em 2004, o governador do rio grande do sul, germano rigotto, falando sobre o CEITEC, iniciativa do governo federal, estado do rio grande sul e cidade de porto alegre, dizia que o projeto [hoje um centro]… "transformará o Estado numa referência nacional para atração de investimentos internacionais dos setores de microeletrônica e tecnologia da informação".
recebendo recursos de brasília desde 2005 [segundo fontes, mais de R$600 milhões foram gastos no CEITEC até agora] e formando gente no setor há muito tempo, o rio grande parecia ser a escolha natural para investimentos federais no setor… mas não foi.
ontem, foi anunciado que o governo federal e o do estado de minas gerais estão empatando R$755 milhões, de um total de R$1 bilhão de investimentos, em uma fábrica de chips em ribeirão das neves, na região metropolitana de belo horizonte. o grande objetivo do negócio é a substituição de importações, para tentar minorar o déficit da balança comercial de eletro-eletrônicos, estimado em pelo menos US$30 bilhões para o ano. entre 2005 e 2011, o déficit cresceu quatro vezes, de US$7.4B para US$31.6B.
tanto no CEITEC [estatal] como no novo investimento [majoritariamente federal], o custo de criação de um posto de trabalho supera R$3 milhões. é difícil imaginar que, sem algum tipo de reserva de mercado, modelos de negócios baseados na simples substituição de importações agreguem valor, no médio e longo prazo, à competitividade nacional. as razões estão no texto deste link, publicado no blog há pouco, onde também se explica porque a inovação de muito curto prazo deste tipo de investimento não causa as mudanças estruturais que realmente impactam os processos de regeneração econômica e social.
se nem isso nem aquilo, fica-se sem saber qual é a lógica dos agentes públicos envolvidos no processo. porque não deve ser a óbvia, usar recursos federais para financiar uma combinação de altos custos de criação de poucos postos de trabalho e criar uma reserva de mercado para uma produção que, face aos problemas de competitividade associados à fabricação de chips no brasil, não teria mercado internacional. ou teria? ou tem? e por que?…
o blog não disputa a lógica da iniciativa privada, livre para decidir onde e quando vai investir seus recursos, para fins que imagina darão retorno. quanto ao dinheiro público, pelo menos federal, é interessante tentar descobrir razões pelas quais um esforço de 8 anos para criar um cluster de microeletrônica no sul se tornou, agora, investimento para fazer dois, separados por 1.700 quilômetros, e isso quando se reclamava [no passado recente] que o volume de recursos do governo não dava para fazer [direito] um que fosse.
sem o primeiro ter chegado à maturidade, o que leva muito tempo em qualquer caso e lugar, mesmo com muito investimento em dinheiro, atenção… e tanta coisa mais, qual é a lógica de um segundo?