smartX: as oportunidades e os riscos [2]

no primeiro texto desta série, abrimos a cortina para um mundo de coisas que têm componentes que podem ser associados às tecnologias de computação, comunicação e controle. este cenário, que pode ser visto como uma generalização da informática aplicada a instituições [os sistemas de informação do seu banco] e pessoas [as interfaces, ou aplicações, e dispositivos que conectam você ao seu banco], engloba quase tudo o que existe ao nosso redor e [ainda] não é informatizado, da porta da sua casa até seu travesseiro, passando pelos tijolos, piso e a cerâmica que recobre seu prédio, o prédio como um todo, as ruas, do pavimento aos sinais, postes e lâmpadas da iluminação pública… até as cidades e seus sistemas de água, força e todos os componentes deles. junte tudo e bote no mesmo contexto e dê, a isso tudo, o nome de internet das coisas, um universo povoado pelos objetos que no título da série chamamos de smartX e olhe o gráfico abaixo.

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este gráfico é a última versão do que o gartner group poderia chamar, em português, de um mapeamento de expectativas do futuro para tecnologias emergentes de hoje em dia. ou seja, olhando para o que está para se tornar prático, no curto [no máximo 5 anos], médio [5 a 10 anos] e longo prazos [mais de 10 anos…] o que as empresas acham que vai dar certo, ou, na prática, que tecnologias, depois de passar pelos seus múltiplos estágios de concepção, desenvolvimento, protótipo, testes e pilotos, serão usadas, no mercado, para aumentar a produtividade dos negócios e das pessoas [neles e fora deles]?…

o topo da expectativa, agora, o “1” anotado no gráfico, é a internet das coisas. e há coisas [ver setas 2, 3, 4] que são parte da internet das coisas [comunicação entre “máquinas”, veículos autônomos e robôs “espertos”] que estão em variadas posições no gráfico. veículos autônomos estão perto do pico das expectativas, os robôs espertos [que fazem coisas parecidas com o que humanos fazem em linhas de produção sofisticadas] estão na transição entre parecerem radicais demais e começarem a se tornar uma expectativa de todos… mas serviços de comunicação entre “máquinas” [entenda “coisas”] estão no fosso da desilusão, porque estamos entendendo, agora, as dificuldades de fazer com que todo tipo de coisa se comunique [se “entenda”], algo que achávamos que era trivial há alguns anos, mas que é muito difícil de resolver de forma homogênea, racional e universal. e não poderia ser de outra forma: lembre-se que, mais de um século depois da introdução dos automóveis, ainda não chegamos num padrão universal sobre em que lado da rua se dirige e em qual lado do carro deveria estar a direção.

ocorre que carros estão limitados a geografias e coisas, em rede, não. ou estão? será que eu não deveria poder abrir a porta da minha casa [se ela estivesse na web…], com uma chave digital virtual, lá do japão?… e com a chave digital “rodando” no meu smartphone? e, ainda mais radicalmente, “só” no meu smartphone e, talvez, no de quem mais “só” eu autorizasse?… pra que isso seja possível, que condições devem ser obedecidas e como a infraestrutura e serviços, na rede, têm que funcionar para que minha aplicação faça o que deve fazer?…

pois é: como você vê na figura acima, enquanto temos as maiores expectativas do mundo para os próximos 5 a 10 anos para a internet das coisas, estamos achando que elas ainda têm graves, dificílimos problemas pra se comunicarem efetivamente e, quase como sempre, nos estágios anteriores da evolução virtual, agora é que há um princípio de preocupação e expectativa sobre segurança digital, como aponta a seta 5 do gráfico acima. e a gente já viveu o suficiente pra saber que isso não é bom… porque uma coisa é um visitante indesejado invadir a minha conta bancária… para o que o banco tem que pagar o prejuízo, porque ele é o depositário dos meu [e do seu] dinheiro, e tem um monte de recursos pra cuidar da segurança desta informação [dinheiro, lembre, é só informação] e outra coisa, muito mais radical… é um carinha descobrir como entra, e literalmente, na sua casa, e entrar de verdade ou vender a informação de como entrar pra quem quer fazer isso, seja lá por qual for a razão.

quantas chaves virtuais você terá, pra abrir, fechar, conseguir autorização de uso para as coisas que estarão na sua internet das coisas? uma, poucas, muitas? do ponto de vista físico, nenhuma? porque o cartão de crédito, todo moderno, com chip, é físico; as transações são digitais, mas a coisa é física. e, quando você estiver com sua chave digital no japão e for abrir sua sala no porto digital, em recife, qual é o risco, e não só de segurança, mas operacional, das infraestruturas e serviços que fazem sua aplicação [a “chave”…] funcionar não estarem disponíveis, ou estarem corrompidas… bem na hora que você precisar? pois é. perguntas, perguntas. a curva de expectativas do gartner, em 2012, há meros 2 anos, nem mencionava riscos e a internet das coisas estava na subida da ladeira da tecnologia e no horizonte de mais de 10 anos para se tornar produtiva, ou seja, para ter efeito na vida dos negócios e das pessoas. image

se você procurar, verá que as coisas não estavam no mapa em 2010. na última década, a atividade criativa ao redor da internet das coisas foi muito intensa, aumentando significativamente a partir de 2011, segundo um estudo do IOT, escritório de propriedade intelectual inglês. o grau de interesse dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento na internet das coisas é mostrado abaixo, em número de patentes solicitadas por ano…

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…e uma das imagens do relatório [que trata 20.000 patentes depositadas entre 2014 e 2013] mostra de quem vamos comprar spimeware e, de resto, coisas em rede daqui pra frente, se o gartner souber o que está dizendo com seus mapas.

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mas tergiverso e, se brincar, daqui a pouco vou dizer [e mostrar porque] não haverá empresas brasileiras de classe mundial na internet das coisas [você imagina por que?…]. melhor falar, agora, do que o mundo acha que serão os benefícios de um universo digital em rede, que ao invés de travar inovação, libertaria uma vasta quantidade de energia criativa, produtiva… na internet das coisas. mais de 1.600 experts, entrevistados pelo pewResearch internet project, responderam à pergunta…`

…à medida em que bilhões de dispositivos, acessórios e artefatos se conectarem, será que a internet das coisas terá amplos e benéficos efeitos no dia-a-dia das pessoas em 2025?…

nada menos que 87% dos experts responderam sim, e 13% disseram que não. mesmo entre quem disse não, quase todos concordam que mas objetos, eletrodomésticos, carros e muito do que está ao redor se conectará. a dúvida, deles, é se haverá amplos e benéficos efeitos no dia-a-dia das pessoas. a pergunta que estes 13% talvez estejam fazendo é… por que, ao invés de fazer uma internet das coisas pelas coisas, não fazemos uma internet das coisas para as pessoas?… a evolução tecnológica, historicamente, é contaminada pela pressa que impomos ao próprio desenvolvimento e aplicação da tecnologia na solução de nossos problemas. isso, como o contexto que envolve carro pessoal, combustíveis fósseis, infraestrutura urbana, riscos humanos mostra, não é o que deveríamos querer, mas é mais ou menos o que sempre acontece em qualquer cenário e que tentamos, depois do caos instalado, corrigir.

será que o aparecimento, do quase nada [lembre-se, internet das coisas não estava no hype cycle do gartner em 2010], desta nova e inovadora plataforma de compatibilidade vai mudar tanta coisa quanto os experts indicam?é correto dizer que coisas em rede, C3, ou computação, comunicação e controle para habilitar serviços, feito por coisas [para pessoas?] não é só uma evolução de pessoas em rede [C2, computação e comunicação para conectividade, relacionamento e interação, base para a criação de significados entre humanos], mas será que vai mudar tudo e tanto a ponto da gente ter que se preocupar com os impactos, especialmente para pessoas?

sim, a resposta é um claro sim. até porque este impacto está  li na esquina, 5 a 10 anos são quase nada do ponto de vista social, e talvez seja tarde para advogar um começo mais social do que técnico para smartX, mas dong-hee shin [em A socio-technical framework for Internet-of-Things design: A human-centered design for the Internet of Things] faz exatamente isso. e defende desde educação em smartX, para muitos, senão todos, para habilitar usos pessoais e sociais amplos das novas tecnologias já na largada da revolução, até a intervenção governamental para não deixar que smartX, na coréia [espaço geográfico estudado no artigo] se torne mais uma tecnologia que, no começo, mais separa do que aproxima camadas de renda e conhecimento na sociedade. este é sempre um risco nas revoluções tecnológicas: quem está escrevendo a mudança [o que neste contexto é algo quase literal, pois a maior parte de smartX é software], sai muito na frente dos outros e tende a continuar na frente, em tudo, inclusive nos retornos sobre investimento.

enquanto este problema não chega de vez, e pra todo mundo que não está escrevendo a mudança, dê uma olhada num desenho de um dos possíveis cenários para a internet das coisas e smartX

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…e veja um vídeo sobre um smartX muito maior do que quase todo mundo imagina: ao invés de pequenas e quase invisíveis coisas embutidas noutros sistemas, estamos falando de uma bike muito esperta… veja. e até  nosso próximo texto.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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