celulares e câncer [de novo]

esta é a terceira vez, este ano, que o blog publica um texto sobre celulares e câncer. no primeiro [celulares e câncer: a discussão recomeça] falamos do dr. vini khurana, um dos mais renomados neuro-cirurgiões da austrália, segundo quem o risco de desenvolvimento de câncer de cérebro é duplicado pelo uso constante de celulares em longos períodos de tempo, tipo dez anos ou mais. no texto com sua entrevista, dr. khurana dizia acreditar que a ligação entre celulares, tumores cerebrais e os óbitos decorrentes será comprovada no decorrer da próxima década.

no segundo texto [radiação e {ou melhor, em} você], tratamos do 6º seminário internacional ICNIRP sobre radiações não-ionizantes, evento que rolou no rio em outubro, organizado pela ICNIRP [comissão internacional de proteção contra radiações não-ionizantes]. o seminário discutiu bem mais do que a radiação de celulares, mas a coisa pega mesmo é nos telemóveis: pelas últimas contas, metade da população do planeta tem um colado ao ouvido. veja o texto do blog aqui.

estamos voltando ao assunto porque talvez esteja para ser publicado, depois de oito longos anos, o maior estudo mundial sobre o assunto, o relatório final do INTERPHONE, esforço conjunto de 13 países e dezenas de pesquisadores estudando mais de 6.000 usuários de celulares que contraíram câncer. o estudo tinha o objetivo de decidir se o uso continuado de celulares, por um longo período de tempo [mais de 10 anos], aumenta ou não o risco de alguns tipos de câncer, incluindo glioma e neuroma acústico.

a data de publicação do estudo, na verdade, já passou e o resultado não saiu ainda porque os pesquisadores se dividiram em três grupos: os que acham que SIM, celulares aumentam significativamente o risco de câncer, que inclui, entre outros, pesquisadores de israel e austrália, os que dizem que NÃO, a coisa é segura [com cientistas do canadá e inglaterra liderando esta versão] e os que não se manifestaram, achando que a evidência existe em certas situações e não em outras.

a situação é, para dizer o mínimo, confusa: as facções SIM e NÃO se separaram de tal maneira, no correr do estudo, que muita gente já nem mais se fala. nem de celular!… e há quem diga que, apesar de haver resultados alguns resultados locais irrefutáveis [100% de aumento de risco para alguns tipos de câncer em certos países], é capaz de, por isso mesmo, acabar se chegando a nenhuma conclusão. e tem mais: duvida-se, hoje, da seleção da amostra e da corretude dos procedimentos da pesquisa adotados pelos grupos de estudo.

economist-cellphone.jpg

a revista the economist radicalizou: um texto intitulado "como não conduzir um experimento" conclui basicamente que, seja lá o que o INTERPHONE concluir, vamos ter que começar tudo do zero de novo, desenhamdo um experimento muito mais confiável, baseado em escolhas corretas de indivíduos, em dados históricos e prospectivos, em suma, fazer um estudo bem feito.

uma pena, pois: parece que gastamos uma década, esforço de milhares de pessoas, milhões de dólares de investimento de recursos públicos, muitos milhares de horas de discussão para… chegar em lugar nenhum. por enquanto, cada um continua achando o que quiser e toma as suas próprias precauções. ou não. ou, voltando pro começo do texto, ouve o dr. vini khurana, pra quem o risco de desenvolvimento de câncer de cérebro é duplicado pelo uso constante de celulares em longos períodos de tempo

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