o tribunal de contas da união informa: “há uma total ausência de comprometimento dos altos escalões com a área [de tecnologias de informação e comunicação do governo federal]”. o TCU vem analisando a infraestrutura e sistemas de informação de governo, sob várias perspectivas, desde 2007, de uma forma sistemática. mas o interesse do tribunal de contas e sua influência sobre os negócios federais de informática vem de longe, como mostra o gráfico abaixo.
a imagem acima vem de uma apresentação do ministro aroldo cedraz no dia 26 de maio pp., e aponta um aumento de 15 vezes no número de decisões do TCU sobre “contratações de TI” em um período de 15 anos. isso é muito e dá uma idéia da importância que o tribunal credita às tecnologias de informação e comunicação e suas aplicações na gestão e nos serviços públicos.
para entender a quantas anda a governança dos sistemas públicos de TICs e aplicações, vá ver os slides da apresentação do ministro cedraz, onde se aponta os dez órgãos de governança superior que deveriam dar conta da política, estratégia, planejamento e operações de TICs na gestão pública e nas estatais.
com tantas deliberações e órgãos para dar conta da TI federal, como anda o estado da arte da informática nas instituições federais? veja o slide abaixo, que reporta a pesquisa feita pelo TCU com 300 órgãos públicos em 2010 e tire suas próprias conclusões…
que tal ler, detalhando um pouco mais, a imagem acima?… mais da metade das instituições públicas faz software de forma amadorística; mais de 60% não tem [na prática] política e estratégia para sua informática e segurança de informação; 74% não têm nem mesmo as bases de um processo de gestão de ciclo de vida de informação; por conseguinte, há informação que detêm e não sabem e outras que não, mas que acham que sim, está em algum lugar, só não pode ser encontrada “agora”. um dia, quem sabe?…
e tem mais: 75% não gerencia incidentes de segurança de informação, como invasão de sites e sistemas e perdas ou [pior?] alteração de dados; 83% não faz ideia dos riscos a que a informação sob sua responsabilidade está sujeita, quase 90% não classifica informação para o negócio, o que significa que a instituição está sob provável e permanente caos informacional e quase 100% não tem um plano de continuidade de negócio em vigor. ‘
o que quer dizer que se o lugar for atingido por uma pane elétirca grave, enchente, raio, incêndio… a comunidade alvo dos serviços do órgão pode ficar semanas sem ser atendida e pode haver descontinuidades muito graves do ponto de vista da história da informação no [e para o] governo e os serviços públicos.
se informação e informática são tão importantes para empresas, governo e sociedade, porque estamos neste estado de coisas no governo federal? a pesquisa do TCU dá uma boa idéia das razões…
mais da metade de quem manda no lugar não se responsabiliza pelas políticas de TI, o que quer dizer, na prática, que “não estão nem aí” para o que estiver sendo feito ou acontecendo; quase metade não designou um comitê de gestão para TI, quase 60% dos altos gestores das organizações não estabeleceu objetivos de gestão e uso para a área de TI e, finalmente, 76% não estabeleceu indicadores de desempenho para a área.
observado deste ponto de vista, os resultados do slide anterior não surpreendem, não é mesmo?…
neste contexto, há razões para ser otimista? pode não parecer, mas há. a secretaria de fiscalização de tecnologia da informação do TCU está trabalhando em conjunto com muita gente para criar e manter políticas de sistemas e informação nos órgãos federais. e isso quer dizer operar o presente de forma eficaz, eficiente e segura e criar o futuro ao mesmo tempo. não estamos falando de uma área que evolui lentamente ou que tem pouca demanda interna e externa. a tendência, no governo, tem sido a de informatização do caos, coisa que este blog apontou neste texto e comentou neste áudio, na CBN.
como os dados da SEFTI/TCU mostram, estamos muito longe do ideal. neste momento, isso é uma grande oportunidade, pois as infraestruturas e sistemas de informação estão mudando de forma radical.
todos governos mundiais estão planejando, iniciando e operando federações de infra e serviços [a tal “nuvem”, veja mais aqui] que vai mudar a visão de mundo da informática pública [city of orlando CIO: “I want to get out of the server business and into the services business.”], gerando economias de escala antes inimagináveis, como a redução do custo operacional total das infraestruturas de informação federais em 2/3 ou mais.
nos EUA, o governo obama criou o posto de CIO –chief information officer- federal, responsável por pensar, planejar, orientar, articular toda a estratégia e operações federais de TICs e suas aplicações. até abril passado, só em 2011 o CIO vivek kundra havia fechado 39 data centers, dos 137 que fechará este ano. até 2015, 800 dos atuais 2094 data centers federais deixarão de funcionar.
tais centros não estão sendo fechados porque é “moda”, mas porque novas formas de coletar, processar, conectar, compartilhar e preservar dados estão disponíveis e permitem, através de seu uso criativo e inovador, realizar muito mais com muito menos, em termos de investimento em informática e sistemas de informação em rede.
há uma “nova” forma de fazer informática, baseada em “máquinas sociais”, sistemas programados e programáveis em rede, conectados e integrados pela rede. na verdade, a idéia não é nem tão nova assim: olhe aqui o que este blog escreveu sobre “informaticidade” na revista CIO em 2006 e veja aqui uma revisão de 2008 sobre o mesmo assunto.
as oportunidades de simplificação de infraestrutura e ganhos de escala nos sistemas de informação e seu desenvolvimento, manutenção e evolução. criadas por infraestrutura e software como serviço, na nuvem, deveriam ser combinadas com a necessidade de mais e melhor governança apontadas pelo TCU para abrir um amplo espaço de criatividade, inovação, operação e gestão na informática pública brasileira.
e isso pode ter pouco a ver com fazer cada órgão da informática pública federal cumprir o caderno de determinações do TCU na “sua” informática, mas começar a fazer com que uma verdadeira “rede” de infra, sistemas e serviços federais seja formada a partir dos órgão mais competentes, mais determinados e mais abertos a realizar um papel bem maior e acima do que dar conta, simplesmente, do seu quintal.
as economias de escala e a simplificação dos processos, inclusive os de controle, são óbvios. a dificuldade de implementar tal estratégia em um país como o nosso também é óbvia. seria mais fácil primeiro levar todo mundo a um nível mínimo de proficiência e, depois, fazer um processo de seleção não natural. mas esta seria a forma certa, também, de perdermos esta década fazendo o que os outros países fizeram na década passada.
com tanto poder e capacidade de articulação e alinhamento à disposição do TCU, bem que o tribunal poderia agitar o cenário um pouco mais e fazer com que as “TICs” federais gastassem bem menos e fizessem bem mais nesta década, evitando a duplicação de sistemas e equipes e, ainda por cima, um aumento significativo da informatização do caos.