SILVIO MEIRA

a apple e a CENSURA a aplicações no appStore

no post anterior, falamos da iniciativa do governo inglês de vigiar, muito de perto, as piores [por qual crivo?] 20.000 famílias da inglaterra, como se houvesse uma relação causal e direta entre o que acontece dentro das casas, o comportamento na rua e a melhoria do mesmo caso haja uma supervisão e intervenção nos lares, por agentes do governo, em tempo real.

nada mais orwelliano do que isso. e teve muita gente, nos comentários, que achou o projeto inglês muito legal. o mundo deve estar mesmo pra se acabar.

hoje, a conversa é sobre o mesmo tema, controle social, e sobre uma empresa que parece estar –cada vez mais- rezando pela cartilha do controle absoluto: a apple.

image o incidente é bizarro: envolve a apple, seu appStore, o repositório de aplicações para o iPhone, a matchstick software e uma aplicação escrita pela companhia, o dicionário ninjaWords da língua inglesa. a apple resolveu “limpar” a coisa: mandou a matchstcik retirar do dicionário palavras como screw, cock, snatch, tits que tinham, por sinal, significados canônicos encontrados em qualquer dicionário on ou off line e, mesmo depois do processo de sanitização, manteve a classificação da aplicação na categoria 17+, ou seja, apenas para pessoas acima de 17 anos.

segundo john gruber, a… Apple requires you to be 17 years or older to purchase a censored dictionary that omits half the words Steve Jobs uses every day… [a apple requer que você tenha pelo menos 17 anos pra comprar um dicionário censurado que omite metade das palavras que steve jobs usa todo dia].

o incidente é bizarro, mas não é o único. a inquisição não poderia fazer melhor. à medida que a apple se envolve em mais coisas, que têm impacto cada vez maior sobre a sociedade, a veia controladora da empresa, que mantém uma religião fundamentalista de hardware e software, se espalha –ou quer se espalhar- por toda sua cadeia de valor.

mas censurar um dicionário, convenhamos, passa muito da conta. se você quiser saber o significado das palavras que a apple tirou do iPhone, vá por exemplo ao merriam-webster. tá tudo lá. publicado por uma companhia centenária, respeitável e presente nas casas de dezenas de milhões de pessoas.

no appStore, por outro lado, agora só se pode falar appSpeak, uma língua muito, mas muito parecida com o newSpeak de 1984, cuja definição, na wikipedia, começa assim:

Newspeak is a fictional language in George Orwell‘s novel Nineteen Eighty-Four. In the novel, it is described as being "the only language in the world whose vocabulary gets smaller every year". Orwell included an essay about it in the form of an appendix[1] in which the basic principles of the language are explained. Newspeak is closely based on English but has a greatly reduced and simplified vocabulary and grammar. This suits the totalitarian regime of the Party, whose aim is to make any alternative thinking — "thoughtcrime", or "crimethink" in the newest edition of Newspeak — impossible by removing any words or possible constructs which describe the ideas of freedom, rebellion and so on. One character says admiringly of the shrinking volume of the new dictionary: "It’s a beautiful thing, the destruction of words."

tem gente achando que os censores da apple são apenas meros idiotas. mas tem gente que acha que eles têm um plano… e não acreditam que a informação, como todos estamos cansados de saber quer ser –e ultimamente é- livre.

Outros posts

as redes, nas ruas, no brasil

Na turquia, nas últimas semanas, as pessoas não foram para as ruas só porque o governo resolveu derrubar árvores em um parque no centro de

Efeitos de Rede e Ecossistemas Figitais [XII]

Uma série, aqui no blog [o primeiro texto está em… bit.ly/3zkj5EE, o segundo em bit.ly/3sWWI4E, o terceiro em bit.ly/3ycYbX6, o quarto em… bit.ly/3ycyDtd, o quinto

latitude e privacidade

juliana carpanez, do G1, produziu uma reportagem muito legal sobre o novo serviço de google, latitude, que anuncia para o mundo [se você permitir] onde

previsões, 3: a internet das coisas

Todo objeto minimamente interessante estará em rede, fornecerá dados para sistemas que estão em rede e será supervisionado e controlável a partir de lá. do

Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

contato@tds.company

Rua da Guia, 217, Porto Digital Recife.

tds.company
somos um negócio de levar negócios para o futuro, nosso objetivo é apoiar a transformação de negócios nascentes e legados nas jornadas de transição entre o presente analógico e o futuro digital.

strateegia
é uma plataforma colaborativa de estratégia digital para adaptação, evolução e transformação de negócios analógicos em plataformas e ecossistemas digitais, desenvolvido ao longo de mais de uma década de experiência no mercado e muitas na academia.