Não sei se você ouviu esta história, mas 70% das contas do segundo maior banco inglês ficaram fora do ar por quase uma semana. Isso afetou 20% de todas as contas correntes do país diretamente e, de forma indireta, todas as outras contas que tinham a receber (ou a pagar) das primeiras. Em suma, um “bug” de proporções sistêmicas, que resultou em mais de 100 milhões de transações não realizadas, que deveria servir de alerta para todos os países que dependem de sistemas bancários altamente informatizados e interligados. Ou seja, todos os países que têm bancos e sistemas bancários, como o Brasil.
Há um ditado entre o pessoal “de TI” dos bancos que reza que “Deus não só é brasileiro, mas tem um forte background em sistemas (de informação) e trabalhou no mercado financeiro”, onde parece que ainda passa vez por outra pra ajudar a galera que mantém as coisas no ar. Entre as dez maiores falhas de sistemas de informação de 2011, três foram no sistema financeiro. Uma delas levou a SEC americana a multar uma instituição em US$25 milhões e ordenar a reposição de mais de US$200 milhões de dólares perdidos por investidores devido à falha no sistema de informação.
Uma outra falha, talvez bem mais preocupante do que no sistema financeiro (e há!), se deu na Austrália: 22 pessoas foram presas devido a um bug na transferência de registros judiciais entre as cortes e a polícia de New South Wales. Todos os presos estão processando o sistema.
Entre os dois maiores transtornos de 2012, já se pode apostar que o bug do RBS inglês vai estar nas cabeças, a menos que alguma coisa ainda mais exótica aconteça no segundo semestre. A falha no software da NASDAQ durante o IPO do Facebook também é firme candidata a um dos três primeiros lugares. O bug de algumas horas do Bradesco, domingo passado, não teve impacto suficiente para estar entre os dez primeiros do mundo. Também, na Cidade de Deus…
Não parece que a forma de tratar tais eventos –que não são privilégios do sistema financeiro- é aceitar que eles vão acontecer e que isso “faz parte” do processo. Em “Large-scale complex IT systems”, Somerville e outros propõem uma outra visão “sistêmica”, a de tratar os sistemas de informação como os dos bancos e outras grandes instituições, que podem ter de milhões a dezenas de milhões de linhas de código por trás, como “coalisões”, fugindo do reducionismo clássico da engenharia de software.
Parece ser claro que nenhum dos problemas que envolve software de grande porte para sua solução pode ser atacado por uma visão reducionista do mundo (onde o ambiente é racional e todas as decisões são técnicas; o problema é bem definido e os limites do sistema podem ser estabelecidos; que define e “faz” o sistema detém o controle de todas as partes e dependências). Não é este o caso.
Se concordamos com isso, Somerville propõe toda uma agenda de pesquisa, desenvolvimento e inovação ao redor de “sistemas de informação como coalisões de sistemas” que, associada a uma visão de mundo e arquitetura de sistemas baseada em máquinas sociais, pode ser vista como…
…coalisões de máquinas sociais como base para os ciclos de vida de sistemas de informação. Isso foi assunto de uma aula na pós-graduação do Centro de Informática da UFPE onde se mostrou também a agenda de Somerville, que está no slide abaixo.
Cada um destes 10 pontos tem oportunidades para pesquisa, desenvolvimento e inovação. E quem tiver resultados minimamente viáveis e capacidade empreendedora, vai atrair investimentos. Você tem propostas em qualquer destas linhas?