quem é o “consumidor digital”? 3/11

john hagel é o co-autor, com john seely brown, de um monte de textos muito interessantes [como este, sobre redes sociais]. seely brown, que foi cientista chefe da xerox, escreveu com john duguid um dos livros mais interessantes sobre a sociedade e economia da informação, the social life of information [de 2000, neste link ou, em português, neste]. aqui, a gente usa o contexto da “vida social da informação” e de uma pérola escrita há pouco por hagel pra discutir como conviver, nas redes sociais, com as mudanças frequentes que são naturais em um ambiente onde o comportamento é emergente.

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na juventude, a família de hagel mudava de cidade muito frequentemente, o que o levou a estabelecer uma maneira de conviver com uma vida quase nômade. tive o mesmo problema [e oportunidade] e simpatizo com ele; a cada poucos anos, minha família mudava de cidade no interior do nordeste, até parar no recife quando eu já tinha 16 anos. acostumado a mudar, fui estudar engenharia em são paulo aos 17, voltei ao recife para um mestrado aos 22 e saí para um doutorado na inglaterra logo depois. só “parei” em recife, mesmo, aos 30…

estes “saltos” no espaço-tempo pessoal, e as correspondentes mudanças [quebras, muitas vezes] de contexto são muito difíceis de administrar. imagine, no tempo em que não havia internet, redes sociais, celular… nem mesmo DDD!… nas décadas de 50, 60 e parte de 70, “perder” os amigos de uma hora pra outra e ter nas cartas o único meio de comunicação. não era brincadeira. mudança é legal, sempre, mas só quem já mudou muito sabe dar à estabilidade o valor que ela merece.

e isso leva ao

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…que é perfeitamente aplicável ao contexto da mudança pessoal, familiar, de uma a outra cidade, e à emergência e dinâmica de comportamento em redes sociais. há coisas que você não vai conseguir controlar, nem na sua vida nem na sua malha de conexões. no máximo, poderá influenciar o comportamento de certas classes de agentes, mas nunca terá certeza das consequências de uma intervenção em uma rede social. mas há coisas que, sim, na vida pessoal ou nos negócios, na relação com os clientes, consumidores e usuários, você vai dar conta. a primeira e mais fundamental de todas é, obviamente, associada aos…

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se você está acompanhando a série, já sabe que [veja aqui] a cadeia  de valor das redes sociais passa pela sequência conexões → relacionamentos → interações → significados, e que isso não se faz de forma aleatória, sob pena de não se criar, ao fim de longas e complexas interações, significados que interessam à [sua] rede, o que certamente levará ao desmonte do [pouco] que você conseguiu até então. sua rede vai mudar em gênero, número e grau, como se dizia, e o comportamento dela também. mas seus princípios não podem oscilar à medida que sua rede muda. seria o mesmo que, nas mudanças de cidades, hagel e eu mesmo fôssemos uma pessoa a cada cidade… cuja consequência seria não sermos ninguém [até porque nem nós saberíamos quem…] depois de algumas mudanças. então, em e para a rede, defina muito bem quais são seus princípios e se guie por eles. depois, cuide dos…

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…e trate de estabelecer o que você quer da [ou dar à] vida [em rede]. pode até ser tudo o que se quer no negócio [lembre que estamos falando de redes no contexto de negócios] ou até na vida pessoal. e se lembre que ter propósitos demais resulta em ter nenhum: ninguém, por mais ativo e efetivo que seja [como pessoa] ou mais recursos que tenha [como empresa] consegue se dedicar, com a mesma atenção e energia, a tudo ao mesmo tempo. foco é essencial.

na série [de 2010] sobre estratégias de redes sociais para negócios [neste link], o blog propôs a tese de que “empresas são abstrações”, no sentido em que arranjos sociais que costumamos denominar “empresas” são, de fato, conjuntos articulados de princípios, propósitos e…

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…que são a terceira constante do paradoxo da mudança de hagel. difícil pensar em algo mais importante, nos negócios, do que pessoas. e elas estarão ligadas ao que chamamos de “empresa” e seus produtos e serviços, na proporção em que solidez, transparência e simplicidade de princípios e propósitos seja um valor do negócio. isso quer dizer que nada [nas bases do seu negócio] pode mudar, mesmo quando o mundo todo está mudando, o tempo todo?… claro que não. quer dizer que, se você resolver mudar princípios e propósitos, deve pensar muito antes de fazê-lo e deve ter políticas, estratégias, métodos e processos para comunicar às pessoas que lhe interessam [ou, quem sabe, a “todas” as pessoas de um mercado].

e isso é nada mais que o óbvio. se seus princípios e propósitos estavam associados a certos parâmetros de qualidade e vão mudar, a percepção das pessoas vai mudar e é provável que, por causa disso, pessoas mudem de negócio [como fornecedores, clientes, consumidores e colaboradores].

se você quer manter certos grupos de pessoas na sua rede, pense muito bem antes de alterar seus princípios e propósitos ou, por outro lado, de “deixar” que a rede os modifique. em rede social, é a percepção da comunidade [e a atribuição de valor, por ela, a você] quem vai determinar, em última análise, quem você é. mas isso é uma construção coletiva e você faz parte dela.

e suas ações irão determinar boa parte do que se pensa sobre você, se você por em prática algumas lições. uma estratégia interessante, e que serve [na essência, e não na forma] para um grande número de empresas, é a que está por trás do stratos, da red bull, descrito aqui no blog neste link.

falando de paradoxos, preste atenção ao paradoxo de khosla, segundo o qual… à medida que nossa rede social aumenta de tamanho, nossa capacidade de “ser social” diminui. isso quer dizer que é mais fácil manter uma rede de significados com pouca gente participando do que com muita gente na rede. a consequência, para as estratégias de redes sociais nos negócios é que, quanto mais gente houver na sua rede, mais a construção coletiva de significados entre as pessoas e você vai depender de princípios e propósitos muito bem estabelecidos e entendidos por todos.

no próximo episódio, vamos falar de comportamento emergente, a característica das redes que transformou [o que era, antigamente] o público em comunidade. e isso tem consequências pra tudo o que se disse até aqui e que vai ser dito daqui pra frente. até lá.

[ps: pra ver todos os capítulos desta série, clique neste link.]

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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