E o mundo, afinal, não se acabou. Pra comemorar, resolvi fazer um texto com letras maiúsculas. Dá trabalho adicional; ficar clicando shift e prestando atenção aos lugares que as ditas têm que ficar. Mas tudo bem, o mundo não ter acabado é uma boa razão para um esforço a mais. E, já que o mundo não acabou, resolvi fazer um conjunto de cinco (ou melhor, seis) previsões sobre o futuro.
O futuro, você sabe, é bem mais difícil de prever do que de criar. Os Maias estão –aliás, não estão- aí pra provar. E, a bem da verdade, eles nunca disseram que o mundo iria se acabar, hora nenhuma. Não sei se você sabe, mas os Maias foram a única civilização pré-colombiana a desenvolver a escrita. Resultado? Há mais de 10 mil textos, do séc. 3AC em diante, pra gente tentar entender seu tempo. Dê uma olhada no “texto” abaixo pra ver como era difícil se alfabetizar “em Maia”…
Prever o futuro é mais ou menos como decifrar um texto em Maia se você não estava lá junto do carinha que o escreveu. Parte dele está [sendo] escrito, você vê que há coisas sendo ditas, mas… o que? Vejo muitas faces no texto da imagem, mas ele é um texto, mesmo, e não um conjunto de esculturas.
Bom, deixando os Maias em paz e saindo para o futuro de TICs e suas aplicações e usos, nos negócios, vida e na economia e sociedade em geral, escolhi 5 tendências inexoráveis para 2013 e depois. Começando pela megatendência na base de tudo, que não conta em previsão alguma, acho que vamos ver muito mais…
0. INFORMATIZAÇÃO PESSOAL: cada um carrega sua informática, conectada. Isso muda tudo, em larga escala; quer dizer que todos, o tempo todo, em qualquer lugar, estarão em contato com todos os outros, em qualquer outro lugar, usando sua plataforma pessoal, móvel, de computação e comunicação. E a internet está começando a ter cada vez mais coisas como parte da rede, o que fará com que estes sistemas de informatização pessoal sejam, também, de controle. O começo do mundo-na-palma-da-sua-mão é aqui, agora, em 2013.
Pra isso, precisamos de…
1. …APPs, que são quase todas browsers de propósito específico, servindo de base para interagir com sistemas de informação providos por alguém, com um serviço [habilitado por software] por trás. Não precisa nem de exemplo, mais. Do controle da TV até o “sistema” que reserva um carro, descobre onde ele está, abre a coisa, muda reservas, reporta problemas… tudo, ou quase, vai estar “dentro” de um app.
E apps e informatização pessoal precisam cada vez mais de…
2. …SOFTWARE-COMO-SERVIÇO: tomando conta da informática das empresas e cada vez mais presente na vida do usuário normal, sem ele nem saber que está lá. Software como serviço não vem ao usuário como software, mas como experiência de uso. A buzzword do momento para a onda de duas décadas que vai retirar todo processamento que não for essencialmente local da máquina do usuário é Cloud IT, como se vê na figura abaixo [clique, fica muito maior]. Mas a ideia é a mesma, desde o começo; o que está mudando, paulatinamente, é a qualidade da execução. Mais performance, mais segurança, mais resiliência, mas confiabilidade e menores custos é o que vamos ver, ano a ano, de 2013 em diante. Olhando o gráfico, você perguntaria: leva quanto tempo para uma destas ondas se estabelecer? Esta vai levar umas duas décadas para estar toda no lugar. Em 2013, começa a década da maturidade do software como serviço. Pode apostar.
Com software-como-serviço fazendo tudo, Muitos têm a ilusão de que apps como Google Maps trabalham “sozinhas”. Pesquisa recente, nos EUA, descobriu que o usuário não percebe Maps ou um app de comparação de preços como parte da web, mas de sua informática pessoal, como se ele [e o app] não estivesse online para fazer o que faz.
Só que quase tudo está online, e depende, cada vez mais, de…
3. …PLATAFORMAS INFORMACIONAIS GLOBAIS para prover os serviços que lhe aparecem como apps; são os PIGs de verdade. As plataformas principais, por trás de quase todos serviços que usamos, até porque muitos serviços que usamos, de quem não é uma PIG, faz uso de algum serviço delas, são: Facebook [que provê conexões], Amazon [conteúdo, acima de tudo], Twitter [sincronização], Microsoft [produtividade], Apple [experiência de uso], Google [organização de informação], e Salesforce [informaticidade corporativa em larga escala].
Também acho que estamos vendo…
4. …SMART-X começando: coisas, instrumentadas, se conectando; não se trata só de smart city, mas carros, ruas, canaletas, sinais de trânsito… a casa, a geladeira, o fogão… portas, sensores e atuadores de todos os tipos e entre eles, tudo o que você puder [e tiver autorização para] controlar, num app, no seu celular. Esta internet das coisas começou há tempos e vai continuar começando por muito tempo. E estas coisas todas terão, claro, tudo a ver umas com as outras: a internet das coisas “é social”. O social deixou de ser tendência há anos; é pura e simples realidade. A imagem abaixo é deste relatório, onde se prevê haverá 50 bilhões de coisas na rede até 2020. Muito, considerando que talvez haja 5 bilhões de pessoas em rede lá no fim da década. Estamos na primeira onda, agora; nem tudo que você tem em casa fala com qualquer outra coisa. Quem fez a previsão está com pressa, e muita. A internet de tudo está apenas começando e vai levar muito tempo para que todas as coisas possam se conectar e se entender de forma transparente para o usuário.
A internet de tudo, das pessoas e das coisas, todas conectadas, causa um dilúvio de dados, de…
5. …BIG DATA, “huge data”: cada vez mais, decisões serão função de dados que se têm, e de seu processamento, o que vai gerar mais dados. Opiniões, só sobre dados da realidade, que vamos coletar e processar, sobre tudo. Diagnóstico médico será bem mais preciso; o do motor do seu carro, também. Nada de chutes. Por trás dos dois e de muitos outros processos, uma conjunção que passa pelos itens 0-4 desta lista e se junta com muitos outros processos, sistemas, ferramentas, tecnologias já padronizadas e usadas há muito tempo e bem amplamente. se você duvida, lembre do progresso da previsão do tempo, na maioria dos países, nos últimos 20 anos. De mero chute, se tornou quase acerto, sempre. Previsão de tempo, nos EUA, captura 3.5 bilhões de observações por dia, equivalente a 30 petabytes de dados a mais, no sistema, todo ano. Nos próximos 5 anos, será preciso aumentar a capacidade do sistema em milhares de vezes, para diminuir impactos dos eventos climáticos.
… … …
A Lei de Amara diz que tendemos a superestimar o impacto das tecnologias no curto prazo e a subestimar o mesmo impacto no longo prazo. Todo fim de ano, as previsões sobre o que vai acontecer nos próximos doze meses são carimbadas pela Lei, quase sem exceção. Aqui, como se sabe da Lei, sabe-se também que previsões não são certezas, e devem ser tomadas com cautela, como pontos para discussão. E que assim seja, com todos os textos de todos os autores, para todos nós, leitores, em 2013, um ano de muita reflexão.
Feliz Ano Novo e até lá.