joseph alois schumpeter, nascido em triesch em 1883 e falecido nos EUA em 1950, foi um dos mais importantes economistas do séc. XX [quer ver por que?… clique aqui pra algo bem simples e direto, ou aqui pra uma explanação longa e sofisticada].
a destruição criativa [ou criadora], na visão de schumpeter, é o processo pelo qual um conjunto de mecanismos [até então inexistentes] afeta equilíbrios até então existentes no mercado, causando um número de efeitos que eliminam, ao mesmo tempo, produtores [de alguma coisa], o que eles produziam [a coisa, em si] e práticas de consumo que, no mercado, geravam renda para os produtores, como parte do processo de criar novas ofertas de produtos e serviços que, por sua vez, vão criar novos equilíbrios instáveis entre produtores e consumidores, até que… um conjunto de mecanismos [até então inexistentes]… e por aí vai.
os consumidores, claro, não são eliminados; deixam de consumir o que costumava ser o caso e passam a consumir outros bens e serviços ou, em alguns casos, nada. ou seja, o desaparecimento de fornecedores e seus produtos e serviços, em certos nichos, pode deixar geografias ou setores da economia, por muito tempo, sem um substituto para o que foi retirado do mercado pela destruição criativa e [ou] seus efeitos colaterais.
schumpeter diz que o capitalismo nunca está em equilíbrio em nenhum mercado. o tempo todo, há muitas forças, possivelmente desarticuladas e contraditórias, em ação; e as consequências de suas interações dificilmente são visíveis ao tempo em que ocorrem e muito menos inteligíveis em tempo real. na maior parte dos casos, o porque dos acontecimentos é esclarecido muito tempo depois do que ocorreu.
óbvio, claro, que não é possível antever, na maior parte dos mercados não triviais, qual será o conjunto de consequências de processos de destruição criativa que não interessa para uma certa classe de agentes. tendências e “sinais fracos” demoram a ser percebidos pelos incumbentes que, preocupados em manter e melhorar sua condição e renda nos mercados atuais, o fazem em detrimento do futuro. sempre. as exceções são tão raras que quase todo mundo, mesmo que não trabalhe com inovação, sabe quem são.
dito isto, olhe para o gráfico abaixo. ele mostra a renda dos jornais americanos, em dólares constantes de 2012, de 1950 até 2012. e inclui, depois de 2000, a receita com o jornalismo na web. a “indústria” americana do jornalismo voltou para 1950, em termos de receita, em 2012. foram 50 anos para triplicar a receita dos jornais americanos, de 1950 até 2000 e 12 anos pra dividir o pico de 2000 por mais de três. pense numa “destruição criativa”.
que cria, aliás, o que? em 2009 [em dá pra salvar o bom jornalismo?] este blog comentava um monte de dados e um texto de brian solis e concluía não, não dá pra salvar os jornais, e talvez não dê pra salvar [a parte de notícias d]os portais como o TERRA. porque as redações, que faziam as grandes reportagens e investigações do passado, e que eram remuneradas com recursos que deveriam aparecer na curva acima, não têm mais lugar no jornalismo contemporâneo. e se não são as redações, quem há de fazer os jornais?… no que deveriam pensar os incumbentes brasileiros, que ainda vivem sob um regime de receita crescente nas suas publicações, o que leva muitos deles a crer que os EUA “são um caso à parte”.
brian solis tem uma sugestão neste link. você certamente deve ter uma ideia. se for jornalista, então, é bom mesmo que tenha uma. qual é? pense. porque parece que aquela curva de receita da figura não vai parar de cair no ano que vem. outro dado de realidade é que a maldição de zucker chegou de vez aos jornais e que o fim do parêntesis de gutenberg, que representa a destruição criativa, em larga escala, da indústria do texto impresso, não vai deixar folha sobre folha de papel no negócio das notícias.
é hora de testar novos modelos de negócio para a notícia e opinião independentes. parece que as duas sempre foram elementos essenciais das democracias como nós sempre as entendemos. também pode ser que a própria noção de “democracia” já esteja sendo reescrita por um conjunto de mecanismos [até há pouco inexistentes] onde notícia e opinião independentes tenham outros sentidos, valores e formas de sustentação. pode ser.
mas uma coisa é certa: schumpeter estava certo. e nós ainda vamos ver muito de suas teorias em ação, na mídia, nos próximos anos, até porque, historicamente, em todos os países em que a penetração de rede passou de 40%, os anunciantes se mudaram pra internet. e no brasil…, olhe o gráfico abaixo, com números do ibope para usuários da rede nos últimos quatro anos, se ligue na população, faça umas contas de quando este povo vai ter banda larga boa o suficiente para poder viver “na rede, em rede”… e chute o ano em que vamos ver aquela curva lá de cima se repetir aqui, igualzinha, em ainda menos tempo.
quanto tempo? bem, o faturamento da internet passou os jornais desde o primeiro trimestre deste ano, como mostra a figura a seguir. o digital é o segundo mercado de mídia do país, seguido de perto pelos jornais [11.98% vs. 11.06%], com revistas em um distante terceiro lugar e menos da metade da fatia de qualquer um dos dois. a TV aberta está lá na frente, com 60.63% da verba publicitária. mas os hábitos, mesmo na TV, estão mudando rapidamente. em 2011, segundo esta pesquisa, 48% dos entrevistados assistiam TV interagindo com outras pessoas nas redes sociais. em 2012? 73%, um crescimento de mais de 50% em um ano. assim que anunciantes, agências e redes sociais descobrirem como traduzir tal interesse e performance em interações com seus produtos, serviços e marcas, a TV irá pelo mesmo caminho dos jornais. e ela, no brasil, se sente ainda mais segura [e menos disposta a se arriscar em experimentos] que os velhos periódicos…