Lá em junho, que já parece tão distante, este blog publicou uma série de 3 textos sobre as redes sociais e as ruas [o poder, a “mídia” e as redes sociais; as redes, nas ruas, no brasil; as crises, nas redes, em tempo real, nessa ordem]. o primeiro, bem no começo do mês, era sobre a turquia, onde o primeiro ministro já alertava o resto do poder oficial, no mundo, que a maior ameaça à sociedade era as redes sociais. pense: as redes sociais como maior ameaça à sociedade… um contra-senso? não: o que se queria dizer é que, em tempos de redes sociais online, as conexões, relacionamentos e as interações que elas possibilitam e os significados criados neste contexto iriam mudar, e muito, a sociedade. e o poder, e a relação deste com o povo. os dois textos seguintes foram, claro, sobre o brasil e o nosso inverno de protesto.
uma das perguntas de junho, ainda sem uma resposta definitiva, talvez seja… qual é o verdadeiro poder de articulação-para-ação das redes sociais? e há quem queira que redes sociais online não tenham poder nenhum; só que os fatos estão dizendo o contrário. noutro extremo, há quem queira que as redes tenham todo poder: e os fatos, de novo, provam o contrário. sem as ruas, sem gente nelas, sem a presença física de tanta gente mobilizada, saindo de casa –nem que fosse só para sair…- não seria um tuitaço que faria o congresso trabalhar mais [nem que fosse por poucos dias]. aliás, sem as ruas vigiando ativamente, a câmara manteve, por muitos votos, o mandato de um deputado que, condenado a mais de 13 anos de prisão, vive em regime fechado, na cadeia. se as redes estivessem nas ruas… isso teria acontecido? certamente que não. então…
um trabalho recente [Limits of Social Mobilization, neste link] experimenta, na prática, como é possível mobilizar as pessoas, através de redes sociais, para a ação na rua, no campo, física, onde e quando as coisas realmente [por enquanto, ainda] rolam. qual é a ideia? descobrir se é possível mobilizar pessoas para encontrar um conjunto de balões numa certa [e limitada] geografia e como tal processo ocorre, além do tempo em que se leva para dar conta do trabalho.
o que os pesquisadores concluíram? que… sucesso depende, de maneira crítica, de indivíduos altamente conectados que estão dispostos a usar seu capital social para mobilizar terceiros. e, mesmo que esta galera se envolva, a probabilidade de nada acontecer é muito maior do que zero. o estudo diz que a presença de social media hubs [agentes sociais muito bem conectados, em termos de links e atividade] e da mídia de massa podem ser essenciais para a efetiva mobilização de comunidades para resolver um problema.
borrero e yousafzai [veja em The Adoption of Social Network Sites for Expressive Participation in Internet Social Movements: A Proposed Model, neste link] têm um modelo preliminar para tentar explicar como as redes sociais [online] servem de base para a mobilização social, mas [como mostra o esquema abaixo, que vem do texto deles] falta muito para que se tenha uma explicação ampla e sofisticada o suficiente para que se consiga [de um lado] planejar e executar ações cívicas “nas” redes sociais e, de outro, reagir a [ou interagir com] tais manifestações nas redes [online]. há muito chão pra ser estudado e, ainda bem, há muita mobilização pra ser estudada. que continue assim.
uma coisa é certa: há um conjunto de novos poderes em rede, e eles estão nas redes sociais, se articulando em formas, largura, profundidade e velocidade como nenhum outro conjunto de agentes foi capaz até aqui. até porque as redes sociais online não estavam aqui antes. há quase dois anos, este blog citou um trabalho de manuel castells propondo uma teoria de redes do poder, em suas quatro faces:
primeiro, networking power, o poder em rede, o poder que os conectados [pessoas e instituições], especialmente os muito conectados [o core, o centro da rede] têm sobre os que não estão em rede; segundo, network power, o poder da rede, vindo dos padrões necessários para coordenar a interação em rede [e concentrado naqueles os que os definem]; terceiro, networked power, o poder na rede, exercido por atores que estão em rede sobre outros que também lá estão e, por último, network-making power, o poder de formar redes, o poder de desenhar [ou programar] redes segundo desejos, vontades ou habilidades dos programadores. é o tal do programe ou seja programado.
isso pega. pense. volte no link acima e clique os links de lá pra saber mais. e clique na imagem abaixo pra saber o que já dá pra você fazer com uns programas triviais.
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este texto encerra uma série de cinco sobre novos resultados científicos sobre redes sociais aqui no blog. pra ver tudo, pela ordem, clique nos links abaixo. e boa leitura.