uso de redes sociais nas campanhas é… pífio

a conversa tratava do impacto das redes sociais nas organizações e o que elas estão fazendo ou vão ter que fazer sobre isso. o blog já visitou o tema mais de uma vez, mais recentemente nesta série de textos sobre empresas, redes sociais e estratégias para presença corporativa na web 2.0. na mesa, estava manoel fernandes, o cara por trás da bites.com.br, que está no negócio de entender o complexo universo das relações entre empresas, produtos, marcas e seus clientes, usuários e competidores nas redes sociais.

a discussão começou a ficar interessante e, pra não ficar só na mesa de bar em que estávamos, ganhou um pouco de estrutura e virou assunto do blog, que você pode acompanhar a seguir…

blog: quem é o que faz a bites?

manoel: Bites é uma consultoria de planejamento estratégico em redes sociais. Nossa  missão é trazer o conhecimento das redes sociais para o ambiente corporativo por meio de processos, métodos e métricas baseadas no relacionamento da marca com os seus consumidores. Na nossa equipe há jornalistas, administradores, publicitários, sociólogos, antropólogos, matemáticos e  poetas. Gostamos de trabalhar com gente que gosta de gente.

blog: isso quer dizer que vocês fazem monitoramento de redes sociais?

manoel: Não. Monitorar dados sem interpretá-los, adicionar estratégia e execução é perder tempo e dinheiro. Saber quantas comunidades existem sobre a minha marca no Orkut, por exemplo, é algo extremamente irrelevante. É fundamental entrar no coração dessas comunidades, saber o nível de interação dos seus integrantes e como posso colocar mais informação e serviços à disposição desse cluster. Monitorar com base em números é estéril e serve apenas para devolver o conforto para quem está com receio de interagir com os seus consumidores. É um medo que se mostra desnecessário quando a marca agrega valor na sua relação com o cliente, que em alguns casos se transforma em guardião da marca nas redes sociais. Monitoramento é puro commodity, qualquer um faz. As empresas precisam estar além desse estágio.

blog: e o que a bites busca?

manoel: Transformar os dados simétricos na rede, à disposição de qualquer pessoa, em informações assimétricas que impactam e até transformam alguns modelos de negócios dos nossos clientes. Procuramos transformar as informações simétricas das redes sociais em conhecimento assimétrico com foco no resultado do negócio dos nossos clientes, como as grandes empresas de mídia, varejo, tecnologia e consumo que fazem parte do nosso portfólio. 

blog: você fala muito de jornalismo de indexação. o que é isso?

manoel: É a capacidade de produzir conteúdos relevantes que são indexáveis nos serviços de busca. Nada adianta ter a melhor informação se ela não é encontrada na rede. Um exemplo: qual o Manoel Fernandes mais relevante do Brasil? Imagino que não seja eu, até gostaria, mas essa não é a realidade. Mas, para o Google eu sou o Manoel Fernandes mais importante. Quando você busca por esse nome é o meu que aparece nas primeiras posições. Por acreditar na relevância do conteúdo que escrevo ou publico "ensinei" ao Google a ser encontrado mais facilmente. Isso pode ser feito com qualquer conteúdo. Para tanto, é fundamental entender a lógica da indexação. Esse conceito faz parte do livro "Do Broadcast ao Socialcast", editado pela W3 Editora, que está disponível neste link.

blog: quem precisa saber ou usar este tipo de competências?

manoel: Quem quer ser achado na rede. Quase todos somos da época do conteúdo escasso, mas estamos e vivemos na época do conteúdo abundante e entraremos na época, em breve, do conteúdo por escolha. Se não for encontrado na Internet em algum tempo não existirei mais. Pelo menos do ponto de vista de percepção dos nativos digitais.

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blog: olhando para a política, como está o uso das redes sociais nas campanhas?

manoel: Pífio. Redes sociais são mais complexas que imaginamos. Não adianta nada chegar três meses antes das eleições e mandar uma mensagem para o eleitor: Olha, estou aqui. Sou o seu candidato no Twitter. Política se faz 24 horas por dia, sete dias por semana. E as redes sociais na política devem seguir essa premissa. Mas sou otimista e estamos diante de uma eleição que servirá como laboratório de testes de uma nova geração de parlamentares para as assembléias legislativas, câmara dos deputados e senado. Então, teremos quatro anos de grande atividade e uma eleição em 2014 completamente diferente e mais densa do ponto de vista das redes sociais.

blog: em particular, como estão as três principais campanhas para presidente?

manoel: Como decidimos desde o início não nos envolver em campanhas políticas não tenho muitas informações sobre bastidores, mas acho que os candidatos estão fazendo um uso razoável. Serra, sem dúvida, é o mais objetivo nessa relação com os eleitores, Dilma ainda está entendendo a lógica e vem fazendo avanços significativos. Marina faz o uso mais estruturado das redes sociais em função de uma equipe bem afinada e conhecedora desse universo.

blog: na sua opinião, qual será o impacto da internet [como um todo…] nesta eleição?

manoel: Ninguém ganhará a eleição apenas porque usa bem a internet e as redes sociais. O que vai acontecer é a construção de novas percepções dos
políticos e dos eleitores que não terão mais intermediários na sua relação.
A imprensa clássica, nesse universo, perdeu espaço e relevância como o filtro entre esses dois personagens. Esse será o grande saldo dessa campanha. Um novo eleitor e com alguma sorte uma nova classe política.

blog: daqui até a próxima eleição, o que os candidatos deveriam aprender sobre redes sociais?

manoel: Que não adianta usar a rede apenas na e para a campanha. Porque fazendo isso parece vendedor de Bíblia que bate na sua porta e retorna quatro anos depois com o mesmo produto.

blog: isso inclui gestão de mandatos e de seu eleitorado, passado e futuro?

manoel: Os políticos estão diante de um novo modelo de democracia, mais direta e transparente. Por muito tempo eles viraram as costas para os eleitores e agora essa cortina não existe mais. Os eleitores estão bem mais próximos dos gabinetes dos seus parlamentares. A distância se resumiu a um tweet ou um scrap no Facebook.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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