a figura abaixo é o mapa parcial da cobertura do kindle, da amazon, para entrega global de livros eletrônicos sem custo adicional de transporte de bits. parte do brasil profundo, onde nunca houve ou haverá uma livraria, está no mapa da amazon. breve, por lá, kindles, ou coisa parecida. e livros entregues quase na hora. no caso da amazon, o problema pra maior parte dos brasileiros é que o conteúdo todo, ainda, é em inglês.
mas isso vai ser remediado com o tempo. a mudança que vamos a viver, agora, é a transformação do que chamamos de livro, e que sempre foi identificado como uma embalagem física para conteúdo textual, de produto em serviço. e começando pela descoberta de que o “leitor eletrônico” do livro, algo como o kindle, também não é produto, é serviço.
aqui, mais uma vez, vamos ver os incumbentes [a indústria do livro “físico”, de papel] serem reescritos por inovadores sem compromisso com o passado, enquando editores e impressores ficarão tentando, por todos os meios, se proteger. é sempre difícil saltar para o futuro; o risco é alto, o medo é muito, especialmente quando se tem a impressão de que o presente pode ser estendido para sempre.
mas há gente dando saltos, e aqui no brasil, o que é uma boa nova: a mix tecnologia, de recife, em parceria com a carpe diem produções, anunciou há algum tempo o leitor-d, que aparece na imagem ao lado e que você pode ver em detalhe neste link.
falando em brasil, o perigo por aqui é a transição do livro analógico para o digital ir pro congresso e terminar em discussões sobre reserva de mercado e sesmarias culturais, como sempre ocorre em tantas outras áreas.
mesmo quando a tecnologia for socializada, o risco é ser criada algum tipo de obrigação de compra de livros em papel. e talvez de bicos-de-pena, além de um grande estoque de pergaminho para aulas de caligrafia nas escolas públicas. como esta conversa é sobre conteúdo, espera-se que o pessoal do PL29 [veja discussão sobre o assunto, neste blog, neste link] não descubra, nem tão cedo, o que está rolando nesta dimensão…
mas o futuro nunca se engana. e, do jeito que as coisas andam, demora menos a chegar do que era o caso no passado. pra ajudar, temos que ter mais banda larga, larga mesmo, e mais em conta para o bolso de todos. é muito provável que o programa cultural e educacional mais importante para a periferia, para países como o brasil, seja banda verdadeiramente larga. pra todos.
abaixo, mais uma imagem do começo do fim do suporte físico. trata-se da comparação, nos EUA, entre a netflix [DVD em casa, pelo correio, reservado na web, com um sistema de informação e modelo de negócios inovador, onde ao invés do tempo de retorno se define quantos vídeos se pode ter ao mesmo tempo…] e a blockbuster [dirija até a loja e não ache seu vídeo, demore a retornar e pague multa…].
enquanto a netflix, que está começando a entregar vídeos pela web pra quem tem banda mesmo [e os EUA são ruins nisso: só 1/12 avos da banda média do japão, por exemplo], saiu de menos de um milhão [em 2002] para quase doze milhões de assinantes este ano, a blockbuster fechou 1200 lojas. a primeira continua crescendo a taxas de 30% a.a. e a segunda, fechando lojas a taxas de 5% a.a..
entregar vídeos pelo correio [mais de dois milhões deles por dia] é virtualização de primeira ordem das lojas e estoques reais, na rua, esperando pelo usuário. a netflix de hoje ainda é majoritariamente um negócio de logística física, transacionando suportes para mídia em grande escala. o negócio atual é um passo intermediário para a logística virtual do conteúdo, just in time: escolho, faz parte da minha assinatura, vejo na hora ou quase. inclusive no celular.
vídeo locadora, muito breve, só na história. e dvds pelo correio também, resultado? melhor serviço, menores custos de transação, menor pegada ambiental. a comunidade [e não a audiência] e o planeta agradecem. como efeito colateral, depois que virarem serviço, adeus pirataria. pelo menos na forma que conhecemos hoje. vem aí, quem sabe, pirataria-como-serviço…