sim, TV. parece inacreditável. mas é isso que decidiu a AGCOM, o regulador de telecom da itália, equivalente deles à nossa ANATEL. la repubblica abriu a notícia assim…
IL 2010 si conclude con un "regalo" sgradito per YouTube, DailyMotion e altri popolarissimi siti che ospitano video generati dagli utenti. Due delibere appena pubblicate dall’Autorità per le garanzie nelle comunicazioni (Agcom) li equiparano a servizi radiotelevisivi, con tutte le conseguenze del caso…
…citando a equiparação feita pela AGCOM e alertando para “todas as consequências do caso”. TV, ninguém ignora, tem editor; o conteúdo é escolhido pela estação e vai para o ar em modo “broadcast”, onde quem assiste o conteúdo é público e não comunidade. nos lugares onde só há uma emissora de TV, não há escolha; e TV faz parte do sistema de comunicação de massa, do centro para as bordas.
já youTube e outros sites de hospedagem de vídeo, muitos dos quais estão migrando para redes sociais de compartilhamento de informação [seja lá em que formato for], são parte de uma infraestrutura para conectividade, onde o conteúdo é criado pela comunidade e por ela usado, à sua escolha e bel prazer. as redes sociais não têm centros a priori, e conectam da mesma forma, com a mesma intensidade [pelo menos potencialmente] todos os pontos que delas fazem parte.
sim, mas há algoritmos por trás de youTube e foi por aí que a AGCOM achou a porta de entrada; segundo stefano mannoni, conselheiro da agência reguladora italiana…
"Youtube fa una gerarchizzazione dei propri contenuti… anche se magari solo con il suo algoritmo e in automatico, e questo equivale a un controllo editoriale".
… youTube faz uma hierarquização do próprio conteúdo e, apesar disso ser feito por algoritmos e de forma completamente automática, equivale a um controle editorial. o argumento não é totalmente desprovido de lógica, até porque [como o blog já discutiu] o mundo é todo codificado e, no caso do mundo virtual, codificado de forma executável.
ocorre que a escolha italiana, ao responsabilizar os algoritmos e seu proprietário, o site, pela escolha editorial é falha, e na raiz: o que os algoritmos de classificação e promoção [hierárquica ou não] de conteúdo fazem [nas redes sociais] é prover meios para criação de uma rede de nós [o conteúdo propriamente dito] e links, as ligações que a comunidade faz entre os nós.
e um bom algoritmo para tal fim é neutro nas suas “escolhas” e, muito ao contrário do que pensa a agência italiana, não programa o conteúdo e, sim, pode ser “programado” pelos usuários. SEO é o nome de tal programação para máquinas de busca e SNO –social network optimization, ou otimização de redes sociais- é o equivalente para as infraestruturas comunitárias na web.
na verdade, qualquer conjunto de algoritmos de suporte a redes sociais de compartilhamento de conteúdo só vai funcionar a contento enquanto for um conjunto de mecanismos de tomada de decisão que interprete, tão fielmente quanto possível, as vontades da comunidade ao criar, usar, ligar e, em função disso, promover o conteúdo. é a comunidade, pois, que “edita” a promoção ou, como quer a AGCOM, a hierarquização de conteúdo em youTube e serviços similares e não os algoritmos em si.
é difícil dizer qual é o conjunto de motivações da AGCOM para perseguir youTube e similares e, ao fazê-lo, cometer um erro conceitual de tamanha gravidade. o equivalente, na economia da literatura física, seria processar os produtores de papel, tinta e prensas pelo conteúdo [considerado ofensivo] de livros e jornais. espera-se que a ANATEL e o conselho de comunicação social [se e quando voltar a funcionar] tentem entender o problema dentro do seu contexto contemporâneo, ao invés de seus colegas italianos.
responsabilizar qualquer tipo de sistema colaborativo pelo conteúdo nele depositado pelos seus usuários [como se houvesse editor, como na TV] inviabilizaria tais infraestruturas essenciais para a sociedade dos nossos tempos. é só imaginar twitter, faceBook e youTube sendo processados por cada ofensa que alguém inserir, lá, sobre qualquer outro alguém.
ainda bem que tivemos, até aqui, muito mais bom senso sobre o assunto do que os italianos, apesar do quase ex-senador azeredo e seus esforços para criminalizar comportamentos na web brasileira.
mas o preço da liberdade é a vigilância e o ativismo: azeredo perdeu a cadeira no senado mas vai continuar no congresso como deputado e está prometendo continuar “a luta” pelo seu projeto… que por sinal foi ressucitado na câmara. todo cuidado é pouco…