não me lembro de ter ouvido qualquer música de prince [ou do “artista que costumava atender pelo nome de prince”] nos últimos anos. e olha que uma trilha sonora me acompanha o dia inteiro, de hypem.com [a trilha sonora dos audioblogs] a awdio.com [o som das festas e bares do planeta], passando por tudo quando é canto, inclusive as [boas] estações da bbc e pela rádio comunitária [ou “user-generated”] openbroadcast. isso sem falar de androRadio no carro, direto do meu droid.
mas pra prince, tudo acabou. para ele, a rede não passaria de uma moda passageira, como a MTV: “The Internet’s like MTV. At one time, MTV was hip, and suddenly it became outdated.” o artista parece ter ficado lá atrás, no tempo do suporte físico para o áudio e o visual, sem entender que o “tempo do gramophone” não vai voltar. nem de qualquer outro suporte físico, aliás.
e isso não vale só pra música, mas acontece com software, por exemplo: o programa que vinha em CD para você instalar e rodar na sua máquina agora existe na forma de SaaS, software como serviço, que roda você nem sabe –nem precisa saber- onde e lhe dá mais que o mesmo resultado. mais porque não é você quem cuida de atualizações, backup, segurança de dados, performance… e tudo o mais. SaaS, ou “no software” [segundo marc benioff] é o grande vencedor da antiga batalha entre software aberto e fechado, como escrevi neste texto de 2004 [link fora do ar!]…
e a mesma revolução que matou o suporte físico para áudio e vídeo começa a acontecer, numa velocidade muito grande, para literatura, como dá pra ver claramente no caso dos textos e livros eletrônicos e seus leitores. o blog falou deste assunto neste link… e isso ainda está só começando.
por trás disso tudo há uma infraestrutura global de informação única, padrão, comum a tudo e a todos, que permite a alguém no interior de zâmbia ouvir a rádio jornal do comércio de recife, primeira na internet na américa latina, “falando para o mundo”. esta, por sinal, é a parte que prince não entendeu mesmo: a MTV pode ser tratada como se fosse uma “aplicação” sobre uma “infraestrutura” e “serviços” comuns que definem a plataforma “televisão”. a internet, por outro lado, é todo o conjunto de “infraestrutura”, “serviços” e “aplicações” que se tornou –em muito pouco tempo- uma das mais amplas e universais infraestruturas globais, assim como as redes de estradas, água, esgotos e energia.
ao contrário do que prince acha [ou melhor, delira], a internet não vai passar. mas o artista diz que… “All these computers and digital gadgets are no good. They just fill your head with numbers and that can’t be good for you…” e vira porta-voz do novo luddismo ou anarcoprimitivismo, o que for mais radical. pelo menos no que toca à produção e disseminação cultural.
a internet, claro, não está nem aí, assim como cada vez menos gente parece estar aí para prince ou para artistas com posições parecidas com as suas. no primeiro trimestre deste ano, mais de um milhão de novos nomes de domínios foram criados no mundo, elevando o total de domínios de todos os tipos para 193 milhões. não parece ser exatamente algo em extinção. ao contrário de prince…
PS: você discorda [radicalmente, inclusive] do estilo do blog?… aproveite que está passando por aqui e leia "o blog, o conteúdo e o estilo", neste link. e divirta-se.