este post é parte de uma série sobre educação empreendedora, derivado de uma palestra dada no sebrae nacional, em brasilia, no 27 de janeiro passado. pode até ser que você entenda o texto que se segue sem ler os posts anteriores; mas os textos foram escritos como se fossem uma palestra, uma conversa, o que significa que há uma sequência, começo meio e, espero, um fim, uma conclusão que faça sentido.
o primeiro post da série está neste link… passe por lá, até para entender o preâmbulo e contexto desta conversa.
nesta série, antes deste texto: 1; depois, 3. simbora.
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se precisamos de uma combinação efetiva de educação e oportunidades de qualidade para criar esperança e as duas primeiras dificilmente ocorrem no vácuo… então… qual é o…
…na construção de um cenário sócio-econômico que leve à combinação de uma população empreendedora preparada para aproveitar as oportunidades que apareçam [naturalmente] ou sejam criadas [por ação dos instrumentos de políticas públicas]?
há quase uma década, tive a sorte de participar de uma longa conversa de craig barrett, então presidente da intel, com ministros da área estratégica, de desenvolvimento e economia do governo brasileiro. os ministros falavam de seus planos [a maioria nunca chegou ao papel, quanto mais sair dele…], perguntavam e vez por outra voltavam ao mesmo ponto: "por que a intel não abre uma fábrica de chips no brasil?" ao fim da reunião, resumi as múltiplas explicações de barrett, todas apontando para os deveres de casa que o brasil não estava conseguindo fazer, nem bem nem mal, em três frases que passaram a representar, para mim, quais são os papéis fundamentais do governo, qualquer que seja, e dos agentes de políticas públicas [como o sebrae].
o primeiro papel do governo é…
pelo que sabemos e esperamos, esta é a "década da educação" no brasil. o papel do governo federal será crucial neste quesito, pois o caos educacional nacional transcende, em muito, o velho bordão de "mais investimentos em educação". os sistemas nacionais de ensino –em todos os níveis- e seu acoplamento com as demandas humanas, econômicas e sociais precisam ser revisados e, em certos casos e regiões inteiras, completamente reimplementados.
a educação brasileira precisa sair dos "projetos-piloto" educacionais, para os quais temos prêmios internacionais em profusão, mas cuja implementação em escala nacional [ou estadual, que seja…] é uma confusão, isso quando há alguma tentativa de implementação. a educação fundamental, que é onde se ganha ou se perde os aprendizes quase de uma vez por todas, precisa ser resolvida de uma vez por todas, se esta vai ser mesmo a tal "década da educação".
e isso envolve mudanças radicais: como ter um ensino fundamental eficaz, minimamente coerente e eficiente se cabe a cada prefeito, em cada cidade, decidir o que e como ensinar aos muito jovens? isso quando, graças aos céus, se ensina alguma coisa. nunca deixei de ficar assustado ao encontrar alunos de pós-graduação [sim, eu disse pós!], na ufpe, cujo domínio da língua portuguesa lembra o dos semi-analfabetos do meu tempo de ginásio.
e as mudanças não param por aí e tem pouco a ver com o "hardware", os prédios e os laboratórios [e os recursos financeiros] para a educação. o nosso maior problema educacional em todos os níveis é o "software", o conteúdo, métodos e professores e instrutores, em sua quase totalidade despreparados para criar as oportunidades de aprendizado para o mundo competitivo em que nos encontramos hoje e em que viveremos pelos próximos séculos.
o país tem que escolher que futuro vai querer; tomara que esta escolha envolva mais e melhores conteúdos e práticas de lógica, matemática, computação, biologia, física e química para melhorar a qualidade de nosso peopleware, educando muito mais gente nos fundamentos para participar da economia do conhecimento como cidadão de primeira classe.
o segundo papel do governo e dos agentes de políticas públicas é…
…criar oportunidades de desenvolvimento pessoal, social, empreendedor e econômico, olhando para o futuro assim como dando conta das demandas complexas do presente e compensando o passado, trazendo para o mercado os que não tiveram, quando deveriam estar na escola, as oportunidades de aprendizado que deveriam ter tido.
parece complicado? é mais do que isso, é muito complexo [leia mais sobre o assunto neste link]. uma coisa é complicada quando temos uma boa possibilidade de convencer os atores e interessados de que algo deve ser feito mas não conseguimos estabelecer ao certo o que este "algo" deve ser. e uma coisa é complexa quando não estamos na zona de conforto nem das certezas sobre o que fazer nem tampouco na de possibilidade de acordo para fazer o que eventualmente se decida.
deixado por muito tempo ao sabor do tempo e do vento, um sistema complexo pode se tornar caótico e, quando isso acontece, é preciso muita energia e tempo para se trazer o processo de criação de oportunidades para uma região de média ou baixa complexidade. simples tal processo nunca é, pois a evolução de um mercado e seus agentes, especialmente em tempos de economia do conhecimento, é um processo essencialmente arriscado e inovador, cheio de perguntas [quase nunca feitas] sem respostas… que quando ocorrem, não são óbvias de maneira nenhuma.
se as pessoas estão sendo educadas e o processo de criação de oportunidades está em andamento, o próximo papel do estado é…
…o que é sempre muito mais delicado e complexo em sistemas políticos, sociais e econômicos como o nosso, consideradas nossas origens e tradições.
a tradição nacional dos poderes, em todas as facetas e níveis de governo, é a de promover e sustentar um "estado tutor", que não é nem forte nem fraco para as necessidades do país. trata-se de um estado intrusivo, disperso, difuso, ao mesmo tempo confuso e incoerente ao lidar com pessoas, instituições, empreendimentos e suas demandas e tempos.
se você acha que é difícil abrir uma empresa, tente fechar uma. o processo é quase kafkiano. se pensa que é difícil obter uma licença de construção, que tal tentar, depois de pronto o imóvel, tirar um "habite-se"? o prédio onde moro tenta há cinco anos… e, claro, o fato da prefeitura não conceder o habite-se não impede que todos moremos lá e que sejam cobrados todos os impostos.
o estado "na frente" [e não "à frente"] de tudo atrapalha muito mais do que ajuda; vai contra os processos de criação de oportunidades em maior qualidade e quantidade, inclusive as educacionais. o estado que legisla demais, sobre absolutamente tudo, inevitavelmente cria um sistema inconsistente de normas e regras que nos deixa, a todos, pessoas e empresas, de alguma forma ilegais. e isso, como não poderia deixar de ser, forma a base do processo de "criar dificuldades" para "vender facilidades".
sair da frente é simplificar o país. sair da frente é diminuir o "custo brasil". mas sair da frente não é deixar os agentes econômicos agirem ao seu bel prazer, e sim estabelecer limites, direitos e deveres e, depois, cobrar.
mas uma parte significativa dos órgãos de governo vem promovendo uma acelerada informatização do caos que pode travar o país em pouco tempo. sem simplificar o ordenamento ao qual estamos sujeitos, informatizar toda sua complexidade torna a vida das empresas e empreendedores muito mais difícil do que é suportável, principalmente para as pequenas empresas. e o resultado é a falta de competitividade das empresas nacionais no mercado internacional, isso quando elas sobrevivem à complexidade do processo de crescimento e se tornam, pelo menos localmente, sustentáveis.
mas… mais um congresso acaba de tomar posse e, mais uma vez, ouve-se vozes, aqui e ali, falando de reformas: política, fiscal, administrativa e muitas outras. em uníssono, qual manifestantes insatisfeitos com as condições para empreender e criar trabalho, emprego e renda no país, deveríamos clamar por um conjunto de reformas que simplificasse a vida nacional. aí, sim, mudaríamos de patamar competitivo e tudo, inclusive educar gente e criar oportunidades, seria mais fácil e menos caro.
daí…
…estaríamos bem mais perto de criar um…
…propício à…
como assim… novos negócios inovadores de crescimento empreendedor?…
…ou, ainda melhor…
…porque todo negócio, novo ou velho e como qualquer coisa em uma economia em rede, se tornou fluxo e está em estado de permanente mutação, afetado por todos os outros negócios e contextos ao seu redor, como o blog já discutiu nesta série sobre planos e picos no mundo real [em rede]. vá ler.
no próximo capitulo, vamos começar procurar respostas para esta pergunta, que talvez mais do que qualquer outra define a alma e essência dos negócios que têm mais chance de dar certo na economia dos nossos tempos. até lá.