SILVIO MEIRA

a escrita, nas escolas, na rede

Este blog falou há pouco de uma pesquisa recente, inglesa, que aponta para o cidadão médio escrevendo cerca de 8 milhões de palavras em seu tempo de rede, mais do que muitos autores prolíficos de outrora escreviam em toda carreira. pois acaba de sair um estudo do PIP, sobre o impacto do digital na escrita estudantil e no ensino de escrita nas escolas nos estados unidos..

a pesquisa descobriu que, para 96% dos 2.462 professores consultados, o digital aumenta a audiência [deveria ser comunidade] para o trabalho dos estudantes; para 80%, as ferramentas digitais encorajam o trabalho em grupo e, para 78%, a criatividade e capacidade de expressão pessoal. se tantos professores têm as novas ferramentas de expressão e compreensão do mundo em tão alta conta… qual é o problema do digital, da internet, das redes sociais? veja o gráfico abaixo.

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os números são dos EUA; no brasil não devem ser melhores. e apontam para boa parte do problema, que não são os alunos. se 58% dos professores exigem que seus alunos escrevam alguma coisa significativa [uma opinião, relatório… ] por semana, só 22% o fazem para descrição de um problema matemático ou sua solução e 4% para a criação de um trabalho multimídia qualquer [17% dos professores pedem por isso uma vez por mês]. e isso no fundamental maior e no ensino médio. sem nem falar que 95% dos professores jamais sugeriu que seus alunos escrevessem um programa, os textos do futuro, como o blog discutiu neste e neste links. é bronca. porque a escola clássica, regular, funciona [via de regra] dentro de uma grade curricular, onde professores ordenam o comportamento dos alunos; se os primeiros, no sistema formal, não mandam… os segundos não fazem.

não deveríamos, portanto, estranhar que a maior parte do aprendizado de [e com] novas tecnologias esteja fora da sala de aula e da escola, e não nela. e olhe que não estamos falando, em quase todo o histograma acima, de aprendizado com ou de novas tecnologias, mas apenas dos professores solicitarem que os alunos façam alguma coisa além de ouvir e repetir, a velha decoreba. mas há esperança, e ela vem de onde a gente menos espera, e com tecnologia. os professores, quase todos, concordam que alunos dependerão de informação e sua qualidade, e de escrever efetivamente –o que quer dizer, certamente, comunicar o que devem da forma mais precisa e concisa possível.

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os problemas relativos ao comportamento online são temporais, interessam aqui e agora; em alguns anos, todos terão aprendido como se comportar e o sistema terá como apoiar os mais novos, que ainda estão aprendendo. se a expressão escrita, na rede e fora dela, é crítica, a boa notícia é que a vasta maioria dos professores acha que a ecologia digital funciona a favor dos alunos na opinião da vasta maioria dos professores… contra a opinião de 64% deles [veja o histograma; cada um dava sua opinião em todas as alternativas] que o digital, em rede, mais distrai do que ajuda. e eu concordo, mas com um mas: se, como vimos, os professores [em um sistema manda-quem-pode-obedece-quem-quer-passar…] não se articulam para que os alunos precisem da rede para seus processos de aprendizado e sendo a rede tão interessante como ela é… é claro que a rede vai distrair mais do que ajudar.

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pra terminar, olhe o gráfico abaixo. um grande número de professores, em todas as disciplinas, acha que os alunos não se esforçam muito para escrever [porque já acham tanta coisa escrita e copiam?…], mas a menor proporção, entre estes, é dos professores de inglês: eles, também, reclamam menos da escrita em geral, o que é um bom sinal: o inglês está mudando mais rápido do que qualquer outra língua no planeta, e parte da mudança está na rede e seu uso, cada vez maior, e pra escrever, por todo mundo [principalmente, talvez, pelos alunos].

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em nenhum sistema, entre todos os que compõem a sociedade, a transição digital é  mais dramática do que na escola. o sistema educacional é tenso por definição, e sua característica histórica, codificar o que se sabe do passado e tentar transmitir este conhecimento como forma de preparar os jovens para o futuro, é seriamente desafiada quando há mudanças estruturais radicais no ambiente ao redor. é  isso que estamos vendo agora. em 50 anos, quando os professores [de então] tiverem nascido na e em rede, teremos muito menos crises e problemas do que hoje. daqui até lá, por outro lado, vai ser um desafio depois do outro…

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PS: este blog já escreveu sobre o tema aprendizado + escrita + escolas outras vezes, por exemplo em o principal inimigo do livro, em flip… e os games, internet antes ou depois de educação?e internet e emburrecimento
de forma mais ampla, sobre o sistema educacional, veja a universidade, já era?
e a universidade: aberta?. passe lá.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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