você aprendeu na escola [na universidade, e pós-graduação] que a vida depende de DNA, uma molécula capaz de armazenar informação, base da reprodução e evolução. é mudando o DNA que se cria os coelhos que brilham no escuro e os ratos mais espertos do que a norma. DNA, de muitas formas, é programa, é o "software da vida". fazer engenharia reversa de DNA é o que nos leva a entender como funcionam os mecanismos básicos que mantêm animais e plantas vivos e o que acelera [ou não] os processos naturais [ou não] em tais organismos, como as doenças, das mais simples às degenerativas. é disso que trata a genômica: entender o "código da vida" para melhorar as chances de tratar problemas dos seres vivos.
toda a engenharia genética –que leva aos organismos geneticamente modificados, também- tem o entendimento e modificação de DNA como seu objetivo. quer se queira ou não, os OGMs são parte inseparável de nossas vidas: estudos indicam que em 2020/1 sementes transgênicas responderão por 90% da safra de soja, milho e algodão nacionais. no caso da soja, 85% desta safra já é transgênica. seria porque a engenharia genética torna a produção 15% mais barata, pelo menos?…
até aqui, como no caso do gloFish da imagem acima, talvez o primeiro animal geneticamente modificado produzido para fins comerciais, tudo foi feito sobre DNA. estamos falando de entendimento e modificações, aqui e ali, de reescrita de trechos do [atual] código da vida, retirando ou adicionando características pouco desejáveis [como susceptibilidade a certas classes de doenças] ou interessantes, como o aumento de resistência a outras ou, no caso de plantas, a pragas.
agora, parece que as possibilidades vão aumentar radicalmente. até aqui, não havia nada além de RNA e DNA que servisse como base para guardar informação genética e que permitisse, ao mesmo tempo, a modificação e transmissão de tal informação, processos que sustentam a evolução e hereditariedade. mas um grupo de cientistas acaba de mostrar que pelo menos outros seis tipos de moléculas podem exercer o mesmo papel de DNA nos processos essenciais de codificação da vida [armazenamento, mudança e transmissão de informação].
se estes "novos" códigos tiverem efeitos [ e eficácia e eficiência] práticas, a descoberta pode ser o primeiro passo para criar as bases da "genética sintética". no artigo synthetic genetic polymers capable of heredity and evolution, os pesquisadores mostram como construíram ANA, FANA, TNA, LNA, CeNA e HNA, similares de DNA feitos a partir da substituição do D [desoxirribose] de DNA por outros componentes. em CeNa, por exemplo, é usado o ciclohexano.
quais as implicações disso? bem, pra começar, entender como a vida realmente funciona [aqui e no resto do universo] é um dos maiores desafios da humanidade. pode ser que haja vida baseada em XNAs como os agora descobertos em outros planetas, por exemplo. se houver, no que será diferente da vida na terra? e, aqui mesmo na terra, porque a vida não surgiu a partir de uma destas moléculas [ou outras, ainda a serem descobertas?] e sim de DNA?… e agora, que descobrimos como sintetizar outras bases para a própria vida, o que vamos fazer com isso?
um artigo na revista science, diz que está nascendo uma era inteira de genética sintética, com muitas e complexas implicações para o entendimento do que é a vida e, de resto, para a própria vida.
a descoberta de novas formas de codificar a vida, baseada em sistemas até agora desconhecidos, pode –e quase certamente vai- levar à síntese de novas formas de vida. deste ponto de vista, soja transgênica vai parecer brincadeira, assim como o gloFish, que foi a "pura" introdução de fosforescência em peixes já existentes. é muito provável que as descobertas agora anunciadas sejam assunto e objeto de debates de todos os tipos por décadas.
ao mesmo tempo, o investimento científico e comercial [caso seja viável] nestas novas bases para a vida é o que vai ditar o ritmo dos acontecimentos, como foi o caso com os transgênicos agrícolas, em especial as commodities. estes, apesar das restrições e oposição ferrenha de muitos setores da sociedade, têm sido a saída para produzir mais grãos na mesma terra, com muito maior performance. vai ser muito interessante, daqui a 25 anos, ver o que aconteceu com os XNAs e a tal da "genética sintética". até lá.