nos EUA, o fim da indústria? e aqui?

este post, de fim de tarde de sexta, não é nem análise nem reflexão sobre coisas complexas que rolam no nosso mundo virtual e no substrato concreto que o sustenta, mas uma pergunta.

será que –hoje- as partes, peças, componentes e dispositivos da indústria de TICs [tablets, laptops, projetores, smartphones…] são feitos na china, taiwan, coréia e vizinhanças porque é mais barato fazer por lá ou porque não sabemos [mais] fazer estas coisas aqui?…

ligue os links a seguir pra se perguntar e refletir no fim de semana.

a amazon deve anunciar seu primeiro tablet rodando android nos próximos dois meses. e tem que ser antes do natal, e deverá ser uma máquina bem conectada com os serviços da amazon, incluindo armazenamento e talvez outros serviços na nuvem, coisa que a empresa de jeff bezos sabe fazer muito bem. mas, pra passar no teste de mercado e sobreviver, o tablet da amazon vai ter que vender muito, senão morrerá rápido, como mostra o exemplo da HP e seu touchPad, que chegou há pouco tempo, e já sumiu, tendo seu momento de glória exatamente na liquidação de despedida. e, claro, ninguém nem se lembra do KIN, o smartphone da microsoft, que nem –por assim dizer, apareceu. foram só algumas semanas de quase nenhuma venda [isto é, sem vender alguns centenas de milhares por semana, na partida] e… fim.

pois bem. como [quase] tudo o que é vendido no maior mercado do mundo, o amazonTablet não será feito nos estados unidos. em tempos de crise profunda na economia americana, com os níveis de emprego mais baixos das últimas décadas e até gente perguntando se a noção clássica de "emprego" ainda faz sentido, a pergunta que [lá] eles estão fazendo é… será que [mesmo que fosse competitivo em custo] o kindle, os iPads e o amazonTablet poderiam ser fabricados nos EUA?

a resposta, numa série de steve denning para a forbes, é que não. a capacidade de desenho, projeto e construção associada a indústrias inteiras foi transferida, por decisões tomadas ao longo de duas ou mais décadas, para o oriente. líderes empresariais, contadores, economistas, investidores, administradores, consultores… em suma, um monte de gente que deveria estar vendo muito mais do que, pura e simplesmente, os custos diretos de um produto e sua fabricação desconstruiram, paulatinamente, a indústria americana a ponto de, hoje, a tela do iPad ser essencialmente "estrangeira".

denning cita uma lista parcial de "indústrias inteiras" que sumiram do solo americano, vinda deste artigo de pisano e chih:

“Fabless chips”; compact fluorescent lighting; LCDs for monitors, TVs and handheld devices like mobile phones; electrophoretic displays; lithium ion, lithium polymer and NiMH batteries; advanced rechargeable batteries for hybrid vehicles; crystalline and polycrystalline silicon solar cells, inverters and power semiconductors for solar panels; desktop, notebook and netbook PCs; low-end servers; hard-disk drives; consumer networking gear such as routers, access points, and home set-top boxes; advanced composite used in sporting goods and other consumer gear; advanced ceramics and integrated circuit packaging…

vale a pena ler cada um dos quatro textos de denning. lendo, ou depois de ter lido, talvez valha a pena fazer umas perguntas sobre a situação aqui no brasil: 1. que gerações de indústrias já perdemos [neste nosso tempo]? 2. quais delas, no médio e longo prazo, têm maior potencial de futuro global? 3. em quantas destas temos [pré]condições humanas e materiais para tornar o país, aqui, competitivos em seus mercados, em quanto tempo? 4. e, daqui até lá, vamos fazer o que para remediar o problema de não sermos competitivos?

noutros tempos, fazer e responder tal tipo de perguntas equivalia a criar políticas industriais, coisa que parece estar mais fora de moda por aqui do que ir de polainas à praia. tomara que isso esteja mudando e que nós não estejamos confiando nosso futuro apenas a uma fábrica da foxConn a fazer, aqui, produtos [baratos?…] da apple e similares. pode ser o pior dos mundos. pois até nos EUA, o país do mercado livre, muita gente pensa que é hora de criar –lá- uma política industrial coerente e de longo prazo.

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