Participação pode ser uma das palavras-chave das próximas décadas. até porque, em tese, há um ambiente online, global, do qual se diz que muita gente participa. quase todo mundo vai participar da rede, um dia, a partir dos mais de 1/3 da população global que estão lá hoje. se é verdade que a internet pode habilitar conexões entre todos os habitantes do planeta… como é mesmo que todos se sentirão partícipes de alguma coisa, qualquer coisa, lá? porque usar a rede é uma coisa, ser parte dela é outra, muito diferente e bem mais complexa. e de muito mais longo prazo, talvez. e a diferença entre usar a rede e participar efetivamente dela pode ser a mesma que há entre ver um jogo [de futebol, por exemplo] e jogar, lá dentro, liderando seu time. entre as duas atitudes, entre os dois pontos de vista, há uma miríade de pontos intermediários, milhões, talvez, de níveis de cinza.
não é preciso ser um estudioso para perceber que os processos que deveriam dar conta da representação democrática, para citar uma rede que deveria ser social de verdade, têm problemas sérios, hoje, a ponto de se questionar sua sustentação em um prazo mais longo. e a rede da representação democrática é universal: não só os brasileiros a partir dos 16 anos podem votar mas todos os brasileiros de 18 ou mais devem votar [ou justificar porque não o fez]. e qualquer um [de ficha limpa…] tem o direito de se candidatar a um cargo eletivo [em geral, sem entrar nos detalhes]. e o mesmo, ou algo parecido, é verdade na maioria dos países.
traga o problema de participação para a rede da democracia: quem vota participa do processo democrático? claro que sim. mas em que grau de participação? você saiu de casa com seu título, foi até uma urna eletrônica e deu um “like” em alguém, sem qualquer envolvimento maior no processo, sem ter sequer avaliado o porquê de seu voto [afinal de contas, uma escolha entre muitas] e as consequências dele. é que sua escolha, que ajudou a eleger alguém [em detrimento de tantos outros], tem consequências, no curto, médio e longo prazos. e bem mais radicais do que o efeito de um “like” em faceBook, incluindo a dificuldade de “unlike” seus representantes, mesmo se eles não se comportarem como deveriam [ou como “prometeram”] e até mesmo quando, perdendo direitos civis elementares, continuam dentro do sistema de representação democrática.
resultado? um “like”, na [rede de] representação democrática, tem consequências não necessariamente entendidas ou sequer imaginadas na hora do [ou no processo que leva ao] voto.
ao mesmo tempo, nas redes sociais online, tanto teoria e prática ainda são escassas e estamos no estágio inicial do entendimento do que significa o envolvimento mais básico em tais redes ou, se você quiser, o significado de um “like” está longe de ser simples e aceito como tal por diferentes grupos de interesse. consequências?… muitas. uma, em particular, nos desafiará por algum tempo: o “sistema” político ao nosso redor dá, claramente, sinais de colapso, tanto quanto outros “sistemas” que foram atropelados pela internet [como o educacional, por exemplo] mas a rede… que atropelou os tais “sistemas”, ainda não parece ser o espaço participativo que gostaríamos que fosse, especialmente quando se pensa na participação efetiva de cada um de seus membros nos processos de tomada de decisão necessários para se construir, manter e evoluir algo tão complexo como uma sociedade [que, de forma extrema, é uma grande rede de muitas, muitas redes].
é provável que estejamos fazendo surgir as bases para novas formas de articulação social, em termos de redes sociais online. e poucas gerações passam por mudanças de tal ordem. é quase certo que muitos dos “poderes de rede” estarão ao nosso dispor [ou por nós serão criados…] nos próximos anos e décadas. nós mudaremos a rede e a rede, talvez, toda a sociedade ao redor. ou dentro dela. quem sabe?…
PS: ano que vem temos mais uma rodada do processo de eleição de representantes na nossa democracia, e em muito larga escala. e talvez, pela primeira vez no brasil, o papel das redes sociais no processo e resultado eleitoral não seja marginal. e isso deveria ser objeto de curiosidade, estudo e participação para todos, com os órgãos reguladores do processo [todos, inclusive e principalmente o TSE] sendo parte das reflexões sobre as redes sociais na eleição e não simples juízes de algo de que não… participam.