Um número –150-, estabelecido por um inglês, especialista em comportamento de primatas [robin dunbar], é uma função da capacidade do neocórtex, e diz da nossa capacidade de manter relações interpessoais estáveis com um grupo de indivíduos. ou seja, o número de dunbar é um tipo de limite para a sua [e minha] capacidade de relacionamento com outros humanos. e é algo biológico, básico.
um estudo que acaba de ser publicado pela royal society começa dizendo que a complexidade social emerge, essencialmente, dos esforços individuais para criar soluções compartilhadas para manter e propagar a vida. uma boa definição, pra começar um texto que trata das redes sociais de baleias e golfinhos e que pode ser aplicado, em sua essência, a humanos como eu e você.
o resumo da história está nas imagens a seguir. à esquerda, logo abaixo, está a ideia de que as características individuais influenciam a estrutura social [i] e o contexto cultural [ii]; à direita, a ideia de que redes sociais são processos coevolucionários, onde as características individuais, as conexões entre indivíduos, a estrutura das sociedades e os fluxos de informação entre os indivíduos [a cultura e aprendizado] evoluem ao mesmo tempo e influenciam, o tempo todo, uns aos outros.
o gráfico acima esquematiza sociedades em que agentes formam pares e em que há transmissão situada de informação em contexto. como a nossa, humana, ou como os cetáceos [baleias e golfinhos], cujas interação, relacionamentos e estruturas são muito complexos.
a imagem abaixo descreve graficamente a influência das estruturas sociais e dos grupos nas propriedades das redes e na transmissão de informação entre agentes, nos grupos e nas sociedades. sem entrar em muito detalhe [que fica para você ver e se divertir, pensando], sociedades onde não há estrutura [i.e., onde todos estão conectados] favorecem a conectividade [a seta para cima na linha 1, coluna 1] mas não a formação grupos [l3/c1]. como é o caso das sardinhas, que não por acaso são um dos alimentos dos golfinhos.
abaixo, na primeira linha, a especialização dos indivíduos: quanto maior, mais à direita; na segunda linha a estratégia de formação de redes; de uniforme, onde as conexões não têm preferência e podem ser com todos, a altamente modular, em que as preferências de formação de redes são muito bem estabelecidas. na linha seguinte, a terceira, as redes formadas em cada caso: de totalmente aleatórias, na primeira coluna [pois ninguém tem preferência alguma, nem de comportamento nem de formação de rede] a modular, onde os indivíduos são muito especializados e os padrões de conexão são bem definidos. a sequência de imagens seguinte, a b), deriva de a) quando se adiciona conformismo, ou seja, quando há uma tendência, da maior parte dos indivíduos, de adotar o comportamento mais comum. isso vai implicar no estreitamento do repertório de comportamentos e na diminuição das escolhas possíveis nos processos de formação de redes, com as consequências que são mostradas nas últimas linhas… onde vemos os grupos de especialistas sem uma conexão, sequer, uns com os outros.
aqui pra nós, a teoria é sobre cetáceos… mas que você já viu parte desta história na sua empresa e nos grupos de que você participa… você viu. e o número de dunbar, lá do começo da nossa conversa, pode ser revisto, para as redes sociais da vida e das empresas, na forma da tríade 5–50–150. 5 [mais ou menos 2] são as pessoas em quem você pode confiar para qualquer parada, pois sabe qual será a reação de cada um a qualquer acontecimento, de tão próximos que vocês estão. 50 [mais ou menos 10] é o maior grupo de pessoas que você pode articular, diretamente, para participar de um esforço que vai tirá-los de sua norma, que vai precisar de um tipo de envolvimento que eles normalmente não dedicariam à execução de uma tarefa. e 150 [mais ou menos 10] é o maior grupo para o qual você sabe [mais ou menos] o que eles estão fazendo e eles, por sua vez, sabem [e confiam, mais ou menos] dos seus planos [em detalhe suficiente para agirem com e por você na maior parte dos casos]. pense: quem são seus 5-50-150?…
golfinhos nadam em grupos [pods] de 10 a 30. mas, em fevereiro deste ano, um grupo de 100.000 foi avistado na costa da califórnia. algo de errado no mar? não se sabe.
por fim… em so long and thanks for all the fish, livro douglas adams, o título é a mensagem despedida que os golfinhos deixaram para a terra, ao saírem do planeta logo antes dele ser demolido para a construção de uma rota espacial. golfinhos, os daquelas conversas submarinas que nós não entendemos, capazes de terem adams, vai ver, na rede deles. e o autor [quem sabe?…] sabia do que estava falando.
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este texto é o quarto de uma série de cinco sobre novos resultados científicos sobre redes sociais aqui no blog. pra ver tudo, pela ordem, clique nos links abaixo. e boa leitura.