robôs: tornando a guerra “mais segura” para humanos?

uma das coisas que está acontecendo em teatros de combate reais, enquanto nós estamos [aparentemente] ainda discutindo se compramos caças mais caros ou baratos, é o aumento de robôs nos campos de batalha. VANTs, ou veículos aéreos não tripulados, de observação ou armados, são elementos essenciais da estratégia das forças da OTAN no remoto afeganistão.

a literatura sobre robôs completamente autônomos é vasta. veja um resumo da ópera e links para mais dois textos deste blog bem aqui. e a BBC acaba de produzir um bom texto, com a palavra de especialistas e fabricantes, sobre robôs no campo de batalha, começando com uma pergunta muito complexa:

Can war be fought by lots of well-behaved machines, making it "safer for humans"?

em bom português, dá pra guerrear usando um monte de máquinas bem comportadas, tornando a luta armada mais segura para os humanos? segundo a reportagem da BBC…

That is the seductive vision, and hope, of those manufacturing and researching the future of military robotics.

…esta é a sedutora visão e esperança daqueles que estão pesquisando e fabricando robôs militares.

este blog discutiu o assunto longamente em julho do ano passado, neste link. em particular, relatamos um um seminário em asilomar, califórnia, onde alguns dos principais especialistas em inteligência artificial do planeta concluiram que

robots that can kill autonomously are either already here or will be soon…

já existem ou existirão, muito em breve, robôs que capazes matar de forma autônoma. em português bem claro, estamos falando de máquinas capazes de selecionar um alvo que atenda seus objetivos [supostamente definidos por humanos] e eliminá-lo, sem que para isso seja preciso intervenção humana.

pra ver as consequências de tais possibilidades, sugiro que você volte no tempo e leia este texo, do blog, sobre robôs militares.

image até porque as coisas podem ficar completamente fora de controle com sistemas autônomos do tipo EATR, iniciais para energetically autonomous tactical robot, pronunciado como “eater”, traduzido como “devorador” e mostrado no esquema acima. EATR é um robô da RTI financiado pelo pentágono, que literalmente come “biomassa” para usar como fonte de energia. segundo a página da RTI

The system obtains its energy by foraging – engaging in biologically-inspired, organism-like, energy-harvesting behavior which is the equivalent of eating. It can find, ingest, and extract energy from biomass in the environment (and other organically-based energy sources), as well as use conventional and alternative fuels (such as gasoline, heavy fuel, kerosene, diesel, propane, coal, cooking oil, and solar) when suitable.

ou seja, a coisa come como se fosse um organismo vivo. a RTI garante que o EATR é “vegetariano”… mas seu inventor, robert finkelstein, disse à BBC que ele consumiria "organic material but mostly vegetarian", o que quer dizer outra coisa: material orgânico, a maior parte do qual vegetariano. a verdadeira prova dos nove é você, leitor [eu me conto fora desta], ficar por perto pra ver se EATR se controla perto de “biomassa” ou não passa de um pitbull mecatrônico.

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pelo que se vê, sabe e se imagina, a corrida dos robôs de guerra só está começando. nas democracias que vivem em armas, como EUA e reino unido, o custo político de soldados voltando pra casa em caixões é muito alto e a alternativa “não tripulada”, autônoma ou não, é o sonho de quem quer lutar uma guerra [na sua opinião] “limpa”. veja este depoimento, também à BBC, de mark jenkins, piloto da RAF que combate na região do afeganistão: .

"I’ve got a 45-minute drive home. And then by the time I’m home, I’m kind of straight into family life."

jenkins é piloto de VANT e luta de uma base em nevada, a 13.000km de onde seu avião está. cumprida a missão, ele dirige 45 minutos de volta à sua residência e, nas suas próprias palavras, uma vez em casa, volta direto e todo dia para a vida em família.

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isso é que é guerra segura. pra ele, jenkins, e seus colegas, como o que está no sistema de controle remoto da imagem acima. para os civis afegãos e paquistaneses que vez por outra viram alvo dos VANTs da OTAN, a guerra é um verdadeiro inferno. segundo fontes bem informadas, entre um quarto e um terço dos mortos por VANTs na ásia central são civis. eu adicionaria um “por baixo” a estas proporções. o número real de mortos civis pode ser bem maior. e quanto a uma guerra segura, pra quem e por quanto tempo… bem, pense e tire suas próprias conclusões.

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