo de tecnologia clicando neste link.

as possibilidades são muitas, podem revolucionar indústrias inteiras e criar novas, estabelecendo no processo uma verdadeira cauda longa para átomos, em escala e complexidade tão interessante quanto já é possível para bits.

num certo futuro, é capaz de se poder imprimir uma pizza de verdade em casa, a partir de princípios básicos. como? em 1999, quando o milênio passado acabava, o jornal da tarde me pediu um texto longo sobre o que viria a ser o milênio da informação, este nosso. o texto está abaixo e, lá no fim, com a usual ingenuidade e esperança que o fim de um milênio e o começo de um novo ensejam, está minha receita [ou desejo] para uma imprezzora de pizza. afinal de contas, não custa nada sonhar. até porque esta impressora de cornell é só… um simulador de comida. boa leitura.

_._._._._._._._._

O próximo milênio vai mudar a face do planeta ainda mais radicalmente do que tudo o que já vimos até agora. Na minha esperança, para melhor: talvez, daqui a mil anos, consigamos retomar um pouco do equilíbrio que o planeta tinha há dois mil anos. Leva mais tempo pra limpar a sujeira da humanidade do que para reestruturar a economia…

Boa parte das surpresas e mudanças dos próximos 100 a 200 anos, pelo menos, deverá estar associada à informação e sua geração, processamento e disseminação. As tecnologias para tal têm uma história de milênios, desde os sumérios usando tabletes de barro para armazenar registros de transações, perto de 4.000AC, passando pela invenção do ábaco ao redor de 3.000AC, na Babilônia, até a álgebra para lógica, de George Boole, em 1854, que ainda serve de base para a computação moderna.

Alguns indícios do que está por vir já podem ser encontrados em eventos científicos programados para o ano 2000, um dos quais, organizado por Aaron Sloman da University of Birmingham, discutirá “como projetar uma mente humana”. No subtítulo, diz que é para propósitos de entendimento ou de engenharia… O professor Sloman trabalha com “cérebros são processadores?” e “por que máquinas podem amar?”. Por trás da aparente heresia, estão conceitos baseados em agentes autônomos reflexivos, sistemas computacionais que agem como que por vontade própria e que têm uma noção deles mesmos (daí o “reflexivos”).

Este tipo de pesquisa passa por definições simples de entender, como as dos quatro (só?) tipos de máquinas universais: as que manipulam força e energia; as que manipulam matéria, reorganizando-a; as que transformam o estado físico da matéria e, finalmente, aquelas que tratam informação. Cada um de nós seria, de fato, uma máquina composta por muitas máquinas dos quatro tipos, organizada em torno de pelo menos três camadas: a de reação (a condições externas e internas), a de deliberação (que cuida do planejamento e tomada de decisões) e a de meta-administração, onde estão os processos que supervisionam e controlam as outras.

Parte dos argumentos usados por alguns pesquisadores, hoje, leva à conclusão de que humanos são, primordialmente, máquinas manipuladoras de informação e, como tal, possivelmente replicáveis. E sem precisar de corpos como os nossos servindo de suporte físico à rede de processamento de informação. Assim, seria possível construir uma mente humana daqui a algum tempo.

Ray Kurzweil, em seu livro The Age of Spiritual Machines (só sai no ano 2000), lista uns números esquisitos: ele estima que, em 20 anos, um microcomputador tão poderoso quanto um cérebro humano, incluindo nossos 125 Gigabytes de memória, sairá por uns 1000 dólares. Caso tal profecia se concretize, as possibilidades seriam muito interessantes: poder-se-ia “transferir” a capacidade de manipulação de informação de um ser humano para uma máquina? Poderíamos aprender russo simplesmente instalando o “driver” daquela língua? Poderíamos virar software?

Difícil dizer. Sloman, Kurzweil e suas idéias têm adversários ferozes e o debate sofre de falta de racionalidade, dado que muitos ainda creditam o aparecimento do homem (e da mulher) à obra divina. Mas o certo é que algumas das mais fundamentais crenças sobre a superioridade humana poderão ser seriamente desafiadas já nos próximos 100 anos. Imagine daqui a 1000!

Aqui na Terra, por enquanto, há questões urgentes a resolver, nos primeiros anos do próximo milênio. O que virá depois de Windows e/ou Linux? E depois da Microsoft? E dos processadores da Intel? E da própria Intel? O que virá depois de TCP/IP? Ou melhor, de que processadores e protocolos dependeremos para administrar uma Internet com dezenas de bilhões de processadores? Das respostas a esta questão, nos próximos dez anos, depende a operação da rede.

E quais serão os padrões de computação e comunicação dos assistentes digitais pessoais móveis? Eles foram aclamados um dia destes, em Las Vegas, como os que nocautearão a Microsoft, como se houvesse uma luta pelo título mundial de informática num daqueles cassinos macarrônicos…

É interessante como cada geração de tecnologia cria suas companhias e, ao mesmo tempo, é criada por elas. As que dominam um mercado ou que defendem seus produtos contra os novos competidores, acabam -ou têm acabado- perdendo tudo no fim das contas. Procure, para começar, a Burroughs, Univac, Data General, Digital e ICL.

Na década de 80, quando a Sun não existia e só -ou quase- as máquinas da Digital rodavam Unix, eu tive certeza de que a próxima IBM seria a fábrica dos históricos PDP-11. Aí vieram as estações de trabalho e o PC, que seria feito, depois, também pela Compaq, que comprou a Digital, não pelo mercado ou máquinas que ela produzia, mas pelas pessoas e pela propriedade intelectual e conhecimento do mercado que elas detinham.

Hoje, Intel e Microsoft lutam para defender seus domínios e, avisadas, tentam reconstruir-se, diuturnamente, para o futuro, inclusive comprando quase tudo e todos que possam vir a ter alguma importância. O problema é que seu presente é passado (vide Windows com DOS por baixo, ou a linha de CPUs da Intel) e seu futuro, no mais das vezes, está muito perto: na indústria dominante, hoje, poucos trabalham para 2010, quase ninguém para 2020.

Não que eu e outros o façamos e o futuro seja nosso. Mas algumas coisas fora das empresas mais faladas do mundo podem ser gratas surpresas em menos tempo do que esperamos. Um exemplo é Joseph Jacobson, do MIT, fazendo transistores sobre plástico, usando impressoras pouco mais sofisticadas do que uma jato de tinta comum. Jacobson imprime componentes cujos limites teóricos são centenas de vezes mais densos do que os construídos numa fábrica de chips moderna (fab, na intimidade) e que tolerariam velocidades acima de 1GHz.

Para uma impressora que custaria algumas dezenas de milhares de dólares e que poderia ser usada numa sala normal, contra os bilhões de dólares necessários para construir uma fab, é bacana. Criaria também a possibilidade de qualquer um de nós ir na copiadora da esquina e imprimir um componente, talvez de nossa criação… ou que compramos pela rede! Chips por e para todos não está longe: acho vamos ter isso antes de 2020. Um jornal, como o que você lê, poderia “vir” cheio de chips… imagine as possibilidades! Como o jornal-celular-tv-rádio-agenda com smart card…

Perto de 2010, Stanley Williams da Hewlett-Packard acha que teremos dificuldades em continuar aumentando a densidade dos componentes como eles são projetados e construídos hoje. Pelas contas dele, uma fab decente vai custar uns US$30bi para montar, o que poderia inviabilizar a produção de componentes ultra-densos e velozes. Williams está trabalhando na possibilidade de construir componentes (processadores, memórias) 1000 vezes menores (mais densos) do que os hoje existentes usando… processos químicos.

A pesquisa de Williams e outros, como Eric Drexler (do Foresight Institute) e C. H. Bennet (da IBM) envolve computação e medidas quânticas, associadas a sistemas que se constróem por si próprios, coisas do domínio da nanotecnologia, que inclui desde robôs que não podem ser vistos a olho nu até sistemas computacionais tão pequenos que seriam biodegradáveis.

Os primeiros poderiam saber como limpar placas de colesterol e, injetados em solução, passariam o tempo andando pelo seu sistema venoso, decompondo gordura. Os últimos poderiam ser usados para pulverizar nuvens, coletar e transmitir dados da mesma para bases em terra, cair junto com a chuva e, depois, degradarem-se no ambiente.

Parece exótico? Tem muita gente apostando nisso, para construir sistemas micro-eletromecânicos (MEMS, em inglês), que deverá ser a próxima grande coisa feita com silício, o material básico a partir do qual fazemos computadores, hoje. Também chamados de matéria esperta (smart matter), estes dispositivos serão a base da próxima onda da informática.

Até agora, presenciamos duas ondas, ou gerações, de computadores. Na primeira, tivemos a revolução dos processadores, a partir dos primeiros sistemas eletrônicos digitais ingleses e americanos montados logo depois da II Guerra Mundial. Os computadores desta geração eram mainframes clássicos: não eram bons em comunicação e não estavam ligados em rede.

O processamento era por lotes: num banco, todas as transações do dia eram digitadas e processadas à noite e voltavam, pela manhã e como listagens, para a agência. Visto de outra forma, quando você ia ao banco, falava com o caixa, que se relacionava com o funcionário que usava o computador… a computação estava atrás do balcão. Tal foi o caso, mais ou menos, entre 1950 e 1985.

Na segunda geração, a revolução foi das comunicações. A primeira fase foi a dos terminais, redes privadas de arquitetura fechada e redes locais do tipo cliente-servidor (onde algumas máquinas maiores auxiliam o trabalho de muitas menores). Os centros operacionais do banco falavam entre si, as transações ficaram mais leves e ágeis e o caixa do banco passou a usar um terminal ou micro para nos atender. A computação veio para o balcão e o intermediário, que operava o computador para o caixa, desapareceu; mas o caixa sabia tudo sobre nós. Sigilo zero, entre 1985 e 1995.

A segunda fase da revolução das comunicações é a que estamos vivendo, desde o início da Internet comercial, em 1995, um dos marcos do fim deste milênio. As redes abertas, às quais se pode conectar qualquer computador, por mais rudimentar, associadas a clientes universais, os browsers, criam um ambiente no qual podemos fazer funcionar qualquer sistema de informação, por mais complexo que seja. Isto levou a computação para depois do balcão, tirando a intermediação do caixa em nossos negócios bancários e outros. Mas ainda temos que usar PCs, terminais bancários e coisas muito grandes para carregar no bolso e que gastam muita energia.

A terceira fase desta revolução vai levar computação diretamente ao usuário, onde ele esteja, seja lá que tipo de dispositivo use. Do celular, pager, agenda, do jornal impresso junto com chips e antenas de comunicação, mais cedo ou mais tarde vamos poder usar qualquer sistema de informação, bancos, rádio, jornais, sistemas de comércio, bolsas de valores, qualquer hora, em qualquer lugar. Achar festas na noite, comprar a entrada enquanto se vai para lá, guiar o carro pelo mapa que vai vir junto com o ingresso, isso dá para começar a fazer agora. Daqui a 10, 20 anos, dê asas à sua imaginação.

Mas o novo milênio vai iniciar, com impressoras de chips, MEMS e dispositivos ultra-miniaturizados e de grande capacidade de processamento, a revolução e a era dos sensores e atuadores (da sensação, dos sentores). Eles estarão em tudo, não só nos computadores como percebemos hoje: porque serão minúsculos, baratos, poderão ser fabricados (impressos?) por quase todo mundo, em quase qualquer lugar.

Vai ser um mundo muito interessante, onde a marca da laranja será um sentor que me dirá se ela está madura, doce e quanto tempo faz, a despeito da propaganda do feirante, que ela saiu do pé. A não ser que… ele também imprima os selinhos, programe-os… Certamente passaremos por uma redefinição do que significa informação confiável e segura.

Nos carros, haverá sentores às centenas: desde termômetros e controladores de pressão dos pneus (e que deles fazem parte: ao jogar o pneu fora, lá se vão seus sentores), até os que funcionam como alertas de todos os tipos. Em breve, haverá um conjunto que decide se seu “teor alcóolico” lhe permite dirigir ou não. É a multa ideal, pois nem lhe deixa correr riscos nem expõe o público àquelas oito doses a mais que você tomou.

Nas casas, farão parte das portas, janelas, pisos, utensílios e equipamentos domésticos, de tudo. Se forem baratos e flexíveis como os preconizam os laboratórios, não vai haver como se esconder dos danados. Ando desconfiado, pois, que Pokémon é um coletivo-apronto, em software, para a realidade, em hardware, que os sentores estão a nos aprontar para o futuro.

Uma coisa que aparentemente não vai rolar nem tão cedo, aparentemente porque depende de teleportação, ou transmissão quântica de matéria, é minha última idéia, a impressora de pizza. Explico, antes, que não se trata de uma impressora comum, modificada para imprimir relatório de CPIs. É algo que produziria pizzas mesmo… Como?

Simples: pizza de verdade é feita em Nápoles, que os radicais garantem ser único lugar no mundo onde se faz pizza. Em Nápoles, pois, haveria um Internet Pizza Server, no qual poderíamos “comprar”, por exemplo, a receita da pizza alla Margherita feita por Raffaele Esposito, em 1871, para a princesa Margherita di Savoia. Talvez criem um Portable Recipe Format, PRF, na trilha de seu antecessor PDF, Portable Document Format, hoje usado para garantir que os documentos têm a mesma aparência em qualquer impressora. Depois de pagar, a receita -que ao ser usada, se auto-destrói- será transferida para o meu (ou seu) computador, que está conectado à… impressora de pizzas!

A imprezzora, uma elaboração da impressora de Jacobson, funciona como o laboratório de química de Williams e, a partir de um caldo primal de partículas elementares, faz tudo in loco, qual máquinas auto-montáveis de Drexler. Massa, tomate, manjericão e mussarela, de búfala. As primeiras versões da imprezzora vão ser lentas e só farão certas coisas, como pizzas, chopp e mousse de chocolate.

Apesar de uns alunos de doutorado daqui terem me garantido que não vai funcionar, porque leva jeito de teletransporte, eu sou mais Bennet. Riram muito quando ele criou o conceito de teleportação quântica, até que um experimento independente o provou correto, na mosca.

Enquanto minha pizza não chega, direto do séc. XIX, e talvez não chegue antes do séc. XXII, podem rir de mim o séc. XXI inteiro. Mas quando a margherita sair da imprezzora, não divido com ninguém. E, se tiver bugs introduzidos por Sloman or Kurzweil, se for uma pizza inteligente, abro uma CPI para investigar. Original, vai ser a primeira que já começará em pizza!

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Este é o quarto post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

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Este é o terceiro post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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é uma plataforma colaborativa de estratégia digital para adaptação, evolução e transformação de negócios analógicos em plataformas e ecossistemas digitais, desenvolvido ao longo de mais de uma década de experiência no mercado e muitas na academia.