Dizem que o capital de pobre é tempo. O do empreendedor, também. Cada dia que passa sem que tenha havido algum progresso na direção daquele novo negócio inovador de crescimento empreendedor que você está começando… é um dia perdido. Nos últimos 20 anos, eu sempre estive envolvido com algum tipo de iniciativa que tinha objetivos e metas, algum recurso e muitas restrições e, acima de tudo, pouco tempo pra chegar onde se queria. Resultado? Faz uns dez anos que resolvi por meu tempo um pouco mais em ordem [minha agenda pessoal é um caos…] e tomei um bocado de decisões, que incluem situar o infinito temporal daqui a 1000 dias. Poderiam ser, também, poéticas 1001 noites.
Minha escala começa em segundos, passa para horas e acaba em dias, sempre em potências de dez, e define quanto tempo se gasta -que eu gasto- com as coisas da vida, rede, inovação e empreendedorismo. Um segundo é tempo máximo para uma página ou um app carregar, pra um treco qualquer que a gente usa receber uma piscada de atenção e começar a funcionar. É também o tempo que gasto varrendo o conteúdo, na diagonal, para ver se merece dez segundos de atenção. Dez segundos é o tempo, máximo, dedicado a cada emeio que passa por todos os filtros: a trezentos deles por dia, no meu caso, é uma hora de conversa com o mundo, clicando mais delete do que eu queria, gastando ao invés de investindo tempo… e ganhando uma lesão de esforço repetitivo. Mas, à falta de uma solução melhor…
Dez segundos é o que se gasta pra chamar atenção de alguém pra alguma coisa: se os primeiros dez segundos não seduzirem, passa-se para o próximo, que tem outros dez para introduzir uma proposta de solução de problema que crie valor. Se estiver em papel ou na tela, são dezsegundos no primeiro parágrafo do resumo executivo e, se fizer sentido, mais cem segundos para se entender o problema, proposta, negócio, ou seja lá o que for. É capaz de ser algo espetacular, vez por outra aparece um. Aí, são mil segundos de atenção. Parece muito, mas mil segundos são “só” quinze minutos. Ao mesmo tempo, é muito pouco e há quem diga que não dá pra dizer ou fazer nada em tempo tão escasso. Se este é o seu caso, é bom mudar de opinião; comece por ver as palestras do TED e note que elas têm menos de 20 minutos, inclusive a minha, sobre educação. E todas, certamente a minha, poderiam ter no máximo 1000 segundos, que são 16.67 minutos.
Ainda por cima, se lembre que, no negócio de montar um negócio, nunca vão lhe dar mais de cinco minutos pra você dizer a que veio. E 3×102 segundos é muuuito tempo: duvido que, sem ter estudado e se preparado muito para falar sobre seu negócio, você precise de tanto tempo. Ah, sim: fique sabendo que a maioria dos eecutivos de grandes negócios consegue explicar toda a proposta de valor de seus negócios, incluindo mercados, receitas, riscos, estratégias para o futuro… em cinco minutos. E que há uma correspondência entre Albert Einstein e Niels Böhr que resume tudo isso, onde o primero escreveu para o segundo… “Caro Niels, perdoe por esta carta tão longa; não tive tempo para torná-la curta”. E logo pra Bohr, que tinha uma tendência a escrever muito e disputar o significado de cada palavra ou frase ad aeternum.
Uma hora é o tempo destinado a qualquer parte de qualquer coisa, por dia. Se não couber em uma hora, outro alguém [que não eu] terá que fazer. Aliás, qualquer reunião de mais de uma hora é um inferno, as pessoas ficam se repetindo e, como ninguém dedica mais de uma hora a nada, mesmo, quem se lembra mais do que aconteceu há mais de uma hora?… Isso torna as reuniões ainda mais infernais, pela necessidade de se repetir o passado para os que estavam dormindo, nunca acordaram ou, simplesmente, estavam, na nossa hora da reunião, dedicando sua hora a outras coisas mais produtivas…
Dez horas é tempo suficiente para fazer alguma coisa de útil: as coisas que podem ser feitas podem começar a ser feitas em dez horas. Ou então não vão ser feitas nunca. Dez horas é um dia, menos nos startups de TICs, onde o dia começa as 8 da manhã e acaba à meia noite ou mais, quase zipando dois dias em um, eficiência e economia típicas dos nossos tempos.
Depois de um dia vêm dez, mais que suficiente para ter uma ideia, desenhar uma rede de valor pra ela, convencer as pessoas que serão seu primeiro time e criar o startup que vai resolver o problema e “mudar a economia de uma vez por todas”. Aliás, muitas das empresas que você conhece [e que, como vimos, só tiveram 10 segundos de atenção inicial] não levou nem dez dias entre ideia e solução. Por isso mesmo que tanto investidor jogou dinheiro no mato: na ânsia de pegar os melhores negócios, ouviram muita gente por mais de dez segundos e se contaminaram pelo vírus mutatis mundi, que tem como consequência uma vontade irresistível de torrar dinheiro.
O próximo deadline são cem dias: isso é pouco mais do que os três meses usados para aferir as empresas que têm ações na Bolsa, o “quarter“. Cem dias, onde solidão é a última coisa que você vai conseguir se estiver pilotando um startup, é o prazo prático para mostrar que sua brilhante ideia pode levá-lo, e ao investidor, a algum lugar. Ou isso ou…
Finalmente, o infinito: nele, ou em 1000 dias [o que acontecer antes], se seu negócio ainda existir [lembre-se, 39% morrem em dois anos!], pode estar em dois estágios. O pior caso é estar faturando perto de 1 milhão por ano: mesmo que esteja dando algum lucro, você ainda tem um negócio de subsistência e provavelmente não irá muito mais longe. Não deveria nem ter passado dos cem dias mas, já que chegou até aqui, venda. Rápido. E comece de novo ou se lance num novo negócio, como dar cursos de 100 minutos sobre como ficar rico “com apps” ou com a “nova classe C”. E interesse os alunos logo no começo da primeira aula… lembre-se de que eles só vão lhe dar, no máximo, 100 segundos para decidir se o curso vale a pena ou não. Se confiar no seu taco, proponha a todos “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. Funciona.
No melhor caso, seu negócio mudou o mundo em 1000 dias e é bem capaz que você esteja passando a vida em aviões e celulares, gastando 1000 minutos por dia em reuniões -a maioria com gente estranha, às quais você diz os mesmos primeiros dez segundos de porque estamos aqui, os mesmos 100 segundos do que faremos depois, enquanto reza para N. S. do Perpétuo Socorro, ou um mega-temporal em São Paulo, o que chegar mais rápido, acabar a reunião antes do relógio bater os 10000 segundos…
Mas não precisa ser assim. Se você mantiver, por muito tempo, foco, se alavancar suas ações, desenvolver um time de gente muito engajada e processos de responsabilização que mostrem o que cada um tem que fazer e como o todo os acompanha, de forma transparente e dedicada, você vai ter tempo de se dedicar ao que realmente interessa.
A primeira coisa que deveria lhe interessar, por sinal e o tempo todo, era: como é que você, empreendedor, investe seu tempo?