a imagem à esquerda não é exatamente um robô; trata-se de um predator, um “avião” do tipo UAV [unmanned aerial vehicle, ou VANT, veículo aéreo não tripulado, em português], disparando um míssil hellfire, ou fogo do inferno, em algum lugar do planeta. de acordo com seus alvos prediletos, o taliban e a al-qaeda, o “sistema” [e não veículo] predator é muito mais preocupante do que tanques, aviões normais ou qualquer outra coisa que mata, no ar, na terra no mar. o predator é o irmão menor do reaper; somando um e outro, há pelo menos 210 deles em operação nas forças armadas dos EUA. abaixo, outra foto do predator, cortesia do timesOnline.
segundo o timesOnline, dois dias depois de sua posse o presidente obama já estava dando ordens para que suas forças no afeganistão usassem os UAV contra alvos no paquistão, onde, teoricamente pelo menos, não há uma guerra contra os EUA e na direção de onde, também em tese, não se poderia atirar. os hellfire disparados por predators já mataram, com sua carga explosiva de fragmentação de 4kg, centenas de pessoas no paquistão.
segundo fontes paquistanesas… 687 civilians have been killed along with 14 Al Qaeda leaders in some 60 drone strikes since January 2008 — just over 50 civilians killed for every Al Qaeda leader. nossa atenção, na frase, deve ser para o “just”, que quer indicar, ao que parece, que “só” cerca de 50 civis foram mortos para cada líder da al qaeda, como se isso desse um ar de normalidade ao quase certo assassinato, à distância, de seres humanos como eu e você.
por enquanto, veículos como os predators são comandados por seres humanos. numa reportagem recente [de 24/jul] a cnn explica, no detalhe que é possível para sistemas e operações do tipo, como a coisa funciona. os “pilotos” dos predator que “lutam” no oriente estão em bases continentais nos EUA, como creech, nevada, para onde vai, nos seus dias de trabalho, o major morgan andrews. segundo a cnn, depois de beijar a mulher e dirigir uma hora de carro… within minutes [he] could be killing insurgents on the other side of the world. você pode ver vídeos das ações dos pilotos de creech, detonando o outro lado do mundo, neste link.
tudo remoto, limpo, impessoal, matando insurgentes e não pessoas, sem qualquer risco [a não ser a perda do predator], do ar condicionado de uma sala em nevada, no expediente… e depois é só dirigir de volta pra casa, beijar a mulher, ajudar os filhos nas tarefas da escola… que amanhã tem, de novo, tudo igual. só mais uns alvos a eliminar ali e acolá.
os UAV como o predator têm se mostrado tão eficazes que o secretário de defesa dos estados unidos, robert gates, anda dizendo que os F35, a próxima geração de aviões de caça dos EUA, serão, também, suas últimas máquinas tripuladas. segundo um alto comandante da inteligência da força aérea americana, o que nós estamos vendo hoje, comparado com o que está por vir nos próximos 30 anos, “são os anos 1920”… pra comparar, veja a imagem abaixo: são de havilland DH9A, da royal air force, nos anos 1920. talvez a gente devesse estar mais preocupado…
segundo o tenente-general david deptula, sistemas deste tipo estão… destined to work with decreasing human input. em bom português, sistemas como o predator e seu irmão maior, o reaper, estão destinados a depender, cada vez menos, de decisões e controles humanos. até que ponto? ao ponto de serem completamente independentes? e quais seriam as possíveis consequências? em que prazo e para quem? e se eles “fugirem do nosso controle”?…
é isso que vamos discutir durante a semana. você pode acompanhar as pílulas da discussão [entre outras muitas coisas] em twitter.com/srlm.
enquanto o próximo texto não vem, veja o vídeo abaixo, do bigDog, um “cão-robô” que está sendo desenvolvido para o exército americano. vá até o fim do vídeo; a coisa é capaz de carregar 150kg em inclinações de até 35 graus. e a idéia é que ele seja o “melhor amigo” dos soldados…