“a política, quando realmente nos inspira, oferece uma nova visão do futuro”. a frase abre a introdução do relatório “To tackle the challenges of tomorrow, young people need political capital today…” [ou AN ANATOMY OF YOUTH], escrito por celia hannon e charlie tims para a demos, com a participação de gente como danah boyd e zygmunt bauman [de quem você pode ver uma entrevista a maria lúcia garcia pallares-burke neste link].
o que o relatório tenta descobrir é como os jovens britânicos [12% da população do reino unido, em 2007, tinha entre 16 e 24 anos de idade] querem e podem da vida e o que farão do futuro, num país onde, daqui a duas décadas, os maiores de 65 anos serão duas vezes mais, em número, que os “jovens”.
no brasil, costumamos pensar que não temos este problema; mas nossa população começa a envelhecer rapidamente e a pirâmide populacional dos anos oitenta [vermelho, abaixo] já mostra, hoje [laranja, abaixo], uma “barriga” de idade que vai nos levar a uma situação similar a dos países mais desenvolvidos do ponto de vista de distribuição etária da população. o que não deveria ser nenhuma surpresa, já que estamos simplesmente, no tempo, copiando seus modelos de desenvolvimento e evolução social.
dentro de muito pouco tempo [ou agora?…] o que teremos que gastar para prover os aposentados estará minando, seriamente, os investimentos públicos que seriam necessários para garantir mais e melhores possibilidades de futuro para os jovens. mas isso é outra história; o interesse do blog se volta para os capítulos do estudo que tratam da juventude em rede. em “owning a digital identity”, danah boyd observa que…
Privacy is not dead among teenagers, but it is being realigned. Historically, young people had to go out of their way to make something public; spreading rumours widely was possible but not always easy. Today, sharing publicly is often the default. Instead of thinking about what to make public, today’s teenagers think about what to make private.
o mesmo parace ser verdade também no brasil: ao invés de considerar o que compartilhar, o que está em discussão entre os jovens é o que manter privado; o “novo” padrão, para os “jovens” é compartilhar tudo. isso muda muita coisa e tem impactos de porte na [por exemplo] atitude em relação à disponibilidade e uso de mídia na web. desde que a rede é rede, os “jovens” sabem que copiar arquivos protegidos por copyright, sem licença, é ilegal, [88%, neste estudo de 2004…] mas não estão nem aí pra isso: no mesmo reino unido desta discussão, dois terços dos jovens copia música da rede, todo dia.
o governo [britânico, e muitos outros] vai tentar apertar com mais legislação punindo download ilegal… mas o efeito será nulo, porque ídolos dos “jovens”, eles próprios jovens como liam gallagher, ex-oasis, saem dizendo [sexta passada] que “não estou nem aí pra cópia ilegal de música online” e, logo depois, liga a metralhadora giratória contra seus pares que reclamam disso, usando a linguagem do seu tempo de “jovem”:
“Downloading’s the same as what I used to do – I used to tape the charts of the songs I liked [off the radio]. I don’t mind it. I hate all these big, silly rock stars who moan – at least they’re fuckin’ downloading your music, you c*nt, and paying attention, know what I mean?”
attention. atenção. será que todos os autores e donos de copyright estão prestando atenção e entendendo o que gallagher está dizendo?
atenção era o que deveríamos prestar, todos, também, à abertura do texto de zygmunt bauman no capítulo sobre “belonging to changing communities”, do relatório, onde o filósofo do tempo e da modernidade “líquidas” alerta:
Young people emanate anxiety, restlessness and impatience as they confront an apparent abundance of chances, and the fear of overlooking or missing the best among them. Idols to watch and fashions to follow are as profuse as they are short-lived. Chances pop up and disappear with little or no warning, and the rules of the game are changed before the player had time to finish.
ou… os jovens emanam ansiedade, desassossego e impaciência à medida que confrontam uma aparente abundância de oportunidades e têm medo de deixar passar ou perder as melhores entre elas. ídolos e modas, a seguir e usar, existem em tanta profusão quanto em brevidade. alternativas surgem e desaparecem com pouco ou nenhum aviso e as regras do jogo mudam antes mesmo que o jogador tenha tempo de chegar no último nível.
resumo? nunca antes [mesmo!] na nossa história nenhuma infraestrutura tecnológica, de negócios, usos e costumes evoluiu tão rapidamente como a internet e a web. e não foi por causa de lula ou de um governo do PT, claro.
tentar prender a fluidez deste nosso tempo em regras de uma outra era é causa perdida e esforço jogado fora, porque a velocidade da mudança só tende a aumentar, tanto no que diz respeito a coisas tópicas [e irrelevantes, no contexto mais amplo] como downloads ilegais quanto nos mecanismos de participação de mais gente, e muita gente jovem, nas definições do que o planeta, e suas economias e sociedades, serão.
é só questão de tempo, o pouco tempo entre o agora e quando os jovens descobrirem o capital político que detêm num mundo em rede. por sinal, vêm aí as eleições…