a sensimed, da suíça, lançou um sistema que permite acompanhar pacientes de glaucoma vinte e quatro horas por dia. pra quem não sabe, o glaucoma é uma doença insidiosa: acomete 4% da população mundial acima de 40 anos, é assintomático, progressivo e, não tratado, implica em perda total de visão.
o tratamento adequado da doença pode exigir de monitoramento contínuo da pressão intraocular, o que o sistema triggerfish faz. o desenho ao lado mostra o esquema da coisa, composta por 1} uma lente de contato que tem um sensor MEMS e um processador de telemetria embutido; 2} uma antena [colada ao redor do olho] e cabo de dados, que conecta a antena ao 3} gravador digital carregado pelo paciente e, por fim [e que não aparece no diagrama] 4} software que captura, processa e diagnostica a informação armazenada no gravador.
deixando todo o resto de lado, por enquanto, a parte revolucionária do sistema é a lente de contato com os sensores e processadores embutidos, mostrada na figura abaixo, que não é simulação: trata-se de uma lente real, num olho verdadeiro, destes que eu e o leitor temos.
esqueça por um momento que a lente que você vê acima é um instrumento médico e imagine as possibilidades de uma lente de contato com hardware e software dentro… que –claro- você pode levar para qualquer lugar, no seu olho.
as possibilidades são imensas, começando pelas mais triviais: que tal gravar tudo que você vê e ouve? em cada olho, uma lente-câmera little brother capaz de causar arrudagates que fariam o próprio parecer o jardim de infância dos escândalos. na distopia de orwell, haveria um big brother capaz de ver, ouvir e controlar tudo, até cada pensamento. no cenário little brother, cada um de nós seria capaz de, pelos seus próprios meios, testemunhar, em muitos casos para sempre, o que ocorre ao nosso redor, de uma onda perfeita a representantes do povo enchendo malas, bolsos, cuecas e meias de dinheiro.
mas isso é pouco: imagine as possibilidades de uma mera lente, em seu olho, ser seu ponto de contato com a web: a lente acima está conectada a um gravador da mesma forma que poderia estar conectada à rede. agora, pense nas possibilidades.
e se… você pudesse fazer perguntas, via lente [pela qual receberia respostas] direto às máquinas de buscas, sistemas de informação e repositórios que estão na rede, mais ou menos num piscar de olhos?…
isso seria o fim da “decoreba”!… ao invés de decorar coisas, a gente ia aprender, na escola, como encontrar respostas [em primeiro lugar] e, depois e mais importante, como descobrir perguntas.
vá pensando. estique os limites. imagine… será que sua lente, no futuro, poderia incluir as funcionalidades que hoje estão, por exemplo, nos celulares mais sofisticados?… por que não? nos quarenta anos entre 1965 e 2005, a capacidade computacional pelo mesmo preço cresceu um bilhão de vezes; outro bilhão de vezes de multiplicação da capacidade, pelo mesmo preço está acontecendo entre 2005 e 2030. estamos bem no meio de um processo de aceleração gigantesca da capacidade de processamento, partindo de um patamar que não era nem tão trivial assim.
imagine. a lente é só um exemplo. mais lá na frente pode ser seu olho, todo. partes do seu ouvido. e muito mais. por enquanto, é só um novo olhar. eletrônico.