tempos atrás, até que havia algum sentido em se usar ciber-espaço pra designar o mundo virtual e internauta pra falar de quem usava a rede. hoje, não mais. todo o mundo é real: uma parte é abstrata [ou virtual] e só existe na rede, boa parte dela simulando processos, funções e serviços que ocorrem na contraparte concreta que costumávamos chamar de mundo físico ou, como os americanos rotularam lá atrás, de bricks. e o ciber-espaço morreu de velho, pois hoje todo o espaço é ciber.
da mesma forma, todo mundo está, ou deveria estar, na rede. ser o que se chamava de internauta é a norma, não a exceção, como astronauta é. este sim, é exceção, você não encontra um a cada esquina. tirante nós que estamos, o resto de mundo que não está na rede é um problema a ser tratado, da mesma forma que devemos ir atrás e incluir quem não tem esgoto, água, educação, saúde e eletricidade. e você e eu nunca ouvimos falar de quem tem eletricidade como os "eletrificados". ouvimos? não, claro que não.
o título deste artigo vem de um texto de nick carr, que toca o rough type, uma das fontes de informação mais respeitadas que conheço. e a pergunta de nick tem a ver com a consolidação de um modelo de criação, edição e publicação de informação que se tornou possível pela disponibilidade de infra-estruturas, serviços e aplicações que habilitaram, por sua vez, cada um de nós [que quisesse] a ter seu próprio jornal na rede. de repente, todo mundo "virou" jornalista, no muito antigo sentido de um diário escrito por alguém para si e, talvez, os leitores.
máquinas virtuais de edição, publicação e relacionamento de conteúdo e pessoas, conectadas no limite da rede [de computadores, empresas, celulares…] pulverizaram os modelos clássicos de literatura, jornalismo e notícias, outrora baseados em críticos, revisores, editores, publishers, distribuidores, casas editoras, bancas e o que mais cabia. e deram lugar a novos modelos de criação, edição e publicação, onde jornalistas [inclusive os das antigas], ao descobrir as novas possibilidades, adaptaram-nas [não sem alguma, e em certos casos, muita demora] aos seus antigos [às vezes, agora, renovados] fins e agendas. e isso era absolutamente previsível, até porque quase a totalidade das dezenas de milhões de blogs no ar não interessa a ninguém além dos cinco amigos e amigas d@ dono@ e alguns dos familiares. exatamente o contrário do blog do noblat, que não é um blog: deveria se chamar noblat news network, de tanta coisa [interessante e relevante] que reporta, comenta e replica.
mas… a blogosfera morreu e o artigo de nick carr começa… [Blogging seems to have entered its midlife crisis, with much existential gnashing-of-teeth about the state and fate of a literary form that once seemed new and fresh and now seems familiar and tired…] dizendo que os blogs, outrora inovadoras plataformas de expressão, estão enfrentando uma crise de meia-idade… e acaba dizendo que [Who killed the blogosphere? No one did. Its death was natural, and foretold] a blogosfera morreu de morte morrida; seu fim [como forma inovadora, revolucionária, massiva, de mídia] foi natural e previsível. e eu concordo.
a "mídia" [como o terraMagazine] entendeu o recado, descobriu que é bom [e dá audiência] ter textos soltos, leves, irresponsáveis até, em letras minúsculas, na hora em que querem entrar e sobre o que querem falar, sem editor, com a participação dos leitores, reclamando das minúsculas inclusive, dando opinião sobre tudo e todos, fora do contexto muitas vezes. a "mídia" demorou mas absorveu parte da anarquia da periferia e, ao trazê-la pra dentro de casa e reprocessá-la, continou sendo, em boa medida, o mesmo centro que sempre foi. esta é a "morte" da blogosfera a que carr se refere. quer ver ou fazer algo de novo? vá ver meu twitter [e crie um pra você, talvez].
talvez valha a pena adicionar que nunca fui, ou me senti, "blogueiro", da mesma forma que nunca fui internauta ou "eletrificado". no caso desta coluna informal, me sinto escritor, repórter, jornalista, diarista, colunista, contista, cientista, professor e aluno, denominações que sempre e ainda se aplicam ao que faço há décadas. nós, neste espaço [nada de chamá-lo de virtual, por favor] formamos uma comunidade de leitores e escritores, conectada, em rede, com todas as outras fontes de informação que relacionamos aqui e que nos relacionam de lá.
a blogosfera morreu. mas a escrita na rede ainda está nascendo. ainda falta muito pra que se saiba o que estamos fazendo. mas este não é o problema. vamos continuar fazendo e tentando descobrir… que um dia a gente vai acabar sabendo. R. I. P. blogosfera. descanse em paz.