todo mundo que trabalha com redes sociais na web sabe que grupos de pessoas que já são próximas por alguma razão tendem a ser vizinhas no mundo virtual, se tiverem uma chance. a noção de proximidade, fora do mundo virtual, pode ser cultural, de língua, de esporte ou o que mais você pensar que possa ser “próximo”. formação de quadrilha online, em rede social, deve ser raro. a rede espaço-temporal de conexões e conversações dos leitores não verá [ou tem poucas chances de ver] uma articulação para o mal que envolve… pessoas que não se conhecem, nunca se viram pessoalmente, não compartilham nada, nenhuma relação no mundo concreto das cidades, casas, bares, escritórios.
e o mesmo, claro, vale para o bem, com raríssimas exceções, como catástrofes. quem doa recursos para um terremoto na escala e impacto do haiti pode não ser um doador de tempo e energia [em rede] para resolver os problemas de usuários crônicos de drogas pesadas nas metrópoles brasileiras.
agora, um estudo [financiado pelo exército americano] descobriu que a proximidade física tem um sério impacto na amizade virtual. usando dados de quase 400 mil usuários de gowalla, rede social móvel que competia com fourSquare, comprada [e fechada] por faceBook em 2012, pesquisadores mostraram que a amizade em rede decai quase exponencialmente quando a distância física entre os usuários aumenta, como mostram as curvas da figura abaixo.
um bom número de pessoas consegue manter um relacionamento virtual mesmo distantes até 1.300Km uns dos outros, no universo que era representado por gowalla. no brasil, como se vê na amostra de 100 mil check-ins abaixo, gowalla não era significativa e pode ser que a distância-limite para “manutenção de amizades” seja bem menor em cenários de maior custo de mobilidade física [como no brasil, áfrica…].
em 2010, um estagiário de faceBook havia usado dados de amizade online de 10 milhões de pares de amigos para fazer um mapa mundi onde os lugares são tão mais claros quanto as conexões que saem e partem de lá. o resultado está na figura abaixo e mostra, sem os detalhes do estudo que acaba de ser publicado, que apesar de conectar gente no mundo inteiro, faceBook [e redes sociais de proximidade, de qualquer tipo, como ele] faz muito mais por você, seus vizinhos e pessoas de quem você gosta e mora perto do que melhorar as relações entre o bairro do monteiro, em recife, e gangnam, em seul.
moral da história: da próxima vez que chegarem com a conversa de que as redes sociais afastam as pessoas, que os relacionamentos ficam mais frios e distantes, mencione as referências deste texto e diga que muito pelo contrário: há evidências de que a proximidade das pessoas, no mundo físico, é levada para o mundo virtual e que redes sociais são importantes no aumento da intensidade dos relacionamentos próximos e na manutenção das amizades até uma certa –e grande- distância. e fim de papo.