anos atrás, comecei a perguntar a audiências várias, dentro e fora da universidade, quem topava trocar um olho [daqueles bem míopes] por um olho eletrônico [“cheio” de software, claro]. em todos os casos, as pessoas se surpreendem com a pergunta e é muito raro alguém, de primeiro, aceitar a troca.
a provocação continua quando sugiro que o olho “biônico” poderia ter zoom e infravermelho: com estes opcionais, já se vê uns 20-30% da platéia pensando seriamente em fazer a troca.
o próximo passo da brincadeira é imaginar que o olho poderia ser, também, uma câmera, celular, capaz de pegar tudo que vê e ouve e transferir para um sistema de informação [associado à sua conta, na operadora, principalmente agora que temos portabilidade…]. e que o sistema lá por trás seria capaz de relacionar tudo o que você já viu, ouviu e fez, e por onde passou, com o que você está vendo, ouvindo e fazendo agora e lhe dar sugestões como “…esta pessoa, à sua frente, é fulano de tal, a quem você encontrou pela última vez no teatro e vocês comentaram que…”. sem falar em [que tal?] consultar a wikipedia no background pra resolver o que, no passado, eram aquelas dificílimas [e completamente idiotas] questões de história, geografia… a esta altura do campeonato, quase toda a sala tá topando ter um olho biônico, mesmo que seja em troca por um olho bom… e as possibilidades são infinitas: faça sua própria lista de desejos.
voltando pro agora, na vida real, rob spence perdeu um olho caçando, quando jovem, e se tornou cineasta quando cresceu. rob tem uma prótese em um dos olhos e, nela, planeja inserir uma câmera pra sair por aí e filmar o mundo… a câmera não terá qualquer conexão com o sistema visual de spence; trata-se apenas de uma nova forma de ver e filmar o mundo. mas o projeto chama muita atenção pelo que prenuncia: estamos começando a chegar perto do tempo em que a prótese –ou o próprio olho- poderá ser uma câmera ligada ao sistema visual de seu hospedeiro, ser celular e ter aquele sistema de informação, lá atrás, estendendo o intelecto do usuário.
“augmenting human intelect” era o que douglas engelbart, um dos pioneiros do que veio a ser, muito tempo depois, a web, já pensava que seria o papel de hipertexto… em 1962. há visões que levam décadas ou séculos para se transformar em realidade. uma câmera aqui, outra câmera conectada ali, um sistema de informação acolá, um sistema de educação continuada e “à distância” ali e, aos poucos, a visão de engelbart irá se transformando em realidade.
por agora, resta ver o que spence vai realizar de cinema, como diria glauber rocha, com idéias na cabeça e uma câmera no olho. pra saber o que está sendo planejado, vá ver o site do projeto eyeborg, de onde veio a foto abaixo.