é provável que você nunca tenha ouvido falar em shenzhen. tem gente morando lá há oito mil anos. fica na china, no delta do rio das pérolas. colada em hong kong. a “avenida paulista” de lá, o CBD, é a rua da figura abaixo. clique pra saber mais.
shenzhen é a primeira “zona econômica especial” da china e também a de maior sucesso. isso fez a população crescer, nos últimos 25 anos, de um para mais de dez milhões de habitantes. pouco mais de dois milhões são hukou [podem morar lá] e o resto só pode trabalhar. a idade média da população é abaixo de 30 anos e diz-se que 20% dos PhDs da china trabalham em shenzhen. entre as muitas empresas do lugar, talvez o maior centro de produção de sistemas digitais do mundo, estão a huawei, a ZTE e a fábrica da foxConn em longhua, onde mais de 250.000 pessoas trabalham pra fazer o iPad. a fábrica equivale a uma cidade do tamanho de foz do iguaçu ou juazeiro do norte. veja o vídeo abaixo, pra crer.
shenzhen não é pra principiantes. e está em todo lugar. na tailândia, uma de suas empresas [das que a gente nunca ouviu falar…] fechou um contrato para a maior distribuição de tablets do planeta até agora: a shenzhen scope está entregando um milhão de tablets educacionais android 4.0 de 7 polegadas, CPU de 1.5GHz, 1GB de RAM e 8GB de memória flash, por US$81 a unidade, promessa feita pelo governo que ganhou a eleição ano passado e que, lá, está fazendo o que prometeu. só que este tablet custa pouco mais de 160 reais. o dobro do nosso, no título.
mas alguém, bem menos conhecido que a scope, e lá de shenzen, me mandou um emeio dizendo que, no atacado, vende tablets de 7 polegadas por 80 reais. não é nenhum iPad ou galaxy 7, nem concorre com o da scope. mas é um tablet de 7 [1024×600 px], android 2.2, CPU de 1.2GHz, 512MB de RAM e 4GB de flash [e até 32GB externo], câmera de 1.3Mpx, GPS e wiFi . o emeio que recebi tem forma de uma cotação, como se eu tivesse comprando no atacado, lá, pra colar “minha” marca e vender aqui. dá pra pensar… será que tem gente fazendo isso por aqui?
a “cotação” -que não pedi mas recebi- precifica sete modelos, desde o de R$80 até o “topo de linha”, por R$340. este, de 10 polegadas, tem tela “igual à do iPad” e um conjunto de especificações que parece [parece…] com os de topo de linha de qualquer fabricante, da memória à bateria. feito num pé de escada em shenzhen.
por isso que a IBM, lá no remoto 2006, resolveu transferir seu centro mundial de compras pra shenzhen. toda uma divisão de uma das maiores empresas do mundo, saindo de somers, NY, pro delta do rio das pérolas, de uma só vez. pra um lugar que, do ponto de vista de tecnologia de informação, nem existia nos anos 70 ou 80, quando o brasil… bem, quando o brasil já tinha uma política de informática.
e por que foi –mesmo- que deu certo lá e não rolou aqui? não tem nada a ver com a política de informática em si, mas com nossa grande complicação nacional, com a nossa confusão política e econômica, com a falta de planos de longo prazo, de país e estado e não de mandatos ou partidos. numa sociedade que é movida a pacotes aleatórios compostos por medidas espúrias, nunca chegaremos a nenhum lugar, em TICs, a não ser esperar que nosso fornecedor chinês não seja um pé de escada. ou que nosso produtor brasileiro não esteja comprando, na china, de alguém que nem eles, chineses, sabem direito quem é.
[quer saber mais sobre a grande complicação? leia este texto, do autor, na FSP.]