máquinas de sonhar

leia este parágrafo com calma; se você não lê inglês, não se desespere, o texto está traduzido logo abaixo: “The human imagination is an amazing thing. As children, we spend much of our time in imaginary worlds, substituting toys and make-believe for the real surroundings that we are just beginning to explore and understand. As we play, we learn. And as we grow, our play gets more complicated. We add rules and goals. The result is something we call games”.

a imaginação humana é fantástica. quando crianças, nós passamos a maior parte do tempo em mundos imaginários, substituindo o mundo real ao redor, que estamos aprendendo a explorar [e entender], por brinquedos e faz de conta. à medida que brincamos, aprendemos. enquanto crescemos, nossas brincadeiras se tornam mais complexas, pois adicionamos regras e objetivos. ao fim e ao cabo, o resultado é o que chamamos de jogos. ou games, se você quiser. o texto em inglês é de will wright, criador de nada menos do que the sims e spore, para quem o nintendo wii é só um brinquedo [e não um console de jogos propriamente dito]. ok, você diria: afinal, ninguém é perfeito. mas ele tem lá suas razões. abaixo, spore num celular

a conclusão do artigo [dream machines, ou máquinas de sonhar, de abril de 2006] na wired é: “Games are evolving to entertain, educate, and engage us individually. These personalized games will reflect who we are and what we enjoy, much as our choice of books and music does now. They will allow us to express ourselves, meet others, and create things that we can only dimly imagine. They will enable us to share and combine these creations, to build vast playgrounds. And more than ever, games will be a visible, external amplification of the human imagination.”

…os jogos eletrônicos estão evoluindo para entreter, educar e engajar cada um de nós. os jogos personalizados vão refletir quem somos e do que gostamos, tanto quanto nossas escolhas de música e literatura. eles vão ser nosso meio de expressão, nossos pontos de encontro e vão nos permitir criar coisas que nem podemos [hoje] imaginar direito. os games vão nos permitir compartilhar e combinar tais criações, criando playgrounds de todo tamanho. mais que nunca, games serão uma amplificação externa e visível da imaginação humana…

a geração que começou a vida jogando [virtualmente, e não bola de gude] só, e depois on-line [e depois em grandes redes de conhecidos], que tem hoje entre 5 e 25 anos, é o “us” de wright. são os nós que aprenderam a jogar no modo 2 de michael gibbons [no lugar, em rede, sob demanda, no contexto, multidisciplinar, fora da escola, orientado a problemas] e estão aprendendo a fazer mundos virtuais basicamente do mesmo jeito, pois o modo 1 [na escola, sistematizado, disciplinar… burocrático] não foi onde os jogos [de todos os tipos] foram criados. e muito menos jogados. é proibido jogar, no modo 1… no modo 1, que é muito sério, jogos são brincadeiras intoleráveis.

world of warcraft patch110

as novas crianças, [que bom para elas!] terão que desbravar o mundo por si sós, pois quem não joga [muito intimamente] não vai nunca entender o “…jogos vão ser nosso meio de expressão, nossos pontos de encontro e vão nos permitir criar coisas que nem podemos [hoje] imaginar direito. os games vão nos permitir compartilhar e combinar tais criações, criando playgrounds de todo tamanho.” e muito menos vai saber especificar, analisar ou criticar, que seja, um jogo. professores, pais, tutores e quetais teriam que estar jogando spore [a sporepedia tem mais de 140 milhões de criações] e world of warcraft, que tem mais de dez milhões de usuários para discutir games de forma minimamente apropriada. no limite inferior, deveriam estar jogando nem que fosse farmville no facebook, que tem mais usuários mensais do que toda a internet brasileira. segundo algumas contas, o dobro: oitenta milhões.

alguém de 50, 60 anos, aí, pra entrar nesse mundo e ensinar aos mais jovens?… ou melhor: para aprender com eles?

e mais: estamos muito longe de ver a roda viva parar. quando a atual geração de gamers amadurecer, quando o[a] presidente do brasil for um gamer, os processos de mudança terão criado [no modo 3, 4… de então] outra turma, ligada sabe-se lá em que, e que terá as mesmas reclamações [de não ter guias, de não ser entendida e conseqüentemente valorizada] que os jovens de hoje às vezes têm. da mesma forma, haverá uns velhinhos, inclusive o presidente-gamer, achando que tudo o que “essa juventude” faz é perda de tempo.

mas é sempre assim, e isso é muito bom: a humanidade sempre se renova com os desbravadores vindo normalmente de fora do “sistema”. é lá fora, num mundo que nossas máquinas de sonhar imaginam muito bem, que reside nossa esperança…

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