pra inovar, é preciso liberdade. é preciso tentar. errar, às vezes muito, e aprender com os erros. porque erros haverá. de preferência, têm que ser erros rasos, rápidos e muitos, pra tornar mais suave o tentar-errar-aprender. sem espaço, sem território para errar e, quem sabe, depois acertar, não se inova nunca. por medo. ou por amarras. abaixo, um espaço, aberto, livre e, de certa forma, desimpedido.
acima, a rua XV de novembro, em taperoá, PB, sábado passado, em pleno dia de feira na cidade, a três quarteirões desta foto. clique na imagem pra ver outra, de maior resolução, onde você vai descobrir que o pessoal nas motos não usa capacete. isso não é inovação, claro, é falta dela.
e não é a falta do produto no mercado, porque inovação tem a ver com o produto mas não é o produto. inovação é a mudança de comportamento de agentes, no mercado, como fornecedores e consumidores (de qualquer coisa). simples assim. inovação não é idéia ou invenção, ciência, tecnologia, pesquisa ou desenvolvimento. muito menos inovação é algo essencialmente tecnológico. algumas das maiores e mais importantes inovações de nossos tempos são mudanças de modelos de negócio. e nas mudanças dos costumes, como proteger a cabeça com um capacete. em muitos lugares, tal costume não chegou, até porque não há, por lá, um sistema [outra inovação] para esclarecer, educar, incentivar e cobrar seu uso.
em taperoá, algumas regras do trânsito ainda não pegaram. isso significa que há um espaço para tentar, errar, aprender e acertar, por lá, muito mais amplo do que em outras partes do brasil. o que nos leva à imagem abaixo, com a feira atrás da foto:
à esquerda, um motoqueiro, de boné [clique na imagem pra ver os detalhes]. nada de capacetes por aqui. à direita, depois de ter passado célere pelo fotógrafo, um bólido até esta altura não identificado, mas que tinha jeitão de moto transformer, como se partes de várias delas tivessem entrado em acordo operacional para fazer outra coisa.
que coisa?… abaixo, o JJL2009, seu projetista, construtor e único piloto de testes [e um curioso tentando entender “o que é que é isso, mesmo”?]:
josé júnior luísa, nosso personagem, pegou um motor de 125cc muito usado, desenvolveu um chasis “tubular”, acoplou quatro rodas de moto [com calotas de auto], um sistema de tração traseiro a corrente…
…painel, pedais, bancos, chave de ignição e alavanca de câmbio como se fosse carro e, segundo o próprio, depois de três anos de experimentação, testes, acertos e desacertos e muita labuta, hoje já dá pra usar seu veÃculo no dia a dia de ida-e-volta ao trabalho, que fica a quase 10km de casa. além de servir como confortável meio de transporte, o JJL2009 serve para puxar um reboque que transporta leite da fazenda para a cooperativa.
claro que o JJL2009 não passa em nenhum dos testes pelos quais os carros que estão certificados para rodar por aàsão obrigados a passar. nem o blog acha que deveria passar; nem este texto, apesar de ilustrado pelo carro de júnior, é sobre automóveis.
estamos falando de espaço para inovar, nas empresas, no governo, na sociedade. e a metáfora [bastante real] de taperoá, suas “leis” de trânsito e o JJL2009 servem para refletirmos sobre os espaços em que vivemos nos negócios, por exemplo. no seu, ou no que você trabalha, há espaços como taperoá, onde dá pra experimentar com um JJL ou algo parecido para tentar inovar? não de brincadeira, mas num serviço, performance ou produto real, como o JJL2009, usado muito a sério, por júnior, para trabalhar?…
se não houver, há duas coisas a fazer. primeiro, descubra se dá pra criar um espaçoo de inovação como as ruas de taperoá. isso pode gastar um bom número de perguntas a vários dos poderes que comandam e controlam seu negócio e muita criatividade sua e de muitos mais. se der, crie, ou ajude a criar, mesmo que limitado seja e, todo dia, lute para manter, porque vai haver sempre uma galera tentando enquadrar o espaço criativo, assim como num futuro nem tão distante assim, as leis do trânsito, com força total, chegarão a todos os taperoás que há no brasil.
se não houver e não der para criar um espaço de e para inovação, há uma lembrança essencial a considerar. nem todo negócio precisa ser inovador, mesmo em mercados que demandam inovação, às vezes o tempo todo. empresas ortodoxas e pouco adaptáveis podem sobreviver por anos a fio, até um dia tomarem o caminho, quase nunca indolor, do grande cemitério dos CNPJs, destino ao qual lhes terá levado a falta de competitividade. justamente porque eram ortodoxas, muito pouco inovadoras…
sabendo disso, pense em que tipo de empresa você está. se ela não tiver pelo menos um taperoá pra inovar… prepare-se para ver em breve, por lá, um por-do-sol como o da rua XV, lá do meu taperoá, em pleno outubro de primavera parecendo janeiro de verão. tomara que não seja, também, seu por-do-sol pessoal. e boa sorte.