meu primeiro bits da noite do ano, na CBN
…foi sobre carros como serviço:
e eu rodei uma enquete, no twitter, sobre quando é que as pessoas acham que vamos ter carros como serviço no brasil –com ou sem motorista. como resposta, 44% acha que teremos serviços como UBER, LYFT e outros, aqui, em menos de 10 anos, em escala nacional.
imagine que a galera que segue meu twitter e responde uma pesquisa por lá tem um certo viéis de tecnologia, inovação, novos negócios… e está mais disposta a tentar coisas novas do que a média brasileira. fazendo uma conta de padaria, divido 44% por 3, o que dá uns 15%, pra compensar o viés dos seguidores… e, assumo que metade deste povo não compraria um carro se carros como serviço existissem e fizessem sentido, aqui, do ponto de vista de preço e performance do serviço.
em 12/2015, a frota nacional de automóveis era 49.8 milhões [para 90.7 milhões de veículos]. se a gente levar em conta que a crise do setor, em 2015, é uma perda de quase 23% nas vendas de automóveis [3.146.386 em 2014, contra 2.429.463 em 2015] imagine o que pode acontecer se 15% das pessoas que têm carro deixassem de ter um daqui até 2025. por alto, seriam 7.5 milhões de carros vendidos a menos, em dez anos, bote ou tire uns… [digamos] 2 milhões. se a enquete for uma pista para o futuro, o ensaio geral de 2015 [que já vem de uma série de “anos ruins”] é só, mesmo, um ensaio. as fábricas de carros, que se estruturaram pra fabricar muito mais carros, talvez venham a fazer –e vender- muito menos, e num futuro não muito distante. e isso vai mudar toda a economia do negócio e o negócio em si. até porque os carros do futuro são muito menos mecânica e muito mais eletrônica e… software, temor dos fabricantes desde o começo dos tempos.
vai ver que é por isso que a GM está investido em LYFT [será que pra rodar o novo BOLT, lá? e/ou pra desenvolver carros sem motorista, também?], a audi está apostando em silvercar… e a gente ainda nem viu essa história começar, porque o bicho vai pegar, mesmo, ali pelo meio da próxima década, como mostra o gráfico da economist ao lado. a previsão do barclays para os EUA, em 2040, é de que as vendas atuais de 17.5 milhões de carros/ano podem cair para 3.8 milhões/ano, se os veículos atuais forem trocados por carros sem motorista daqui a 25 anos. há evidências de que a combinação de carros autônomos pessoais e compartilhados pode ser 10 vezes mais eficaz para mobilidade urbana do que os carros atuais. mais cedo ou mais tarde, e também em função de demandas cidadãs, urbanas e ambientais profundas, isso vai se tornar cada vez mais óbvio, grave, urgente, vital e, quem sabe, mandatório.
a era do automóvel está rolando há mais de um século. de lá pra cá, ela coincidiu com a era dos fabricantes de automóvel e da propriedade pessoal de um ou mais veículos, objetos de desejo, parte da moda, exibição, orgulho e coleção. os veículos vão continuar por aqui. mas a era dos fabricantes “puros” está começando a acabar, e muito mais rapidamente do que podia parecer há meros 3, 5, 7 anos.
a companhia que inventou as fábricas de carros como conhecemos –e se inventou, nelas- foi a ford. seu CEO, mark fields, disse na CES 2016 que o futuro da empresa é ser “both a product and mobility company”. uma companhia de produtos e mobilidade. e há quem -em detroit, no brasil, itália…- pense de forma ainda mais radical: será que as marcas de automóveis precisarão, no futuro, fabricar seus carros? ou será que poderão -como hoje é o caso na indústria de eletrônicos- usar terceiros, plataformas [semi-]abertas, sistemas de produção globais… para tal? ou, se fabricarem, porque também são excelentes nisso, porque não poderiam fabricar os seus e os da competição? será que o diferencial, do futuro e de verdade, será fabricar? ou o entender, desenhar, agregar e atender suas comunidades [e não mais compradores, pura e simplesmente?]. mudanças, mudanças… quem viver, verá.
PS ~> a mudança que está se desenhando, do carro pessoal para o compartilhado, que pode reduzir de forma radical o número de carros nas ruas, tem uma componente de ruptura adicional: diga o que disser a OPEP, os carros do futuro não serão movidos a derivados de petróleo, o que vai criar um pequeno problema para tal setor de energia. imagine que só o consumo de gasolina do brasil beira 50 bilhões de litros por ano… e faça as contas.
“a idade da pedra não acabou por falta de pedra” e a do petróleo terminará bem antes dele, com a vasta maioria das reservas ficando exatamente onde está –e onde precisa ficar- enterrada. há gente determinada a mudar o cenário de energia automotiva muito rapidamente, e entre os grande fabricantes. a estimativa é que 10% dos carros vendidos na europa serão elétricos já em 2025. se parte dos brasileiros que tem carro passar a compartilhar um e quem continuar tendo puder e escolher um que seja movido de qualquer outra forma que não combustíveis fósseis, essa indústria nunca mais será a mesma. e o longo caso de amor entre o dólar e o petróleo… será história, enfim.