Este é o último dos textos da série de previsões para 2014 aqui no blog; a lista de todos os posts [inclusive este] tá bem aqui neste link. tanta coisa é ou depende de tecnologias de informação que a gente poderia escrever dezenas de textos como este. mas se você esperava um sobre big data, por exemplo, não rolou. e nem precisamos de um: big data é o tratamento de tipos, fluxos e volumes de dados aos quais não estávamos acostumados num passado recente; agora, estamos. big data é informação tratada com algoritmos e estruturas de dados [muito] complexos, que a computação parecia ter esquecido. não mais, está na ordem do dia há tempos e não é tendência nem previsão, é um fato, ponto.
outro texto que poderia ter rolado era sobre robôs: esse eu queria ter feito, até porque há muito por trás da compra da boston dynamics por google, além de coisas muito mais básicas e práticas como BAXTER e UBR-1, robôs de poucas dezenas de milhares de dólares que podem ser usados até na padaria da esquina.
mas robôs como ATLAS, acima, estão longe do brasil, país sede da próxima copa mundial de futebol de robôs [ano que vem, junto com a copa dos humanos], e parecem mais uma das revoluções que nós vamos perder. seria esta uma previsão da “classe” mais do mesmo? tipo… em 2014, o brasil não fará nenhuma ação para criar, aqui, uma base industrial para robótica, e o país continuará, nesta e em áreas associadas, importando quase tudo o que usa, a menos de sistemas que, no melhor estilo de substituição de importações, serão produzidos aqui, protegidos por uma reserva de mercado e vendidos localmente por preços estratosféricos que só farão aumentar o custo brasil. sim, isso é o mais do mesmo, e há um longo texto aqui do blog, de dezembro passado, sobre isso, onde se pode olhar pra 35 anos desse tipo de mais do mesmo e ver que no que foi que ele deu.
mas vamos deixar isso pra lá, por enquanto. outro mais do mesmo poderia ser o do fim do jornalismo. mas não é. um certo tipo de instituição investigativa e noticiosa está seriamente ameaçada de extinção; mas o jornalismo, renovado, em rede, com novas estruturas de produção, distribuição, conexão, interação e outros -e muito menores- custos, vai sobreviver. a web e as redes sociais mudam, radicalmente, o ecossistema de informação em que estamos imersos; é inimaginável pensar que não mudariam os jornais, o rádio, a TV. e contexto vai ser muito importante, aqui: quem é o “leitor”? ele escreve ou não? onde está [no mundo físico], de onde vem e pra onde vai [ou foi, no mundo abstrato e no concreto…]? e por aí vai. e isso vem, é claro, da análise de grandes volumes de dados sobre comportamentos, o que não deixa de ser big data… mas não é o data, nem o big, que interessam: é contexto.
um mais do mesmo interessante, que começa a pautar ações de empreendedores e investidores é a localidade dos comportamentos na rede. tá certo que a localidade, no caso das notícias, ainda não descobriu um caminho. centenas de milhões de dólares já foram perdidos na procura e, até agora, nada. e uma das razões é que [eu acho] o formato que PATCH tentou, pra citar um esforço, não faz sentido e não rentabilizaria notícias hiperlocais [do seu bairro, sua praça ou padaria e talvez sua empresa]. alguém vai descobrir ou inventar este formato em breve e ele deverá ser uma combinação de móvel, fixo e contexto. em rede. e muito mais do que local.
e a gente tá falando de um bocado de previsões de que não iria falar se cumprisse a premissa do título do post, que era falar de “mais do mesmo”. vamos, pois, voltar ao começo e falar disso, pra conversa fazer [um mínimo de] sentido. TICs mudam muito, e muito rápido. mas os comportamentos, dependentes de hábitos e cultura, demoram [bem] mais a mudar do que as possibilidades criadas por TICs habilitam. isso quer dizer que, pra entender o futuro, no meio de tanta mudança tecnológica, talvez seja bom usar uma versão modificada do paradoxo de hagel: no original o paradoxo é… a melhor forma de se preparar para mudanças é, primeiro, decidir o que não vai mudar. isso se aplica às mudanças na sua vida pessoal, e em contextos onde você pode [tentar] controla[r] o que vai [ou não] mudar. no mercado, em um contexto onde o efeito de suas ações é limitado ou imprevisível, a melhor maneira de se preparar para mudanças é, antes da competição, identificar e entender o que tem a menor probabilidade de mudar e melhorar sua performance nestes invariantes. e rápido, muito rápido. bem antes da tal da competição.
em todos os processos de mudança, especialmente no curto prazo, enquanto todos esperam que o mundo mude de uma hora pra outra, ele quase sempre muda… mas de tal forma que, se a gente estiver prestando atenção e tentando aprender, muito e rápido, dá pra usar [nos negócios e vida pessoal] a estabilidade que vem de mais do mesmo [agora] pra bancar as tentativas, erros e aprendizado pro daqui a pouco [ou muito…] que provavelmente vai ser [muito!] diferente mesmo.
toda previsão responsável sobre o futuro tem que englobar um mínimo de mais do mesmo, daí este último texto sobre exatamente isso. e a gente acerta, dúvida zero. mas não se engane: não, nunca pense que o mais do mesmo é pra sempre. ele é só um buffer, um anteparo entre você e o futuro. e o futuro sempre vem. e do futuro.