[este é o primeiro de uma série de quatro textos sobre inovação em educação; links pra todos? primeiro, segundo, terceiro e quarto. é só clicar.]
vez por outra o blog resolve refletir sobre educação, especialmente aqui no brasil. a última intervenção foi por uma universidade revolucionária, uma entrevista dada à revista novas ideias, da UNI-RN. hoje, e nos próximos capítulos [pra conversa não ficar longa demais] é sobre inovação em educação.
a pergunta-título do acontece educação, evento do C.E.S.A.R e instituto singularidades, em são paulo, era simples e muito complexa ao mesmo tempo: é possível inovar em educação? eu fui um dos responsáveis, junto com muita gente boa, pelas provocações por lá. e o evento, sabiamente, não permitiu apresentações visuais. mas eu tomei umas notas pra guiar minha fala, e é a partir delas que este texto foi escrito. eu anotei dez pontos, abordados em sequência, numa intervenção de vinte minutos.
o primeiro é…
claro que é possível inovar em educação. a menos que o sistema ao redor seja absolutamente proibitivo, o que quer dizer, na prática, uma ditadura, sempre é possível inovar em qualquer cenário. inclusive no brasil. a gente, por aqui, às vezes se esquece de conquistas inovadoras como o estado democrático de direito, uma arquitetura e organização social que conquistamos a duras penas e que está aqui, conosco, há 30 anos. pode não ser a melhor democracia do mundo, mas temos as instituições democráticas funcionando razoavelmente bem por três décadas consecutivas, pela primeira vez, em toda a história do brasil. parece pouca coisa, mas não é.
parte da infraestrutura da sociedade e da democracia é a educação. de mais de uma forma, o futuro da democracia e da sociedade estão associados à nossa capacidade de inovar em educação. como os exemplos daqui [em pequena escala, de escolas, cidades e parte do sistema educacional de estados] e do mundo, em larga escala, mostram que sim, é possível inovar em educação, não há porque duvidar da possibilidade de mudar o sistema educacional. mas, mais do que possível, é necessário inovar na educação brasileira. e muito.
as evidências de todos os setores e cenários da economia e da sociedade, da violência às doenças e até a baixa produtividade [na economia] e pouca efetividade na representação democrática apontam para a má qualidade da educação como um dos principais, se não o principal motivo da baixa performance de muitas –senão todas- facetas significativas da sociedade brasileira. logo, não só é possível, mas é necessário inovar na educação brasileira.
acontece que muita gente –e muitos de nós, que estamos envolvidos em educação e inovação, nela- não percebe que a solução dos problemas de educação envolve muito mais do que professores, alunos, salas de aula, escolas e materiais educacionais. chegamos ao ponto de haver quem ache que a introdução de uma ou outra tecnologia [no sistema] mudaria a educação radicalmente. mais esquisito ainda, há quem ache que explicações dadas num quadro negro, com giz colorido [qual minhas aulas na antiga primeira série, na década de 60], no youTube, são uma revolução. a ponto de governos e fundações de renome apostarem muito no papel supostamente revolucionário de banalidades como estas. mas –e ainda bem- há uma explicação por trás de tais entendimentos. a vasta maioria dos agentes de inovação em educação não costuma se perguntar se a inovação [local, em métodos, processos e ferramentas, por exemplo] é suficiente para mudar o sistema educacional.
e aí é onde o bicho pega. educação, em qualquer lugar minimamente organizado [e o brasil é um deles] é um sistema. e isso tem consequências gigantescas sobre a possibilidade de inovar, em educação, quando se pensa em educação em larga escala, no sistema como um todo. um sistema é um conjunto de princípios e outro, de instituições, que faz com que os princípios sejam seguidos e que tudo o que vem dos princípios [formais ou informais, regidos por leis ou não] seja cumprido, na prática, no conjunto de organizações que faz parte do sistema.
todos nós, brasileiros, sabemos que o sistema brasileiro [pelo menos o sistema vigente no brasil hoje] é um dos mais complicados, confusos, corruptos e [em boa parte por causa destes três] caros do mundo. estes 4Cs fazem com que quase qualquer um que queira inovar em qualquer coisa, no brasil [como país, como um sistema de sistemas] deixe o todo para lá e passe a se preocupar apenas com pequenas partes dele. entre os qualquer um, estamos falando de partes inteiras do MEC, das secretarias estaduais de educação e, mais explicitamente, das maiores fundações, institutos e ONGs [brasileiras ou não] que tentam pensar e fazer inovação em educação no brasil.
como o todo é complicado demais e quase impossível de ser tratado no curto e médio prazo, partes do estado e quase a totalidade das instituições privadas simplesmente ignora o sistema e tenta justificar sua existência com ações e resultados de curto prazo… e baixo impacto, pilotos que servem de exemplo e ganham prêmios nacionais e internacionais mas que, por causa disso e por outro lado, jamais terão a largura e profundidade para resolver, minimamente que seja, o caos educacional do brasil.
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breve, neste mesmo horário e canal, os próximos capítulos. se você quiser saber quando,
tudo o que acontece aqui é anunciado no meu twitter, @srlm. siga. e até lá.