o negócio de telefonia existe há décadas. contando de alexander graham bell e sua primeira tele pra cá, são 133 anos de empresas de “telefonia” conectando pessoas localmente e à distância, como o logo da AT&T deixava bem claro já em 1900.
neste meio tempo, aconteceu muita coisa, inclusive a internet, que veio de uma demanda do sistema de defesa americano. a gente poderia perguntar porque não foram as teles que nos trouxeram a maior parte das novidades nas comunicações, como a própria internet e, dentro dela, serviços como skype.
a razão é conhecida, simples até: os incumbentes, ou operadores históricos de um serviço, são companhias que dominam mercados de forma quase monopolista, o que resulta, quase sempre, em uma falta de motivação para inovar. o conjunto de preocupações dos incumbentes está mais normalmente associado à manutenção e otimização de suas fontes de receita corrente e muito pouca energia é dedicada ao que pode vir a ser o futuro do negócio. por isso que muitas [talvez todas] as teles trataram, lá no começo, a internet como uma novidade interessante, mas que de certa forma nada tinha a ver com seus negócios.
durante algum tempo, isso era verdade e as teles não estavam nem aí pra internet; afinal de contas, o negócio de “ligações telefônicas” era bom demais, inclusive porque a internet de “linha discada” passava pelas tais “ligações”. e porque o preço da telefonia, imposto pelo monopólio, era absurdo. como ainda é, no caso das ligações internacionais. mas por quanto tempo?
com as “promoções” para os pré-pagos [tipo carregue 20 reais e ganhe 200, 500 e até 1.000 reais de crédito para falar com celulares da mesma operadora], estou vendo gente de classe média ter um celular [barato] de cada operadora e um diretório de quem está em cada tele. o destino é falar de graça em todas as ligações locais, e isso a partir de uma armadilha que as próprias teles criaram. e olha que estão começando a aparecer celulares confiáveis de 2, 4 chips…
e as ligações de longa distância? meus celulares têm conta ilimitada de dados a preço fixo, wiFi e skype. se eu estiver fora da recife, mas no brasil, skype sempre está ligado e tento me conectar com as pessoas por ele, dentro da banda de dados provida a preço fixo pela operadora. fora do país, o roaming de dados torna isso inviável. a solução é ter um chip de onde se está ou usar a miríade de hotspots que existe em todo lugar e, via wiFi, usar skype pra se conectar com quem você quer. faz tempo que não pago uma ligação internacional.
resultado? o gráfico abaixo, mostrando como skype vem tomando as ligações das operadoras, de forma continuada… já sendo responsável por 12% dos minutos de tráfego internacional de voz:
e isso num contexto onde as taxas de crescimento do volume total de voz internacional estão caindo há muitos anos, como mostra o histograma abaixo…
…enquanto o crescimento de minutos internacionais entre as teles foi de 8% em 2009, entre usuários de skype, que já tinha sido de 51% em 2008, passou para 63% em 2009. skype tem mais de 520 milhões de usuários, mais de 20 milhões dos quais no ar ao mesmo tempo e receitas começando a chegar perto de US$200M por trimestre.
skype é uma ruptura digital no modelo de negócio das teles. jeff zucker, da NBCU, definiu bem: a ruptura [digital, da internet] é a transformação de dólares analógicos em centavos digitais. mais recentemente, zucker disse que já consegue ver dez centavos onde havia um dólar e isso, segundo ele, é uma melhoria muito significativa.
só que as operadoras parecem continuar vendo, ou querendo ver, um dólar onde para graham bell havia, de verdade, um dólar. não há mais, não haverá mais; por aqui, deveriam todas estar procurando dez centavos onde havia cada real e ajustando plataformas e custos à nova realidade, especialmente no que diz respeito à agregação de valor a seus serviços essenciais.
voz, só por acaso, não é um serviço, seja de curta ou de longa distância. desde que a internet começou a ser a base da conectividade na economia e na sociedade [e o fundamento e modus operandi das teles], voz é apenas uma aplicação sobre um conjunto de serviços e infraestrutura padrão e comoditizado.
para as teles, ainda é hora de acordar e inovar, especialmente em serviços e aplicações. até porque quem o fizer muito bem, se não tiver a velocidade, meios e sorte de comprar skype, pode até ser comprado por ele no futuro…