…porque navegar é necessário, mas não é suficiente. este foi um dos temas de uma discussão na rio+20 neste fim de semana, no fórum de empreendedorismo social na nova economia, no auditório humanidade 2012 do forte de copacabana.
no painel, michel bauwens, o blog, ellen miller e ronaldo lemos tentaram entender o que TICs têm a ver com transparência e sustentabilidade. não é pouco. entre outros temas, falamos da redefinição do trabalho e seu valor [entre pares], colaboração para a construção de valores públicos [como foi o caso da proposição do marco civil para a internet no brasil], redes sociais para ensino e aprendizado [onde apareceu a OJE, a olimpíada de jogos digitais e educação] e do esforço americano para aumentar a transparência das várias facetas do governo. minhas anotações [feitas antes, em preparação para a discussão] estão na imagem abaixo. clique pra ver uma bem maior, em alta definição.
eu já havia participado de um outro debate, no mesmo espaço, na quinta passada, onde se discutiu “sustentabilidade e educação”, quando a minha intervenção foi [em parte] pautada por este texto daqui do blog. não é nenhuma surpresa que uma discussão sobre TICs, transparência e sustentabilidade leve, de novo e em boa parte, a um debate sobre educação. pra começar, eu errei [lá no debate] ao mencionar uma estatística sobre o estado da educação brasileira, ao dizer que 80% dos alunos da oitava série não sabe que 80% é o mesmo que 8 em cada 10.
não é. e é pior: segundo um estudo de 2009, 90% dos alunos do nono ano, a antiga oitava série, não sabe resolver problemas que envolvem porcentagem. e quase 70% dos estudantes do quinto ano não localiza a informação essencial de uma frase. daí, um esforço para aumentar transparência do governo, pela via da publicação de mais informação de interesse público, acaba tendo um impacto muito menor do que poderia ter, aqui, simplesmente porque a vasta maioria da população não consegue entender a discussão. ou, pior, o dado bruto.
no caso do brasil, o outro foco do debate, a construção de valor em rede, entre e por pares, passa pelo mesmo entrave. para ter uma ideia, pense no imbroglio envolvendo o banqueiro espanhol rodrigo rato: como “entender” que o lucro €328M do seu banco, em 2011, “virou” um prejuízo de €4.3B, evaporando 70% do valor da empresa em meses, deixando centenas de milhares de pequenos acionistas na mão?
aí tem. só que a reação, lá, não foi o usual “todos são ladrões”, do brasil, e uma gritaria para a polícia entrar em ação. 135.000 ativistas se articularam em rede e exigiram, de imediato, providências federais. outro grupo se organizou ao redor de uma plataforma de crowdfunding e levantou fundos, em 24h, para financiar um processo popular contra o banqueiro, pelas ações que faliram o bankia, que por sua vez, “faliu” a espanha. pra agir conscientemente é preciso entender, do cenário à situação especial onde cada um se encontra. foi isso que fizeram os espanhóis. é isso que muito mais gente, no mundo inteiro, precisa fazer.
e não se trata apenas de se articular e agir usando a rede que já existe, mas de programar a rede que ainda não há. sem esperar que “os outros” [quase sempre com seus interesses] o façam.
daí o título deste texto, na semana em que alan turing, o “pai” da computação –e da programação- completaria 100 anos [no dia 23 próximo]. a sociedade está se dividindo, cada vez mais, entre os que programam e os que são programados. entre os que entendem os códigos e os que estão apenas sujeitos a eles. o que quer dizer que –apesar de todas as dificuldades do sistema educacional- há que se fazer um esforço sobre-humano para criar oportunidades de aprendizado para programação, para a ciência e arte de desenhar e implementar os sistemas de informação que fazem funcionar desde o joguinho de seu celular até o motor do seu carro, passando pelo seu banco e o imposto de renda.
dentro de alguns anos, não entender como tais coisas funcionam e não ser capaz de usar suas interfaces para reprogramá-las [para atender suas necessidades ou delas extrair dados] será um problema tão fatal, para qualquer um, como não entender porcentagens. por isso precisamos trazer algoritmos e programação para todos, no ensino médio. em larga escala. mesmo que de forma ingênua, a princípio. não é tão difícil… e a maior parte do conhecimento básico é até mais simples do que saber a diferença entre o necessário e o suficiente.
o blog vai voltar ao assunto. se, antes disso, você quiser dar uma olhada no que é esta história de “programação”, mesmo que nunca tenha programado, tente as seguintes alternativas…
1. lúdica, muito usada para ensinar crianças: scratch. mesmo que você seja um adulto, esqueça este defeito e vá brincar; você vai fazer seus primeiros “projetos”, desenhos e jogos simples, muito rápido. o ambiente é mostrado na imagem abaixo, e não se “programa” escrevendo, mas “colando” ícones que representam ações e comandos da “linguagem”. a versão do ambiente é de 2009, mas a comunidade está viva e ativa, como você pode ver aqui.
2. fácil, interativa, pra todo mundo, que vai lhe dar uma boa ideia do que seria a “programação” por trás dos serviços que você usa na web, mesmo sem que você realmente “aprenda” a programar: codecademy. mesmo que você nunca tenha ido lá, vai começar a escrever código assim que chegar no site, de forma intuitiva e interativa. vale a pena passar lá nem que seja só pra ver como é. do ponto de vista educacional, há um grande debate sobre o valor de codecademy, mas não é isso que importa aqui, no momento.
boa semana, bom aprendizado de “programação”. e lembre: ou você programa ou será programado. o mundo é digital. e você ainda pode escolher. programe.